Eleonora Menicucci: “apagão de dados do governo Bolsonaro é estratégico e político”

Ex-ministra da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres descreve como “impensável” o cenário encontrado pelo grupo de transição sobre o tema

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Eleonora Menicucci (Foto: Felipe Gonçalves / Brasil 247)
 

Por Gisele Federicce – O cenário descrito por Grupos Técnicos de diferentes áreas da equipe de transição do futuro governo Lula é de desmonte orçamentário acompanhado de um apagão de dados.

Para Eleonora Menicucci, ex-ministra da Secretaria Nacional de Políticas para as Mulheres no governo Dilma Rousseff e coordenadora do GT de Mulheres, “é impensável” a situação de devastação deixada pelo governo Bolsonaro. “Eu nunca imaginei que o desmonte fosse tão grande”, relata em entrevista ao 247.

No primeiro relatório entregue ao presidente eleito, em 30 de novembro, o GT propôs a criação do Ministério das Mulheres, separadamente da Igualdade Racial e dos Direitos Humanos, cujos grupos setoriais também sugerem ter pastas próprias (antes, nos governos do PT, a pasta era uma Secretaria com status de Ministério e no governo Bolsonaro foi extinta).

O relatório final, prometido para 11 de dezembro, trará, além das análises definitivas sobre o atual governo, a sugestão de propostas para o início do governo Lula. “Será denso”, prevê a ex-ministra.

O aspecto orçamentário é de esvaziamento. “Eu, quando saí do Ministério, deixei R$ 360 milhões para a Casa da Mulher Brasileira, que é um programa fundamental, e R$ 260 milhões para políticas transversais. Hoje, no Orçamento da União, tem R$ 23 milhões, que não dá para fazer uma Casa, e apenas R$ 7 milhões para políticas transversais”, detalha a socióloga e professora.

O serviço de atendimento Ligue 180, por exemplo, que recebe denúncias de violência contra a mulher, foi totalmente reduzido e colocado dentro de uma ouvidoria.

Um diferente olhar social construído a partir da criação da pasta da Mulher, Família e Direitos Humanos foi que a mulher deixou de ser vista como sujeito de direitos e virou família, onde é apenas parte integrante do grupo, com demandas e complexidades coletivas, não mais individuais, explica ainda a coordenadora do grupo.

Apagão de dados

Eleonora Menicucci insiste num problema considerado dramático para a equipe que entra: o apagão de dados. Ou seja, a falta de informações que baseiam a elaboração de novas políticas públicas – ou retomada das anteriores.

“Quero insistir no apagão de dados. Quantas mulheres foram atendidas, mesmo dentro da família? Esse apagão não é uma coisa casual, é estratégico, é político”, constata.

“O nosso projeto, dos governos do PT, era de construir políticas inclusivas para todas as áreas, de visibilidade aos sujeitos de direito com poder. O que nós podemos ver é que não existe isso”, diz.

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