Riqueza da produção do sisal no sertão contrasta com pobreza extrema dos trabalhadores

Em vídeo, presidente do Sindifibras diz que “situação não é grave”, apenas admite que “há pontos que se tem que melhorar”; lucro anual é de US$ 100 milhões

Arivaldo Silva
Foto: Reprodução/Facebook
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A cadeia produtiva do sisal na Bahia, conhecido como ‘ouro verde do Nordeste’, é destaque nacional em reportagem investigativa da Rede Record. Mas de forma negativa. São plantações gigantescas que se estendem por 65 cidades da Bahia, estado responsável por 96% da fibra no Brasil, gerando aos produtores uma fortuna em exportações. No entanto, a riqueza esconde uma realidade de miséria e pobreza extrema dos trabalhadores, além de perigosas condições de trabalho para quem sobrevive da colheita.

Ao bahia.ba, o Ministério Público do Trabalho no Estado (MPT-BA) confirmou na noite desta sexta-feira (7) a instauração de processo interno com um conjunto de ações para modificar a realidade dessa cadeia produtiva.

O cevador recebe de R$ 150 a R$ 200 por semana. Os agricultores passam falta de tudo. Moram em tendas montadas próximas ao campo, com os poucos alimentos amontoados em caixas de papelão. A repórter chorou ao dividir o escasso alimento oferecido por uma família de cevadores.

Riqueza exportada, trabalho e cansaço para os trabalhadores. “Uma cegueira proposital”

Na cadeia de produção do sisal na Bahia são 300 mil empregos (12 mil informais), diretos e indiretos. No total, 12 empresas fazem a manufatura do material. Destas, seis exportam a fibra a peso de ouro. Um trabalhador relata que a riqueza sai do país para o bolso dos produtores, e para eles sobram apenas trabalho e cansaço.

O procurador da República Ilan Fonseca disse à reportagem que existe uma cegueira proposital. “No nosso entendimento, as empresas exportadoras fingem que não estão vendo essa situação, para aumentar sua cadeia produtiva, como se nada disso tivesse acontecendo”. Nas plantações, até crianças trabalham para complementar a renda da família.

Na reportagem, Wilson Andrade, presidente da Sindifibras, entidade que representa todas as indústrias de sisal da Bahia, admite a situação de irregularidades dos trabalhadores, mas minimiza: “Não é grave”. “O esquema é completamente irregular. É completamente irregular. Não tem registro, o cara trabalha como autônomo. Chega na sua fazenda, tira o sisal. Metade é seu, metade é meu. Tá errado. Ela [a repórter] tem razão. Agora, você tem que defender naquilo que pode, tá certo?”, diz Andrade no vídeo. O bahia.ba tentou contato com Wilson Andrade, mas até a publicação não obteve resposta.

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