Daniel Leite

O recente pedido do presidente da Câmara Federal, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), para que o correligionário e vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB-SP), abandone a articulação política do Governo Federal é sintomático. Tradicionalmente, a legenda sempre se posicionou como coadjuvante no cenário político nacional, garantindo a sustentação do Executivo.

Porém, em função da profunda crise que atinge o Palácio do Planalto, começa a dar sinais de que busca um protagonismo cada vez maior, que inclui planos de lançar candidatura própria para a Presidência da República, em 2018.

Eleitoralmente, o PMDB é um partido extremamente forte. Possui o maior número e prefeitos (1.023) e governadores (sete) do País. Além isso, ocupa as presidências da Câmara Federal – onde tem a segunda maior bancada com 61 integrantes – e do Senado, onde detém a maior bancada, com 18 integrantes.

Já no Executivo federal, está à frente de seis ministérios, evidenciando sua importância para a gestão da presidente Dilma Rousseff. No entanto, a perda progressiva da governabilidade a petista abriu precedentes ara que a sigla trace novos objetivos. Segundo o senador e vice-presidente nacional do PMDB, Valdir Raupp, a legenda está, hoje, no “comando” da política nacional, justamente pelo vácuo deixado pelo PT e, por isso, deve partir para projetos mais ousados.

“Agora o foco mesmo é termos candidatura própria para Presidente da República. Não adianta o PMDB fazer tudo isso e não lançar uma candidatura própria. É inevitável. Já esperamos demais”, defendeu.

Na avaliação de Raupp, o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, poderá ser o nome escolhido para se candidatar à Presidência. A opção poderá ser feita durante o congresso nacional da sigla, marcado para o próximo mês de outubro.

“Sempre trabalhamos a figura do Paes. Se perguntar, de Norte a Sul do País, ele aparece em primeiro lugar como o maior nome do partido. Agora também está surgindo o nome de Eduardo Cunha e de Michel Temer, que poderão entrar no jogo. Mas por enquanto, devemos tomar a decisão de lançar candidato próprio e trabalhar o nome dentro do partido”, destacou.

Análise
De acordo como historiador e professor da Universidade de Brasília, Antônio José Barbosa, o PMDB consegue captar a fragilidade ideológica da sociedade brasileira e, por essa característica, ocupa grandes espaços de poder.

“É o partido que melhor entende a política brasileira, em toda a história, que é fundamentalmente uma política local e regional. Já que ele não tem uma ideologia que cimente sua ação programática, se preocupa em exercer o poder de mando nos diversos estados do Brasil”, colocou.

Por outro lado, em razão da crise política atual, a legenda tem buscado mais autonomia no contexto nacional. “Neste momento que estamos vivendo, ele (PMDB) começa a ensaiar uma posição diferente. Desde que o Brasil se redemocratizou, o PMDB só lançou candidato à presidência da República duas vezes, com Ulisses Guimarães (1989) e Orestes Quércia (1994). De lá para cá, o partido ficou oscilando em torno das órbitas do PSDB ou do PT. Agora, pela primeira vez, a maioria da legenda entende que pode partir para um jogo maior”, explicou.

Fonte: FolhaPE