Voz coletiva da mulher real

Curadoras definem “Mulheres Radicais” como uma exposição feminista que pretende contribuir para o desmonte do patriarcado na arte contemporânea

Crédito: Divulgação

OUSADAS “Biscoito arte” (1976), de Regina Silveira; abaixo, “La Briosa” da mexicana Lourdes Grobet (Crédito: Divulgação)

Paula Alzugaray

Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985/ Pinacoteca do Estado de São Paulo, SP/ de 18/8 a 19/11

A clamada internacionalmente, a exposição “Mulheres Radicais: Arte Latino-Americana, 1960-1985” traz 120 vozes e visões do que pode ser um corpo político. Assim a historiadora da arte venezuelana Cecilia Fajardo-Hill define a curadoria realizada em parceria com a pesquisadora ítalo-argentina Andrea Giunta. Com 120 artistas de 15 países, a exposição passou pelo Hammer Museum de Los Angeles e pelo Brooklyn Museum de Nova York antes de chegar à Pinacoteca do Estado de São Paulo.

A radicalidade é o grande tema da exposição. Ela se manifesta nas diversas abordagens que as artistas fazem do corpo como campo poético e político, em resposta à ditadura, ao exílio, à repressão e a uma invisibilidade social alimentada pelas sociedades patriarcais latino-americanas. “O corpo da mulher foi representado na história da arte desde um ponto de vista externo: do olhar do homem que olha o corpo nu da mulher. Agora é a mulher quem está explorando com um olho interno a sua subjetividade, as experiências do seu corpo”, diz Andrea Giunta à ISTOÉ.

O resultado é uma radical transformação na iconografia do corpo na história da arte contemporânea. “Muitos temas que não tinham uma representação na arte, podem ser encontrados nos trabalhos de artistas dos anos 60, 70 e 80. Como a menstruação e a gravidez”, continua Giunta, diante da obra da artista colombiana Maria Evelia Marmolejo (intitulado “11 de Marzo – Ritual de la menstruación, digno de toda mujer como antecedente del origen de la vida”, 1981).

REALISTA “Limitada” (1978-2013), foto da argentina Marie Orensanz: transformação do corpo (Crédito:Divulgação)

O erotismo feminino é um desses temas/estados corporais abafados pela história e o establishment. Ele se manifesta em trabalhos distribuídos ao longo dos nove núcleos da mostra, extravasando o campo delimitado como “O erótico”, que inclui a brasileira Teresinha Soares, com a obra “Caixa de fazer amor” (1967). A sexualidade, a sensualidade, a nudez e o prazer são eixos do trabalho da argentina Liliana Maresca, que produziu um trabalho explosivo e morreu em 1994 por complicações derivadas do vírus HIV. Ela tem fotos e assemblages no núcleo “Mapeando o corpo” da exposição.

RADICAL “Por um corpo nas suas impossibilidades (1985), de Martha Araújo (Crédito:Divulgação)

Até mesmo “o poder das palavras” se presta a um uso erótico. Como ocorre em “Biscoito arte” (1976), de Regina Silveira, obra de forte cunho conceitual que também tem sua carga de erotismo, no ato de artista devorar a palavra arte. “Agora, o corpo da mulher é uma experiência mais real, não necessariamente idealizada ou canônica. Está afastada da premissa cultural que diz como a mulher deve se sentir. Isto é completamente novo. É uma revolução conográfica”, diz Andrea Giunta.

Roteiros
Mercado de arte resiste

SP-Arte/Foto/2108/ Shopping JK Iguatemi, SP/ de 22 a 26/8

Jéssica Mangaba

Há sete galerias estreantes na SP-Arte/Foto/2018, a Feira de Fotografia de São Paulo, que acontece de quarta 22 a domingo 26. Entre elas, duas fundadas no ano passado: Mapa, que abriu no baixo Augusta, voltada para o jovem colecionador de arte moderna; e Emma Thomas, que sob nova direção de Marcos Amaro e direção artística de Ricardo Resende pode ser considerada uma novidade no mapa das artes. Importante a presença este ano da OMA Galeria que, situada no Centro de São Bernardo do Campo, escapa do padrão Jardins do mercado de arte paulista e procura desbravar novos territórios para as artes. Uma das iniciativas foi um edital recem-lançado, com o intuito de fomentar a atividade de para jovens curadores de todo o Brasil.

A blue chip Fortes D’Aloia & Gabriel também faz seu début na feira de fotografia de São Paulo; e a não menos poderosa Nara Roesler retorna ao evento após um hiato de 4 anos. Tudo isto poderia sugerir que, ao contrário de outros setores da devastada economia brasileira, o mercado de arte não se inibe e procura resistir. PA

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