TRF-4 empurra petistas para narrativa do radicalismo

Helena Chagas – Blog Os Divergentes

O PT vem caindo como um patinho no discurso da radicalização em torno do julgamento do recurso de Lula no TRF-4 na semana que vem. Na briga pelos corações e mentes da opinião pública, quem saiu na frente esta semana foram as forças que querem grudar no PT o carimbo da violência e da desobediência à Justiça – coisas muito diferentes do livre e democrático direito de protestar e se manifestar.

Com o discurso das ameaças que seus juízes viriam recebendo, e do risco de episódios de violência em Porto Alegre, o presidente do tribunal, Carlos Thompson Flores, fez um périplo  bem sucedido em Brasília. Com escalas no STF, na PGR e no GSI do Planalto, conseguiu ampla repercussão na mídia – que, todo mundo sabe, não está exatamente ao lado de Lula.

Em vez de trabalhar para mostrar que são infundados os temores e acusações de que pretenda promover atos violentos, os petistas acabaram corroborando indiretamente esse discurso com sua reação. Atacaram duramente o presidente do TRF-4 e, numa frase infeliz, a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, acabou dizendo que, para prender Lula, ‘vão ter que matar alguém”. É óbvio que falou em sentido figurado, mas também é óbvio que, no atual estado de radicalização dos ânimos, a afirmação está sendo amplamente explorada contra Lula e seus apoiadores.

Com isso, arriscam-se os petistas a perder o apoio de muita gente que, num ambiente de maior serenidade, seria sensível a argumentos concretos como o fato de o TRF-4 ter antecipado o julgamento de Lula, passando-o na frente de sete outros casos da Lava Jato e dando a ele celeridade recorde. A judicialização inédita da política no país também é um ponto importante dessa discussão.

São questionamentos válidos, assim como a própria defesa jurídica do ex-presidente, escondida agora pela cortina de fumaça do radicalismo, que nas atuais circunstâncias vitimiza o TRF-4, eximindo-o de dar maiores satisfações sobre suas decisões.

Não vivemos tempos de paz e amor, mas a narrativa do ódio não conquista corações e mentes.

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