Vídeo da Porto Alegre de 1946 viraliza nas redes sociais; veja o que mudou 

Há 71 anos, americano em viagem ao Brasil registrou cotidiano pacato da Capital

Por: Bárbara Müller
Vídeo da Porto Alegre de 1946 viraliza nas redes sociais; veja o que mudou  Reprodução / Agência RBS/Agência RBS

Foto: Reprodução / Agência RBS / Agência RBS

Com mais de oito mil compartilhamentos, um vídeo publicado no Facebook proporcionou uma viagem no tempo a Porto Alegre de 1946. Bondes, carros antigos, cães passeando sozinhos e pessoas caminhando revelam um cotidiano de 71 anos atrás diferente dos dias tumultuados e de trânsito intenso que se vive hoje.

As imagens são do americano Harry Bernard Wright, um dentista, amante de viagens e cinegrafista amador. Em sua passagem pelo Brasil, também registrou tribos indígenas e o Rio de Janeiro. Atualmente, o vídeo faz parte do acervo do Museu de Arqueologia e Antropologia da Universidade da Pensilvânia, nos Estados Unidos, que autorizou a utilização das imagens porque ficou ¿muito curioso¿ com a atualização que seria feita pela reportagem.

Cesar Cardia, administrador do do perfil no Facebook Gonçalo de Carvalho — que se gaba de ser uma das ruas mais bonitas do mundo — teve conhecimento das imagens há alguns anos. Cardia costuma receber de estrangeiros e de admiradores da rua de túnel verde e-mails de registros e informações sobre Porto Alegre.

— Me mandaram esse vídeo perguntando se na época (1946) a Rua Gonçalo de Carvalho já tinha um túnel verde. Tinha muitas imagens do Brasil, e no final tinha três minutos sobre Porto Alegre. Aí resolvi postar para o pessoal ver como a cidade era naquela época — comenta Cardia.

Como resultado, a publicação gerou comentários saudosistas, como o do aposentado Gerson Barum, que escreveu: “Maravilha! Lembro muito bem, ainda nos anos 50, a população era um sexto (aproximadamente) do que é hoje, tudo era gostoso e seguro…” Barum recorda da calmaria que se via na cidade naquela época:

— Dava para ir ao centro de bonde com 10 anos de idade, sem qualquer preocupação dos pais. Saudades de poder atravessar a rua sem risco de atropelamento. De poder brincar a tarde inteira na rua e só voltar após três ou quatro horas, sem levar bronca da mãe.

Para o coordenador do Laboratório de Pesquisa em História da Imagem e do Som da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS) Charles Monteiro, Porto Alegre era mais provinciana naquela época:

— A cidade era muito vivida a pé, tinha pouco trânsito, é uma outra Porto Alegre, que parecia mais segura, sem multidões. Tem uma certa elegância do passado. Os bondes, os trajes mais sociais como terno e chapéu, dão um ar mais nostálgico para o vídeo.

Pontos bem conhecidos, como o Cais Mauá, a Praça da Alfândega, o viaduto Otávio Rocha e a Borges de Medeiros — que, diferente de hoje, só ia até a Praia de Belas — são retratados nas imagens. O historiador Sérgio da Costa Franco pontua algumas coisas que mudaram de lá para cá no Centro Histórico:

— Naquela época, funcionava a Delegacia Fiscal da Fazenda no Estado onde hoje está o Margs. Na Andradas, onde hoje está o Shopping Rua da Praia, existia o Grande Hotel, que pegou fogo em 1967. A cúpula da Catedral ainda não estava pronta. Tinha o abrigo dos bondes, próximo à Praça XV e a Rua Marechal Floriano Peixoto, onde hoje estão algumas lancherias, uma coladinha na outra.

De acordo com Franco, as transformações aconteceram com o crescimento da população. Muita gente morava no Centro e quem não morava fazia tudo lá, ¿até para comprar manteiga tinha que pegar o bonde¿. Com o aumento da população, surgiram novos bairros e com isso novos mercadinhos e padarias, por exemplo. Hoje, o Centro é cheio de prédios altos e salas comerciais.

Ao comparar os anos de 1940 com a atualidade, Franco lembra da tranquilidade de poder sair na rua sem medo e garante que de uma coisa não sente falta: do meio de transporte mais charmoso que existia naquela época.

— Os bondes viviam cheios nos horários de pico! Era uma loucura, um monte de gente ficava pendurada do lado de fora. Para o trânsito, foi se tornando um trambolho quando cresceu o número de carros. Não sinto falta nem um pouquinho — comenta, bem-humorado.

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