Uma mudança profunda: descoberta do petróleo transformou economia da Bahia

Donaldson Gomes
Oscar Cordeiro dedicou vida à descoberta do petróleo (Foto: Banco de Imagens da Petrobras)
Produção comercial no estado permitiu implantação de refinaria e da indústria petroquímica no estado

Se hoje o futuro da produção de petróleo na Bahia passa por uma definição sobre o interesse da Petrobras em explorar ou passar adiante a concessão de suas áreas terrestres, há pouco mais de 80 anos o que se discutia era a existência de petróleo no país. A confirmação do que o nacionalismo da campanha “O petróleo é nosso” garantia ser verdade há tempos se deu graças à persistência de um baiano no bairro do Lobato, no Subúrbio Ferroviário.

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Em 21 de janeiro de 1939, Oscar Cordeiro, contrariando laudo negativo do governo de Getúlio Vargas alguns anos antes, deu início a um processo que tornou a Bahia por algumas décadas no centro da indústria do petróleo nacional. A presença confirmada de petróleo e o início de sua exploração comercial, no campo de Candeias, na Região Metropolitana de Salvador (RMS), permitiu a implantação da primeira refinaria nacional, a Landulpho Alves (RLAM), que, por sua vez, viabilizou a implantação do Polo de Camaçari.

Hoje o Brasil é 13º maior produtor de petróleo do mundo, responsável 2,7% de todo o óleo e gás que é retirado da natureza, mas esta história começou numa escala bem menor, e começou aqui.

“A história do petróleo começou aqui. A Petrobras começou a existir, de fato, por conta da descoberta de Oscar Cordeiro no Lobato e do início da produção comercial no Recôncavo”, lembra o presidente da Associação Comercial da Bahia (ACB), Adary Oliveira, doutor em planejamento e desenvolvimento territorial. Segundo ele, o início da operação da RLAM, em Mataripe,  aconteceu pela necessidade de tratar o óleo produzido. “Naquela época não existiam estradas para escoar a produção, era tudo muito precário. Em 1950, Mataripe refinava 2,5 mil barris por dia. Hoje são 340 mil”, compara Oliveira.

O início da indústria do petróleo trouxe impactos significativos para a economia baiana, lembra o pesquisador. “Quando a RLAM começou, houve um grande impacto econômico porque os salários pagos aos petroleiros eram maiores que os de todo mundo. Quem trabalhava na Petrobras tinha gasolina de graça, todo mundo queria ser petroleiro”, lembra.

Depois vieram o antigo Conjunto Petroquímico da Bahia, que deu origem à atual Fafen, lembra o professor, e posteriormente o Polo de Camaçari. “A ligação entre a Bahia e e o petróleo era tão grande que Jânio Quadros, quando disputou a Presidência da República, dizia que iria transferir a sede da Petrobras para cá. Aqui era onde se produzia”, conta.

O economista Uallace Moreira, coordenador do Centro de Economia Política do Petróleo (Ceppetro), da Universidade Federal da Bahia, destaca o papel de indutora de desenvolvimento que a atividade petroleira exerceu e ainda pode exercer no estado. “A exploração do petróleo tem uma relevância econômica muito grande por conta do seu forte efeito sobre toda a cadeia produtiva”, explica.

“A implantação da cadeia do petróleo na Bahia teve um papel fundamental na construção do parque industrial que existe hoje no estado. Mas nós temos que lembrar que, além dos impactos da atividade em si, ainda há um papel que é extremamente relevante na distribuição de renda e royalties”, avalia o economista.

Para Moreira, a atividade vem sofrendo com o que ele chama de “desmantelamento” da Petrobras. Defensor da manutenção de um papel mais ativo da empresa no processo, ele acredita que o novo papel que vem sendo exercido pela empresa seria prejudicial inclusive para outras atividades, além da exploração em terra.

Fato é que hoje a soma de todo o petróleo produzido pela Bahia, algo em torno dos 30 mil barris por dia, é menos do que a produção de um único poço da Petrobras na região do pré-sal. Pouco para a gigante petroleira, mas ainda muita coisa por aqui.

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