Relatório Conflitos no Campo Brasil 2017 da CPT é lançado em Senhor do Bonfim (BA)

A Comissão Pastoral da Terra – CPT da região Centro Norte e a Diocese de Bonfim em parceria com o Colegiado de Geografia da Universidade Federal do Vale do São Francisco – UNIVASF, lançaram o relatório anual Conflitos no Campo Brasil 2017 da CPT. O evento aconteceu no auditório da UNIVASF no campus de Senhor do Bonfim (BA) e contou com a participação das comunidades atingidas por conflitos, movimentos sociais, integrantes da sociedade em geral e estudantes e professores da universidade e Institutos de Ensino Superior da região.

O lançamento teve como objetivo principal evidenciar e denunciar os conflitos e a violência no campo a partir de um mapeamento e diagnóstico geral que traz dados sobre o aumento dos assassinatos no campo, dos conflitos pela disputa por terras e uso da água, desapropriação de terras, desterritorialização, problemas socioambientais, questões sobre o trabalho escravo, a questão do endividamento dos pequenos agricultores com o crédito (capital financeiro), a grilagem etc., o que evidencia claramente uma questão agrária no Brasil.

Neste sentindo percebemos uma grande ofensiva do capital manifesto na realidade a partir da expansão do agrohidronegócio e dos parques eólicos, assim como em atividades de forte impactos socioambientais, tais como, as atividades mineradoras e na forma de espoliação presentes em atividades laborais degradantes semelhante ao trabalho escravo e especulação do crédito no campo, perante os camponeses, a agricultura familiar, a agroecologia, os moradores de fundo de pasto, os povos quilombolas, indígenas, os assalariados no/do campo e demais expropriados do capital.

Além disso, tivemos como objetivos secundários criar a longo prazo uma cultura de reflexões e debates críticos sobre as problemáticas no campo na região de entorno de Senhor do Bonfim e mesmo em escala de Brasil, além de aproximar a universidade dessa temáticas e contribuir nas reflexões e práticas com os expropriados pelo capital no campo.

Este ano a apresentação do caderno foi ainda mais representativa e emblemática para a região, visto o aumento no número de assassinatos no campo de pessoas ligadas ao Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA, João Pereira de Oliveira, conhecido como João Bigode, ocorrido há dois anos passado e José Raimundo Mota de Souza Júnior, ambos do mesmo território e aos povos quilombolas, assim como nos conflitos entre mineradores, parques eólicos e agrohidronegócio, a grande propriedade fundiária, assim como em escala nacional o aumento de chacinas para com os povos do campo.

O lançamento aconteceu na forma de um seminário onde membros das comunidades atingidas por conflitos, no caso Socorro do MST, expos algumas problemáticas da região, seguido da exposição dos dados dos cadernos por parte de Antonio Celio, representante da CPT e depois aberto para debates e reflexões do público presente.

A contribuição do público presente foi bem emblemática e com muitas contribuições em torno de questões como a ausência de uma reforma agrária, relatos de violências e conflitos no campo etc. Uma das falas que nos chamou atenção foi a do estudante de geografia Hilton que agradeceu as contribuições e afirmou que quando viu os integrantes das comunidades entrarem na universidade ter ficado receoso por causa do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, mas que o evento ajudou a se libertar do medo e que a luta do campo é justa.

Segundo Átila de Menezes Lima, professor do colegiado de Geografia e organizador geral pela instituição, todos sentem a necessidade de refletir, debater e denunciar os conflitos no campo. “Isso cria uma agenda de pesquisas, reflexões e de militância para a região. E nesse contexto é fundamental o papel da Universidade de pensar a contradição e tentar contribuir com os expropriados no campo que vêm sofrendo ataques das mineradoras, da expansão dos parques eólicos, da grilagem, da manutenção da estrutura da grande propriedade fundiária, ataques do agrohidronegócio, entre outros”, afirmou.

Texto: Átila de Menezes Lima, professor Adjunto do curso de Geografia da UNIVASF.

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