No modelo político brasileiro, do chamado presidencialismo de coalizão, Dilma se elegeu duas vezes presidente da República, mas sempre em minoria no Congresso. A aliança com o PMDB, em tese, deveria dar equilíbrio aos governos do PT.
No entanto, mesmo tendo Michel Temer como vice, a relação PT-PMDB sempre foi tensa. Políticos como Geddel e Cunha, além de Eliseu Padilha e Moreira Franco, outros expoentes do quarteto ligado a Temer, sempre cobravam mais espaços no governo.
Como Dilma conhecia as intenções desse quarteto, ela fazia o máximo possível para conter o estrago. Por isso mesmo, frequentemente, era acusada de inabilidade política. No glossário peemedebista, ser inábil politicamente significa não entregar a mercadoria.
Dilma engoliu essa turma enquanto pôde. No entanto, quando Cunha se elegeu presidente da Câmara, provavelmente financiando uma penca de deputados, como revelam as mensagens trocadas com o Pastor Everaldo (leia aqui), o preço se tornou alto demais. Se antes era necessário entregar apenas os anéis, agora era hora de dar os dedos, as mãos, os braços e os colares.
Como Dilma não cedeu, perdeu o pescoço. Curiosamente, no entanto, os brasileiros que foram às ruas contra a corrupção contribuíram para a deposição de Dilma e para instalar no poder justamente os maiores especialistas em mercantilização da política. A presidente honesta foi derrubada para que o PMDB, que vendia seu apoio no Congresso, pudesse governar sem intermediários.