Jornal GGN – No último dia 14 de agosto, o deputado estadual Castello Branco (PSL-SP) gravou um vídeo para anunciar a realização de uma mostra de filmes militares para outubro.
A gravação foi feita na Cinemateca com a cúpula da instituição, ao lado do superintendente do órgão, Roberto Simões, do assessor especial Rodrigo Morais e do coronel reformado do Exército Lamartine Holanda.
No vídeo, o deputado disse que a visita à Cinemateca Brasileira era técnica, “com o objetivo de conhecer a instituição e sua missão”. No final, e depois de todos os presentes comentarem sobre a importância do acervo, Castello Branco e Moraes entoaram “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos”, e todos os quatro prestaram continências.
Segundo apurações de reportagem da Folha de S.Paulo, além de superintendente do órgão, Roberto Simões Barbeiro acumulava até esta semana o cargo de assessor parlamentar no gabinete da deputada estadual Edna Macedo, do PRB, irmã de Edir Macedo, o líder da Igreja Universal do Reino de Deus.
Ele havia sido nomeado ao cargo na Assembleia Legislativa em março, com um salário de R$ 12.310,51, “mas dava expediente todos os dias na Cinemateca”, escreve Fábio Zanini que assina a matéria da Folha.
Após consulta sobre a acumulação de cargos feita pelo jornal, Barbeiro foi exonerado da função na Assembleia e terá que devolver o salário recebido durante o perído em que acumulo os dois cargos, ou seja, desde julho, quando assumiu a direção da Cinemateca.
Em nota sobre ter cumprido as duas funções, o que é irregular segundo critérios legais da Assembleia Legislativa, Barbeiro disse que já havia pedido exoneração, mas por motivos burocráticos a questão ainda não havia sido concretizada.
“A Acerp, gestora da Cinemateca, é uma organização social de direito privado e não se enquadra nos requisitos da Assembleia no que se refere ao acúmulo de cargos públicos”, procurou justificar.
Ainda segundo apurações da Folha, apesar de Barbeiro assumir o cargo de superintendente, quem de fato é visto como chefe da Cinemateca é Rodrigo Morais, o assessor especial da Associação de Comunicação Educativa Roquette Pinto, a Acerp, organização social que administra a entidade subordinada ao Ministério da Cidadania.
Moraes é seguidor do ideólogo da direita Olavo de Carvalho, defensor da guerra contra o “marxismo cultural”, tese de que é preciso combater a hegemonia cultural da esquerda. Ele ainda foi secretário-geral do PSL paulista e também é próximo do deputado federal Eduardo Bolsonaro. Moraes também atuou brevemente no Ministério da Educação, como assessor do ex-ministro Ricardo Vélez.
O organizador dos filmes militares, que serão exibidos na mostra que irá acontecer entre 10 e 13 de outubro, é o coronel Lamartine Holanda, que afirma ser pesquisador e consultor de cinema desde 1994.
Ele disse à reportagem da Folha que a seleção das produções ainda está sendo fechada, adiantando que serão exibidos filmes sobre a atuação da FEB (Força Expedicionária Brasileira) na Segunda Guerra Mundial.
“São telejornais da época, documentários com os pracinhas combatentes e as enfermeiras do quadro de saúde da força, além de alguns filmes da Cinemateca portuguesa com a chegada da FEB na Europa em 1944”.
O coronel comentou ainda que o conteúdo da mostra não será ideológico, mas histórico. “Não tenho ligações com nenhum partido”.
A Cinemateca também negou em nota qualquer novo viés conservador: “Não há nenhuma orientação em relação a qualquer tipo de tema. Uma das principais missões da Cinemateca, além de preservação e restauração do acervo nacional, é abrir espaço para mostras de cinema e sua divulgação”, pontuou.