De acordo com o presidente da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), Ricardo Bastos, os números confirmam a evolução do mercado de eletromobilidade no Brasil, hoje dominado pelos veículos elétricos plug-in (tomada e gasolina) e, dentre estes, pelos totalmente elétricos.
A previsão da entidade é de que haja em 2024 um novo recorde de mais de 150 mil unidades vendidas no ano, o que significaria um crescimento superior a 60% sobre os 93.927 de 2023.
Na Bahia, os números do setor no primeiro semestre de 2024 mostram-se estáveis com relação ao mesmo período do ano anterior. Nos seis primeiros meses deste ano foram emplacados no estado 2.292 veículos eletrificados, ou 2,9% do total do Brasil, mesmo percentual alcançado no período correspondente de 2023, quando foram comercializados 2.764 modelos.
“O setor está amadurecendo, principalmente desde o ano passado, quando tivemos um recorde de vendas, com 93.927 unidades emplacadas. Hoje, representam 7,5% das vendas totais do mercado, enquanto os elétricos puros já atingiram uma participação de 2,5% em junho de 2024”, afirma Ricardo Bastos.
Segundo o dirigente, bem como todos os entrevistados ouvidos pela reportagem, a alta do custo com combustíveis, como a anunciada pela Petrobras há cerca de uma semana, estimula a procura pelo consumidor por carros elétricos. “Quando aumenta o preço dos combustíveis, como gasolina, etanol e até diesel, os carros elétricos se tornam ainda mais competitivos, principalmente quando falamos no custo por quilômetro rodado. Esse é um fator que interessa principalmente ao bolso, mas é um efeito de longo prazo, e também depende do repasse desses preços nos postos”, afirma Bastos.
Proprietária de uma picape movida a diesel, e morando em Barra do Jacuípe, orla de Camaçari, mas trabalhando em Salvador, há três meses a professora de educação física Cristiana Marjorie, 56 anos, e o marido investiram R$ 149 mil em um BYD Dolphin Plus 0 Km, 100% elétrico. Antes disso, porém, o casal instalou em casa um sistema de energia solar.
Cristiana conta que um carregador para a bateria do automóvel foi montado na parede da garagem (wallbox), e que possui ainda um carregador portátil. “Estamos amando (a experiência). Nós tínhamos um (Renault) Kwid antes, que também é econômico, mesmo assim o custo estava alto, na faixa de R$ 800 por mês (com gasolina)”, fala.
Vice-presidente sênior da BYD no Brasil, Alexandre Baldy destaca o papel de liderança do setor, e diz que a missão da marca aqui é “democratizar” o acesso a “milhões de brasileiros”.
Ainda segundo ele, o mercado de híbridos está consolidado no País. Prova disso, diz Baldy, seria uma pesquisa mostrando que “92% dos brasileiros querem comprar um híbrido, e 60% já tem curiosidade quanto a comprar um elétrico, e quer entender como funciona”.
“Quando se tem aumento da gasolina, eu tenho certeza que todo mundo acorda com a cabeça quente, (desejando) poder tem um carro 100% elétrico, e carregar ele na tomada, gastando cinco vezes menos”, conta.
“Carro elétrico antes era para rico. A BYD trouxe essa realidade, algo antes impensável. A nossa luta é que para que seja cada vez mais acessível a um volume maior de cidadãos. O baiano que tiver uma moto CG gasta 40 Km por litro. O BYD Dolphin Mini, na equivalência kW/hora com a gasolina, faz 70 Km/litro. Uma economia no bolso tremenda. Aqui na Bahia, o IPVA é gratuito, tem-se condição de ter um KW/hora muito competitivo. Nossa expectativa é que esse mercado venha crescendo, se consolidando, lembrando que o Brasil é um País de energia renovável”, afirma.
Prós e contras
Coordenador dos cursos de Engenharia Mecânica e Automotiva do Senai Cimatec, Júlio Câmara ressalta que a principal vantagem em ter um veículo eletrificado é o baixo custo para recarregar, cerca de 1/4 do valor gasto com gasolina, “em uma conta similar”, ressalta. Às vezes, até de forma gratuita, como em shopping, postos e rodovias, frisa Câmara.
Já as desvantagens seriam o alto preço dos modelos disponíveis, e a parca infraestrutura de abastecimento. Ainda de acordo com o professor, há também a tendência dos preços dos carros subirem, a partir do aumento gradual e programado das alíquotas do Imposto de Importação dos veículos eletrificados, que até julho de 2026 devem chegar a 35%. Além da possibilidade de incidência do novo Imposto Seletivo, que, depois de aprovado na Câmara dos Deputados, passará por discussão no Senado.
Ainda de acordo com Câmara, os modelos são divididos basicamente em híbridos e 100% elétricos. Os primeiros podem ser convencionais (motor flex, mais elétrico, porém com pouca autonomia) ou do tipo plug-in (carrega na tomada, bateria maior e mais autonomia). Já os totalmente eletrificados, estes com bateria de até 500kg, o que impacta no custo.
Ex-dono de convertedora veicular e centro automotivo, o empresário Augusto Croesy, 49, de tão entusiasta da tecnologia está no quarto BYD. De olho no mercado em potencial, ele também empreendeu na área, e abriu a Electricar, empresa especializada na venda e instalação de carregadores de parede e portáteis. “Quando a BYD chegou eu já conhecia a marca, o mercado, e eles trouxeram os veículos mais acessíveis. Antes, porém, eram bem caros. Mas o preponderante aqui (com os veículos) é a economia”.