Região deserta: De onde vem o ‘sangue’ presente nas galerias da Antártida 

Descoberto em 1911, o fenômeno já recebeu diversos nomes e teorias ao longo dos anos

Larissa Lopes
A famosa 'cachoeira de sangue' na Antártida
A famosa ‘cachoeira de sangue’ na Antártida – Divulgação/US Antartic Program Photo Library

Os vales secos de McMurdo são famosos por estamparem uma estranha catarata de ‘sangue’. A fileira de vales fica localizada em Victoria Land, região da Antártida.

Os vales possuem umidade surpreendentemente baixa. Além disso, as montanhas são tão altas que barram o gelo de fluir para o mar.

Trata-se de uma das regiões mais extremas do mundo. Além de bactérias, nenhum organismo vivo fora encontrado lá até hoje. E obviamente, o cenário marcante não é tomado por sangue.

Chamada de Blood Falls, em inglês, a queda vermelha tem mais de 30 metros. Crédito: US Antartic Program Photo Library

 

Cachoeira de ‘sangue’

Analisada pela primeira vez em 1911, a queda d’água já foi bastante discutida no campo da ciência, e as diversas constatações evoluíram com o passar do tempo.

O geógrafo e explorador australiano Thomas Griffith Taylor foi quem fez o primeiro estudo sobre a região. No ano de 1911, ele disse que a cor avermelhada vinha de um tipo de alga da mesma tonalidade.

Posteriormente, pesquisadores ucranianos da Base de Investigação de Vernadsky, localizada na ilha de Galindez, Antártida, chamaram o fenômeno de ‘neve de framboesa’.

Para eles, a cor avermelhada vinha da Chlamydomonas Chlamydomonas nivalis, tipo de alga que tem a mesma tonalidade, e é comum em locais gelados.

Algas Chlamydomonas Chlamydomonas nivalis. Crédito: Divulgação/Base de Investigação de Vernadsky

 

No entanto, ao analisar a composição da água da região, pesquisadores descobriram que a cor se tratava do fenômeno de oxidação. Ali, a água era rica em ferro que, quando estrava em contato com o oxigênio, tecnicamente enferrujava.

Contudo, outro ponto intrigava os cientistas: o fato de a água se manter em estado líquido, mesmo permanecendo nas gélidas temperaturas do polo sul.

Fonte da água

Conforme repercutido numa matéria da Folha, de 2009, um grupo de pesquisadores da Universidade de Harvard — liderado por Jill Mikucki — descobriram um ecossistema isolado que não achavam possível existir.

Uma estranha comunidade de bactérias vive no lago de água, debaixo da geleira Taylor, há pelo menos 1,5 milhão de anos. Esses microrganismos se ‘alimentam’ unicamente de compostos de ferro e enxofre.

Pesquisador posa para foto na impressionante geleira. Crédito: US Antartic Program Photo Library

 

O grupo chegou às bactérias estudando o fluxo de salmoura que, por vezes, escorre na frente da geleira de McMurdo. Os pesquisadores de Harvard acreditavam que a peculiaridade evolutiva das bactérias era consequência de centenas de milhares de anos de isolamento.

Segundo eles, os ancestrais desses microrganismos devem ter vivido no mar há milhões de anos, antes mesmo de os vales secos de McMurdo se erguerem, prendendo uma porção de mar na forma de um lago.

A água presente na queda não congela por ser quatro vezes mais salgada que o oceano. Como repercutido pela revista Veja, o líquido da região tem 13% de sal, e o ponto de congelamento está em torno de 7 graus Celsius negativos.

“Embora pareça estranho, a água libera o calor à medida que congela, e esse calor aquece o gelo ao redor”, explicou a pesquisadora Erin Pettit, da Universidade de Alaska Fairbanks, em estudo publicado no períodico científico Journal of Glaciology.

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