‘Janot não assassinou Gilmar com uma arma, mas assassinou reputações com a caneta’

‘Ex-PGR apresentou comportamento parcial e seletivo no comando da instituição que tem o monopólio de abrir processos que vão diretamente ao Supremo’, pontua cientista político

Cientista político Alberto Carlos Almeida. Foto: Alex Ferreira/Câmara dos Deputados

O crime, que seria cometido por Janot, seria uma resposta a uma declaração feita pelo ministro Gilmar Mendes, em maio de 2015, sugerindo que o ex-PGR fosse suspeito para tratar da Lava Jato porque sua filha seria advogada da OAS, empreiteira envolvida no escândalo.

Pouco antes, Gilmar havia sido pressionada pelo ex-procurador-Geral da República a se declarar impedido de julgar os processos de Eike Batista porque sua esposa trabalhava no escritório de advocacia que defende o empresário.

Na opinião do cientista político Alberto Carlos Almeida o ministro “Gilmar Mendes está coberto de razão” ao afirmar que, se Rodrigo Janot quase levou ao fim um plano para matar um ministro do Supremo, “imagina quantos assassinatos de reputação ele fez, somente com telefonemas para um jornalista vazando informações acerca de um investigado?”

Almeida lembra que, em recente entrevista para a revista Veja, Janot revelou que o ex-candidato à presidência da República Aécio Neves (PSDB) e o ex-presidente Michel Temer (MDB) lhe ofereceram cargos em troca da suspensão ou não prosseguimento de investigações onde os políticos estavam envolvidos.

“Deveria ser aberto um inquérito, rapidamente, acerca do que Janot deixou de fazer. Era sua obrigação, como procurador-Geral da República, abrir um processo contra Aécio e contra Temer”, pontua o analista político concluindo como “uma verdadeira vergonha” a passagem de Janot pelo cargo que comanda o Ministério Público no país.

“Um comportamento absolutamente parcial, seletivo, se utilizando de uma função importante do poder público brasileiro, [que é o] monopólio de abrir processos que vão diretamente para o Supremo Tribunal Federal, utilizado, como arma política, uma arma que matou muita gente, matou muitas reputações”, conclui Almeida.

Leia também:  Em livro de memórias, Janot diz que queria matar Gilmar Mendes dentro do Supremo

Entenda

A fala do cientista político repercute uma notícia da Folha de S.Paulo, publicada nesta quinta-feira (26), revelando que o ex-procurador-geral da República, Rodrigo Janot, se referiu ao ministro Gilmar Mendes em um trecho do livro de memórias que está em vias de lançar.

“Num dos momentos de dor aguda, de ira cega, botei uma pistola carregada na cintura e por muito pouco não descarreguei na cabeça de uma autoridade de língua ferina que, em meio àquela algaravia orquestrada pelos investigados, resolvera fazer graça com minha filha”, escreveu Janot.

O ministro Gilmar Mendes divulgou uma nota nesta sexta-feira (27) onde, além de sugerir que Janot cometeu assassinatos de reputação, lamentou, em tom irônico, “o fato de que, por um bom tempo, uma parte do devido processo legal no país ficou refém de quem confessa ter impulsos homicidas”.

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