Só haverá democracia se soubermos quem mandou matar Marielle, diz Monica Benicio

Vereadora carioca fala sobre investigações do assassinato de sua companheira e a luta pelos direitos humanos no Rio de Janeiro

Monica Benicio e Marielle Franco
Monica Benicio e Marielle Franco (Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados | Mídia Ninja)
 

Opera Mundi – No programa 20 MINUTOS ENTREVISTA desta segunda-feira (29/11), o jornalista Breno Altman entrevistou a vereadora pelo Rio de Janeiro (PSOL) Monica Benicio, ex-companheira de Marielle Franco.

Três anos e oito meses após o assassinato de Franco, Benicio lamentou que a investigação avance com dificuldade, sem encontrar os mandantes do crime e sem conseguir levar os executores, que negam a autoria, a julgamento.

“Não dá para falar de democracia sem revelar quem mandou matar uma vereadora democraticamente eleita. O recado por trás da execução é que a política brasileira não aceita pessoas como Marielle e tudo o que ela representava: uma mulher negra, favelada, que amava outras mulheres e socialista”, afirmou.

Por outro lado, ela celebrou que Marielle tenha se tornado um símbolo de resistência dentro e fora do Brasil graças à reação popular diante do assassinato. De acordo com a vereadora, o recado violento dado com sua morte poderia ter levado a sociedade aceitar e recuar, com medo, mas, para ela, “aconteceu o contrário”. “As pessoas se sentiram comovidas e não aceitaram o silêncio da barbárie. Saímos às ruas, lançamos candidaturas, avançamos pautas LGBT, não só pela Marielle, mas pela justiça”, disse.

A nível pessoal, toda essa luta levou Benicio a entrar para a política institucional, não apenas para cobrar respostas sobre o ocorrido com sua companheira, mas para lutar pelos direitos das mulheres, da comunidade LGBTI+ e da população das favelas, sendo ela mesma da comunidade da Maré.

“A política institucional ganhou outra cara, para mim, principalmente depois da campanha que fizemos, que foi muito dura e muito bonita. Mas a ocupação da Câmara é difícil, principalmente desde o meu lugar de mulher sapatão. A política institucional no Brasil não é uma que respeita as mulheres, pelo contrário, tem o objetivo de nos excluir. Não consigo imaginar o tamanho da luta e da violência que a Marielle sofria naquele espaço. Mas acho que os avanços que a gente vem fazendo também precisam ser saudados, porque são resultados de muito esforço e luta dos movimentos sociais”, discorreu.

Direito à cidade

Se aprofundando em seu mandato, segundo a vereadora, ele se dedica ao direito à cidade. Isto é, quebrar as barreiras invisíveis que levam à segregação da cidade e fazem com que alguns corpos possam transitar em certos espaços, enquanto outros não.

“O corpo mais vulnerável é o da mulher negra trans. Queremos, então, construir uma cidade mais segura principalmente para as mulheres, com melhorias no transporte público, na política de saúde, educação e cultura. Acreditamos que, se a gente melhorar a qualidade de vida para as mulheres, vamos melhorá-la para todas as pessoas”, defendeu.

Outro foco de luta da vereadora diz respeito às favelas e periferias cariocas. Para ela, o Estado não é ausente nessas regiões, mas é ineficaz: “Quando entra, entra com violência, não reforça as boas práticas que o Estado pode ter”.

Atualmente, Benicio também está engajada na campanha que luta pela aprovação da Lei sobre o Programa de Combate ao Feminicídio, após conseguir aprovar na Câmara do Rio de Janeiro o Dia Municipal da Luta contra o Feminicídio.

Ela celebrou a boa recepção que a campanha vem tendo nas ruas, com as mulheres querendo discutir sobre o tema, reforçando que será necessária muita mobilização popular para pressionar os vereadores.

“É difícil porque é um tema que está muito entranhado na sociedade e a violência contra a mulher é um iceberg de muitas violências. A gente tem que lutar para educar a população, mas o Estado tem um papel fundamental, porque se não produz políticas públicas ele é conivente com o feminicídio”, argumentou.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *