O cifrão está entre os símbolos mais potentes do mundo, emblemático de muito mais do que o dinheiro.
Também conhecido como sinal ou símbolo de dólar, hoje é ligado ao consumismo e à mercantilização. Significa ao mesmo uma tempo ambição ensolarada, a ganância turbulenta e o capitalismo desenfreado.
Foi cooptado pela cultura pop (Oi, Ke$ha) e usado por artistas (Salvador Dali fez com ele um bigode, e Andy Warhol o recriou em uma obra que agora vale $$$). Ele é amplamente empregado em códigos de computadores e emojis.
No entanto, apesar de sua onipresença, sua origem permanece longe de ser clara, com teorias concorrentes que falam em moedas da Boêmia, nos Pilares de Hércules e mercadores atormentados.
Muitas pessoas acreditam que é um “S” sobreposto por um “U” espremido e sem dobra. Na verdade, um dos equívocos mais comuns sobre a origem do cifrão é que ele significa “United States” (Estados Unidos, em inglês).
É nisso que o escritor e filósofo Ayn Rand (1905-1982) acreditava. Em um romance de 1957, Atlas Shrugged, um personagem pergunta a outro sobre o significado do cifrão. A resposta: “Significa realização, sucesso, capacidade, o poder criativo do homem – e precisamente por essas razões, é usado como uma marca de infâmia. Representa as iniciais dos Estados Unidos”.
Parece que Rand estava errado, porque há indícios de que o cifrão estava em uso antes do surgimento dos Estados Unidos.
Uma origem mais breve
O símbolo da libra britânica tem uma história de 1,2 mil anos, usado pela primeira vez pelos romanos como uma abreviação de “libra pondo”, a unidade básica de peso do império. Como qualquer astrólogo amador lhe dirá, “libra” significa balança em latim, e “libra pondo” pode ser traduzido como “uma libra por peso”.
Na Inglaterra anglo-saxônica, a libra tornou-se uma unidade monetária equivalente a um quilo de prata. Grandes riquezas, em outras palavras.
Mas junto com o nome romano, os anglo-saxões pegaram emprestado o sinal, uma ornamentada letra “L”. A barra veio depois, indicando que é uma abreviação.
Um cheque no Museu do Banco da Inglaterra, em Londres, mostra que o sinal de libra assumiu sua forma atual em 1661, mesmo que ainda demorasse um pouco mais para ser adotado universalmente.
O dólar tem uma história muito mais curta. Em 1520, o Reino da Boêmia começou a cunhar moedas usando prata de uma mina em Joachimsthal. A moeda foi apelidada de “joachimsthaler”, depois encurtado para thaler, palavra que se espalhou pelo mundo.
Foi a variação holandesa, o daler, que atravessou o Atlântico nos bolsos e nas línguas dos primeiros imigrantes e ainda hoje ecoa na pronúncia inglesa da palavra dólar.
No entanto, não há uma resposta direta para a questão de onde surgiu o cifrão. Ninguém parece ter se sentado para projetá-lo, e sua forma ainda varia – às vezes, tem duas barras, mas, cada vez mais, apenas uma.
Teorias e hipóteses
Não que não haja muitas hipóteses diferentes. Por exemplo, voltando à ideia de que há um “U” e um “S” escondidos em sua forma, se sugere que eles representam “units of silver” (unidades de prata, em inglês).
Uma das teorias mais esotéricas o liga ao thaler da Boémia, que apresentava uma serpente numa cruz cristã. Este em si foi uma alusão à história de Moisés enrolando uma cobra de bronze em torno de um bastão para curar pessoas que foram mordidas. O dólar, por assim dizer, seria derivado disso.
Outra versão centra-se nos Pilares de Hércules, termo usado pelos gregos antigos para descrever os penhascos na entrada do estreito de Gibraltar.
Os pilares aparecem no brasão nacional da Espanha e, durante os séculos 18 e 19, apareceram no dólar espanhol, que era conhecido como “peso de ocho reales”, ou simplesmente “peso”. Os pilares têm bandeiras enroladas em torno deles em forma de “S” e não é preciso se esforçar muito para ver ali uma semelhança com o cifrão.
A teoria mais aceita envolve a cunhagem espanhola: nas colônias, o comércio entre os hispano-americanos e os ingleses-americanos era intenso, e o peso era legal nos Estados Unidos até 1857.
Foi com frequência abreviado, dizem os historiadores, para a inicial “P” com um “S” pairando ao lado dele sobrescrito. Gradualmente, graças ao rabisco de comerciantes e escribas pressionados pelo tempo, aquele “P” fundiu-se com o “S” e perdeu sua curva, deixando o traço vertical no centro do “S”.
Um dólar espanhol valia mais ou menos um dólar americano, então, é fácil ver como o sinal pode ter sido adotado.
Como em tudo que é ligado aos Estados Unidos no momento, há uma dimensão partidária no debate sobre a origem do cifrão: por razões políticas, uma facção favorece a ideia de que é doméstica, outra que foi importada.
Independentemente de como tenha sido, certamente é uma invenção americana: uma correspondência do irlandês Oliver Pollock, um rico comerciante e antigo defensor da Revolução Americana, fez com que ele seja frequentemente citado pelos historiadores como seu criador.
E o primeiro cifrão impresso, feito em uma impressora na década de 1790, foi o trabalho de um americano patriota – ou pelo menos um veementemente anti-inglês – chamado Archibald Binny, que é hoje lembrado como o criador do tipo de letra Monticello.