Indígenas no Peru querem fazer “justiça” por conta própria após crime do narcotráfico

Líder Mariano Isacama foi ameaçado por traficantes; ele foi encontrado morto com um tiro na cabeça

Indígenas com pinturas tradicionais participam do segundo encontro binacional da comunidade Siekopai Nation na região amazônica em Lagartococha, Peru
Indígenas com pinturas tradicionais participam do segundo encontro binacional da comunidade Siekopai Nation na região amazônica em Lagartococha, Peru  – Foto: Pedro Pardo/AFP

Diante da ameaça do narcotráfico, indígenas da Amazônia peruana advertiram nesta quarta-feira que estão dispostos a aplicar “justiça” por conta própria após o assassinato do líder Mariano Isacama, cujo corpo foi encontrado no fim de semana.

“Mal estamos enterrando nosso irmão e já estão começando a nos ameaçar novamente. Estamos desprotegidos”, afirmou Jackeline Odicio, presidente da Federação de Mulheres de Kakataibo, uma comunidade de cerca de 5.000 habitantes localizada na reserva homônima, na fronteira com o Brasil.

Isacama, de 35 anos, estava desaparecido há 23 dias após receber ameaças do narcotráfico. No domingo, os indígenas encontraram seu corpo com um tiro na cabeça, perto do rio Yurac, na região de Ucayali (a 497 km a leste de Lima). O Ministério Público está investigando o caso como homicídio.

“Os narcotraficantes nos dizem que nossa vez chegará, que seremos as próximas vítimas”, afirmou Marcelo Odicio – sem parentesco com a líder de Kakataibo – em um encontro com a imprensa estrangeira.

De acordo com a ONG Global Witness, entre 2012 e 2022, 54 defensores da terra e do meio ambiente foram assassinados no Peru, dos quais mais da metade pertenciam a povos indígenas.

“Se a justiça não fizer seu trabalho, seremos nós, com nossos sábios, com nossos ancestrais, que faremos justiça com nossas próprias mãos. Já estamos cansados de que a justiça não faça nada em relação às nossas denúncias”, enfatizou Jackeline Odicio.

Segundo os porta-vozes indígenas, o narcotráfico está destruindo a floresta para plantar mais folha de coca, construir narcolaboratórios e abrir pistas para escoar a cocaína.

Em resposta à ameaça da máfia, as comunidades estão dispostas a se defender através de guardas armadas.

“Essas guardas indígenas realmente têm ações já definidas, mas não estão armadas como deveriam. Nós temos nossas flechas, nossas lanças com as quais podemos patrulhar”, afirmou Marcelo Odicio.

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