Empresário é indiciado pela polícia pelo estupro de seis crianças

O empresário David Marcony Franco Nascimento
O empresário David Marcony Franco Nascimento Foto: Polícia Civil / Divulgação
Ana Carolina Torres e Pedro Zuazo

O empresário carioca David Marcony Franco Nascimento, de 37 anos, foi indiciado pelo delegado Hilton Alonso, titular da 17ª DP (São Cristóvão) pelo estupro de seis crianças. Três das vítimas — de 12, 10 e 7 anos são irmãos — e outras três — de 11, 10 e 14 anos —, primos delas. Segundo a polícia, o suspeito dava remédios para as crianças dormirem. Ele teve a prisão temporária decretada pela Justiça e está foragido. Somadas, as penas podem chegar a 85 anos de prisão. David é empresário do ramo de telecomunicações e idealizador do congresso Future ISP, um dos maiores do setor no Norte e Nordeste do país.

Os estupros vieram à tona quando uma das vítimas, uma menina de 12 anos, revelou a uma tia que vinha sofrendo abusos por parte de David, que é irmão de criação de seu pai. Ao ser alertada, a mãe da criança questionou os outros filhos e descobriu que ambos, de 7 e 10 anos, também tinham sido violentados pelo empresário, e então denunciou o crime à polícia.

Em depoimento, a mãe das vítimas contou que, em novembro de 2018, após romper com o marido, aceitou o convite para morar de favor na casa de David — onde residia também a sogra. Ela viveu no local até março deste ano, quando se desentendeu com o empresário e resolveu se mudar para a casa da mãe, na Mangueira, na Zona Norte. Os filhos, no entanto, continuaram morando em Jacarepaguá.

Os abusos duraram por cerca de oito meses, de novembro do ano passado até o dia 9 de junho, quando ocorreu o último episódio, segundo a polícia. A menina de 12 anos foi quem mais sofreu, tendo sido abusada semanalmente.

— As crianças dormiam rotineiramente no quarto de David, onde tinha doces e videogames para atraí-las. Um não sabia do outro, porque normalmente ele escolhia um dos três para dormir lá e o abuso acontecia entre quatro paredes. Além dessas três crianças, descobrimos que outras três crianças que frequentavam a casa nos finais de semana também eram abusadas — conta o delegado titular da 17ª DP, Hilton Alonso.

Após ouvir relatos de crianças e funcionários, investigadores descobriram que David ministrava comprimidos de melatonina para as crianças antes de elas irem se deitar.

— Para as crianças que moravam lá, ele dizia que elas eram muito agitadas e o remédio ajudaria no sono para que elas tivessem um melhor aproveitamento da escola. No entanto, essa versão cai por terra já que o remédio também era ministrado para as crianças que só frequentavam a casa aos finais de semana — diz o delegado.

No último dia 17, policiais cumpriram um mandado de busca e apreensão na casa do empresário. Os agentes encontraram objetos encaixotados, o que pode ser um indício de que o empresário planejava fugir. Funcionários, no entanto, alegaram que ele estava de mudança.

De acordo com a polícia, o empresário já foi localizado em São Paulo e no Paraná, mas agora o paradeiro é desconhecido. A polícia pede que se alguém souber o paradeiro do suspeito ligue para o Disque Denúncia (2253-1177), Central de Atendimento ao Cidadão (CAC) pelos telefones (21) 2334-8823, (21) 2334-8835 ou para a 17ª DP (3655-0918).

David Marcony em uma edição do Future ISP
David Marcony em uma edição do Future ISP Foto: Reprodução/Internet

TRAJETÓRIA DE SUCESSO

Nascido e criado no Pavão-Pavãozinho, David foi abandonado pela mãe quando criança. Aos 15 anos, perdeu o pai e encontrou na vizinha, Alzira, uma mãe de criação.

Ainda jovem, começou a trabalhar com tecnologia. Em 2005, especializou-se em fazer instalações em condomínios e, aos poucos, começou a fazer consultorias e dar aulas. Dez anos depois, em 2015, criou o congresso nacional de provedores: o Future ISP.

O evento se tornou referência no mercado de telecomunicações e internet do Norte e Nordeste do país. A última edição, realizada em maio, na cidade de Olinda, em Pernambuco, reuniu 15 mil pessoas durante três dias.

Com o sucesso profissional, David saiu da comunidade e comprou uma casa de luxo em Jacarepaguá. No ano passado, convidou Alzira para morar com ele na mansão. Logo depois estendeu o convite para o filho biológico de Alzira e a esposa, além dos três filhos.

De acordo com relatos de parentes, David não se limitava a ceder o conforto do lar, como também empregou os parentes e arcava com todos os gastos de alimentação e moradia. A mãe das vítimas conta que David mimava as crianças com celulares novos, viagens e outros presentes.

Além de organizar o Future ISP, David é dono de três empresas e fundador e presidente da Microtel, uma associação nacional de micro prestadores de telecomunicações.

DEFESA NEGA ACUSAÇÕES

O empresário nega todas as acusações. Em nota, a advogada Silvia Martins afirma que ele nunca foi chamado para depor antes do pedido de prisão e que não se apresentou ainda por questões de segurança. Segundo a advogada, David estava sendo vítima de chantagem. Ela afirma que o empresário acolheu toda a família na própria casa para dar uma vida mais digna para as crianças e já tinha inclusive aberto um pedido de guarda jucidial. A defesa diz ainda que a mãe das crianças estaria exigindo dinheiro para que os filhos ficassem com David, e que ela teria feito a denúncia quando os pagamentos foram interrompidos. A advogada afirma ainda que não há nenhuma prova concreta contra o empresário.

Leia a íntegra da nota enviada pela defesa do empresário:

“Todos que o conhecem sabem que o empresário David Marcony cresceu na comunidade carioca Pavão e Pavãozinho, tendo sido adotado por uma família da comunidade.

Ocorre que David se sobressaiu e venceu na vida, sendo líder e destaque no ramo das telecomunicações.

Quem possui proximidade com David sabe de sua bondade e do seu desprendimento com os bens materiais, sendo certo que nem mesmo o seu sucesso o fez esquecer as pessoas que o acolheu no momento mais difícil de sua vida.

Foi nesse contexto que David acolheu todos os seus familiares, pois assim poderia lhes proporcionar uma vida mais digna. Porém, o bem lhe foi retribuído com a pior das maldades que o ser humano pode praticar, a ingratidão.

Toda a trama criada contra o David se deu pelo fato de, infelizmente, a estrutura familiar de seus entes estava completamente danificada e, devido o envolvimento com o crime organizado por parte dos genitores das crianças, o mesmo preferiu não residir na mesma residência que os mesmos.

Assim sendo, considerando que as crianças estavam matriculadas em boas escolas, devidamente acompanhadas por professores particulares, alimentação e saúde, as mesmas decidiram permanecer na casa do David, juntamente com a avó e o tio.

O apego do David aos seus sobrinhos era tão evidente que inclusive iniciou o procedimento para o pedido da guarda judicial, pois assim era a vontade das crianças.

Tal fato foi visto pela genitora das mesmas como uma oportunidade de ganhar ilicitamente dinheiro, quando passou, dia após dia, a chantagear David em troca da permanência das crianças sob a sua guarda.

Por vezes David cedeu às suas chantagens, porém quando decidiu não mais bancar os seus caprichos, a mãe das crianças as buscou abruptamente e as convenceu de fazer parte dessa trama maligna para imputar ao David um crime que jamais cometeu.

O argumento usado para persuadir aos filhos a contarem tal mentira ainda não se sabe, mas em breve a verdade será estabelecida e as máscaras serão jogadas ao chão, pois pelo contexto, estavam movidos pela ganância.

No entanto, considerando a gravidade das acusações, merece repúdio a atuação da mídia que se aproveitou para proceder com seu costumeiro escárnio.

De mais a mais, os fatos causam bastante estranheza, e a ausência de vontade dos repórteres em buscar os fatos de forma isenta, assassina a dignidade de um homem que sempre buscou fazer o bem.

Não há nenhuma prova contra o David, senão as acusações orquestradas para incriminá-lo. O ônus da prova não cabe à defesa, mas a quem acusa, sendo certo que até o presente momento nada comprovou.

Em momento algum David esteve sozinho com as crianças, as quais sempre estiveram acompanhadas da avó, do tio e dos próprios pais. Seriam tão negligentes ou cúmplices seus familiares que nunca viram, ouviram ou suspeitaram de nada?

Vários questionamentos poderiam ser elencados acima, demonstrando que nem a polícia e nem a reportagem sequer se importaram com histórico ou com a motivação dessa infame denuncia, apontando como verdade os fatos completamente controversos.

Alguns pontos ainda merecem destaque:

– Em maio deste ano todas as crianças estavam com o David no evento público em Olinda, sendo notória a afeição de todos com ele, inclusive com postagens dos mesmos relatando isso em redes sociais.

– A coleção de vídeo games encontrada em sua casa estava embalada, pois faz parte do acervo do museu que David estava projetando, fato este muito diferente da alegada fuga planejada.

– A sua não apresentação à polícia se deu pelo fato de que a ausência de segurança pública do Estado para proteger os acusados deste repudiado crime causaria imenso risco à sua própria vida ou integridade física.

Sem mais delongas, a acusação é grave e merece uma atenção especial, mas jamais um pré-julgamento e o linchamento público promovido pelo jornal. Afinal, a sua inocência se presume até que haja um julgamento judicial, o qual, por certo, trará luz sobre a verdade dos fatos.

Assim, fica o pedido a todos aqueles que conhecem o David: que não o julguem precipitadamente, mas que peçam a Deus que a verdade apareça e que a justiça seja feita!”

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *