Pesquisadores da UFC oferecem pele de tilápia para tratar vítimas de explosões no Líbano

O material pode ser utilizado no tratamento de queimaduras. Equipe do projeto tenta sensibilizar autoridades do País para enviar o material para Beirute

Legenda: A pele da tilápia é usada como curativo biológico e temporário no tratamento de queimaduras

Um grupo de pesquisadores do Projeto Pele de Tilápia, da Universidade Federal do Ceará (UFC), realiza uma mobilização para sensibilizar as autoridades brasileiras para viabilizar o envio de todo o estoque de 40 mil cm² de pele de tilápia para ajudar no tratamento de queimaduras das vítimas da explosão que deixou cerca de 5 mil feridos e mais de 100 mortos, em Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4).

O trabalho é realizado no Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento de Medicamentos (NPDM), que tem coordenação de Odorico de Moraes.

Para poder conseguir encaminhar o estoque de pele de tilápia do Brasil para o Líbano, é preciso que haja um consenso entre as autoridades dos dois países, conforme explica Felipe Rocha, biólogo e pesquisador do projeto.

“Como é um material de pesquisa, os ministérios da Saúde dos dois países precisam se contactarem e autorizarem o envio e o uso. Mas a pesquisa já está bem avançada e os resultados de efetividade de efeito já são comprovados e publicado em artigos nacionais e internacionais”, disse.

Tentativa de ajuda internacional

Esta não é a primeira vez que os pesquisadores tentam enviar o produto para o exterior. De acordo com o também pesquisador Carlos Roberto Paier, em 2019, a equipe tentou viabilizar o envio da pele da tilápia para ajudar vítimas de um acidente ocorrido na Colômbia, mas houve restrições sanitárias daquele país, o que acabou inviabilizando a exportação.

A pele da tilápia é um produto experimental, ainda não autorizado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), motivo pelo qual o envio do material ainda é burocrático.

“É preciso ter uma empresa interessada em fazer a transferência da tecnologia. Se a empresa adquirir essa tecnologia e passar a produzir a pele da tilápia industrialmente, o produto poderá ser comercializado e passará a ser fiscalizado pela Anvisa”, esclareceu.

O tratamento de queimados já é realizado com o uso da pele humana, mas o estoque baixo e as complicações impostas pela pandemia da Covid-19, torna o processo bem mais caro, de acordo com Paier. “Para se ter uma ideia, no Brasil só existem dois bancos de pele humana, em São Paulo e no Rio Grande do Sul”, conclui.

Potencial de regeneração

Estudos clínicos realizados em mais de 350 pacientes, revelaram que a pele de tilápia tem alto potencial de regeneração, abrevia a dor do paciente, além de reduzir a troca de curativos e os custos operacionais clínicos. O seu uso é indicado para tratamento de queimaduras de 2º e 3º graus.

Segundo um dos coordenadores da pesquisa, Edmar Maciel, o tratamento por meio da pele de tilápia funciona como um curativo temporário e evita danos como contaminação pelo contato do ferimento com o meio externo.

“Ele age como curativo temporário que evita a troca de curativo, reduz a perda de líquido e a contaminação do meio externo para dentro da ferida. Dependendo da profundidade da queimadura a recuperação pode acontecer em um intervalo de 2 dias a até um mês e meio”, esclareceu.

Tratamento com a pele da tilápia

A princípio, a pele da tilápia foi utilizada para tratar vítimas de queimaduras. A técnica para a recuperação desses pacientes, desenvolvida pela UFC, chegou a ser exportada e usada para curar queimaduras de ursos na Califórnia.

Também houve sucesso na aplicação em cirurgias ginecológicas, técnica idealizada pelo médico Leonardo Bezerra, professor da UFC. No caso mais recente, o material foi usado em um procedimento inédito para reconstrução vaginal de uma mulher transexual, realizado na Unicamp, em Campinas (SP). Já no Ceará, os procedimentos são realizados em parceria com a Maternidade-Escola Assis Chateaubriand (Meac).

No Ceará, cirurgias de reconstrução vaginal com a membrana do peixe já foram realizadas em mulheres com síndrome de Rokitansky, agenesia vaginal ou câncer pélvico.

A Agência Espacial Norte-americana (Nasa), como parte do projeto Cubes in Space (Cubos no Espaço), fará testes e enviará amostras da pele do peixe, utilizada especialmente em reconstruções da pele humana, como em casos de queimaduras.

Explosões no Líbano

As explosões na região portuária de Beirute deixaram pelo menos 135 mortos e cerca de 5 mil feridos, segundo balanço desta quarta-feira (5).

No local da explosão, foi encontrada uma carga de nitrato de amônia, que é usado em fertilizantes e em explosivos. O governo libanês culpa o armazenamento irregular do material como causa da tragédia.

arte

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