Planalto vê CPI do Óleo como represália de Maia

Josias de Souza

No Planalto, a decisão de Rodrigo Maia de autorizar a instalação da CPI do Óleo foi interpretada como uma retaliação do presidente da Câmara. Apresenta-se uma causa inusitada para a hipotética represália: ciúmes. Nessa versão, a proximidade de Jair Bolsonaro com o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, provocaria dores no cotovelo de Maia.

Na Câmara, quem convive com Maia acha que a suposição do governo não faz nexo. Para sentir ciúmes, o deputado precisaria amar o presidente. E não é amor o que Maia sente pelo capitão. Bem ao contrário. De resto, a CPI foi liberada graças a um imperativo regimental.

Requerida pelo deputado João Campos (PSB-PE), a investigação parlamentar dependia do apoio de 171 deputados. Obteve 267. Uma lambuja de 96 assinaturas. O regimento exige clareza na identificação do alvo da investigação. Nada pode ser mais claro do que o óleo escuro que chega às praias, sobretudo no Nordeste.

De resto, o regimento proíbe o funcionamento simultâneo de mais de cinco CPIs. No momento não há nenhuma CPI exclusiva da Câmara. Ou seja: ainda que desejasse, Maia teria dificuldades para engavetar o pedido de CPI.

Em verdade, o que inquieta o Planalto não é o amor ou desamor de Maia, mas a inauguração de uma nova vitrine dedicada à exposição da inépcia ambiental do governo.

A decisão de Maia ganhou o site da Câmara no dia em que vieram à luz os dados sobre o desmatamento na Amazônia: 9.762 Km² devastados, aumento de 29,5% em relação aos 12 meses anteriores.

Há presidentes cuja obra só será devidamente entendida daqui há um século. No setor ambiental, o descalabro produzido por Bolsonaro só poderia ser perfeitamente entendido no século passado, quando a ditadura militar estimulava o desmatamento da Amazônia com o seguinte lema: “Integrar para não entregar”.

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