Setor hoteleiro já demitiu mais de 6 mil empregados com crise do turismo na Bahia

Crise chegou forte ao maior hotel baiano, primeiro cinco estrelas

Nem a proximidade da alta estação é suficiente para reverter o cenário de dificuldades no setor hoteleiro. O momento compromete investimentos dos mais diversos portes e foi responsável, por exemplo, pela perda de mais de 100 empregos no Hotel Pestana Salvador – maior da capital baiana, com aproximadamente 430 leitos – como adiantou ontem, com exclusividade, a coluna Farol Econômico. A reportagem esteve ontem no local e apurou que existem 12 andares desativados, de acordo com um funcionário, que pediu para não ser identificado.

A situação enfrentada pelo setor hoteleiro é explicada pelo aumento no número de leitos após a Copa do Mundo e se agravou com a redução no fluxo de turistas após o fechamento do Centro de Convenções da Bahia para reformas. Segundo o presidente da Federação Baiana de Hospedagem e Alimentação (Febha), Silvio Pessoa, 18,4 mil dos 40 mil leitos dos hotéis na capital baiana estão ociosos.

Primeiro hotel cinco estrelas da cidade de Salvador tem doze andares de quartos fechados

“Até agosto, acumulamos 54% de ocupação. Ou seja, 46% dos quartos nos 404 hotéis estão vazios”, diz. De acordo com ele, o ponto de equilíbrio para qualquer hotel pagar todas as contas é ter uma ocupação média de 60%.

“O Pestana, assim como os outros 28 grandes hotéis da cidade, não está atingindo esse ponto de equilíbrio. A situação é crítica para todos, estamos escolhendo as contas que vamos pagar. Se a situação não melhorar, mais hotéis vão ter que demitir ou até fechar”, revela ele, acrescentando que  isto resultaria em uma situação  pior do que a do ano passado. Em todo o ano de 2014, o setor demitiu 8.061 pessoas com mais de um ano de trabalho na capital baiana, segundo o  Sindicato dos Empregados em Hotéis, Bares e Similiares (Sindhotéis).

De janeiro a setembro deste ano, já foram dispensados 6.549 trabalhadores de hotéis em Salvador.  Segundo o presidente do sindicato, José Ramos, o cenário está complicado para os trabalhadores. “Mais de 20 mil pessoas na capital baiana têm famílias para sustentar através do turismo”, diz.

Ele acredita que os hotéis de médio e grande porte podem suportar uma ocupação de até 50% e ainda conseguir pagar as contas.Ontem, o sindicalista esteve com a diretoria do Pestana. “Eles confirmaram que foram na faixa de 130 demissões nos últimos meses. Argumentam que, com a baixa estação, não conseguem segurar as contas, também por conta da crise. Também  dizem que estão fazendo algumas reformas. Mesmo assim, não justifica demitir tanta gente”, diz.

“Estão demitindo agora sem pensar na alta estação, em que vão ter dificuldade para encontrar mão de obra qualificada. Estão detectando os salários mais altos, demitindo, e colocando pessoas com salários mais baixos ou terceirizados”, complementa. Pelo menos por enquanto, o Sindhotéis afirma que não existe um movimento generalizado de demissões nos hotéis de grande porte. Segundo o presidente do sindicato, José Ramos, o que se verificou até o momento foi um movimento isolado do grupo português.

In loco
O CORREIO esteve no Hotel Pestana, na tarde de ontem, e observou que haviam poucos funcionários no local, tanto na entrada  quanto nos corredores do prédio principal.

Dos 23 andares do local, a reportagem passou por 13 – do 14º ao 23º, que estão abertos, e no 9º, 8º e 3º, desativados. É possível ver pequenas infiltrações no teto e desgastes na pintura das paredes de alguns corredores, carpetes danificados e cheiro de mofo. A varanda com vista para o mar, que fica na cobertura, está interditada.

Segundo um funcionário do hotel que preferiu não se identificar, 12 andares estão desativados, mas o acesso a esses ainda está liberado. “Cada andar tem 23 apartamentos. Do 12º para baixo está tudo fechado”, afirmou, complementando que nos andares restantes há poucos hóspedes.

Ainda segundo ele, os apartamentos da área da piscina e do lounge continuam funcionando normalmente. O mesmo funcionário também afirmou que o quadro de pessoal foi drasticamente reduzido. “Com o hotel vazio está tranquilo (trabalhar com o quadro de funcionários reduzido), mas está faltando muita gente”, afirma.

Apesar disso, estão acontecendo novas contratações. “Eles demitiram  pessoas que tinham o salário alto e estão contratando novas com salários mais baixos”. Segundo ele, as equipes de cozinha e garçons foram terceirizadas.

Os hóspedes, no entanto, não acusam queda na qualidade do serviço. Membros de uma família de argentinos hospedados no local não se identificaram, mas disseram que mesmo os quartos mais simples são muito bons.

Hospedado desde sábado no Pestana, um casal do Rio Grande do Norte, que também não se identificou, se disse satisfeito com a paisagem, mas ressaltou um ponto a ser melhorado: a qualidade do café da manhã. Entre as queixas, pouca variedade e produtos frios.

A assessoria de comunicação do Hotel Pestana diz em nota enviada ao CORREIO que o estabelecimento está operando “normalmente” desde o início deste ano com 310 quartos. “Em datas de menor ocupação, é habitual alguns pisos serem temporariamente encerrados por uma questão de eficiência operacional e até poupança energética. Além disso, o Pestana Bahia tem realizado ajustes para adequação à realidade econômica atual”.

Turismo precisa de infraestrutura adequada
A falta de uma infraestrutura adequada no aeroporto da capital baiana e a reforma do atual Centro de Convenções são apenas alguns dos fatores que podem agravar ou até barrar o desenvolvimento turístico e hoteleiro da Bahia.

Segundo o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis na Bahia (Abih-BA), José Manolo Garrido, mesmo com melhores condições de infraestrutura nestes espaços, o turista não deixa de vir para o estado. “Que precisamos melhorar nossa infraestrutura é fato. No entanto, é preciso divulgar melhor o que temos e o que está sendo feito”, afirma.

Infraestrutura do aeroporto de Salvador é considerada um empecilho para o estado pelo trade turístico (Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

O presidente da Salvador Destination, Paulo Gaudenzi, concorda e diz que acredita em uma situação melhor caso turistas venham para a Bahia. “Com o dólar aumentando, há uma tendência das pessoas virem para cá. Os turistas podem ou não vir, nos próximos meses. É preciso fazer propaganda e promoção. Quem não é visto não é procurado e não é comprado”, argumenta.

A prefeitura informou que reservou  R$ 6 milhões para a divulgação do município e atrair turistas de outros estados no Verão. Na última quarta-feira, em comemoração ao Dia Mundial do Turismo, o prefeito de Salvador, ACM Neto, disse que a prefeitura está investindo muito para ter um bom calendário de eventos e que está buscando ajustar a cidade para ter um bom nível de ocupação hoteleira durante ano.

“É fundamental investir no turismo. Salvador não pode ser desejada só de novembro a fevereiro. Se pudesse destacar as duas prioridades com relação à infraestrutura turística para capital e consequentemente para a Bahia – a porta de entrada do estado – destacaria o Centro de Convenções e o aeroporto”.

Em nota ao CORREIO, a assessoria do governo do estado disse que está participando de eventos nacionais e internacionais para divulgar a Bahia. Até o final do ano, o governo deve investir R$ 10 milhões em publicidade.

“O Centro de Convenções da Bahia passa por reforma emergencial, iniciada no último mês de setembro. O prazo para execução das obras é de 180 dias. O investimento de R$ 5,3 milhões inclui recuperação parcial da estrutura, reforma das escadas de emergência e substituição de vigas”, diz a nota. “Uma nova licitação, de aproximadamente R$ 9 milhões, será realizada para climatização do segundo e terceiro andares do Centro de Convenções”.

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