O Campeonato Italiano recomeça neste sábado e Gabriel, goleiro do Lecce, entrará em campo dia 22, contra o Milan. É a retomada da competição e do principal objetivo do brasileiro na temporada: evitar o rebaixamento para a Série B. Bons tempos em que a maior preocupação é com o que acontece em campo e não fora dele.
O jogador de 27 anos viveu a pandemia do novo coronavírus na nação que teve um dos surtos mais acelerados da doença. Mesmo que longe da região mais afetada pela Covid-19, viveu todo o medo e as incertezas que tomaram conta do país por três meses. Hoje em dia, com a vida praticamente normal na Itália, lembra do auge da crise com leveza.
— Se tivéssemos essa conversa um mês atrás, diria como foi difícil. Mas agora que as coisas estão melhores, parece que nem foi tão complicado assim. Toda aquela incerteza que gerava muita ansiedade, foi complicado. Mas tem muito tempo que voltamos a treinar, estamos voltando ao normal. E aí a gente lembra das coisas de forma diferente — afirmou.
Ele explica como foi o processo de retomada gradual do futebol até que se chegasse ao retorno das partidas na Itália, o que contrasta com a forma com que foi decidida a volta do futebol carioca. A transição teve três fases, primeira, com treinos individuais no clube, sem contato com a bola. Depois, começaram os trabalhos em campo, ainda mantendo o distanciamento, e a realização de testes. Depois disso, vieram os treinos normais. O departamento de futebol sofreu adaptações, a principal delas, a criação de um vestiário extra para jogadores e comissão técnica, com o objetivo de reduzir as aglomerações no local de trabalho.
Gabriel começou a carreira no Cruzeiro e passou por Milan e Napoli, entre outros times italianos. Foi o goleiro da seleção olímpica de 2012, medalha de prata em Londres. Para ele, a pandemia serviu para que redescobrisse como a profissão de goleiro pode ser dolorosa:
— Eu consegui treinar bem em casa, mas é claro que não foi o ideal. O que senti mais falta, que só descobri depois, foi dos treinos específicos dos goleiros, com as quedas e tal. Elas geram traumas que, com o tempo, o corpo vai se acostumando. Nunca tinha ficado tanto tempo sem treinar e depois da primeira queda, vi que não sabia que elas doíam tanto.
Já readaptado aos ossos do ofício, Gabriel vê de longe a evolução da pandemia no Brasil. Enquanto que, em março, recebia a ligação das pessoas, preocupadas com a evolução da Covid-19 na Itália, agora é ele quem procura se tranquilizar a respeito de parentes e amigos. Ao analisar as maneiras como os dois países enfrentaram o vírus, defende a quarentena total adotada pela Itália, mas ao mesmo tempo vê dificuldades para se implementar algo parecido no Brasil, por causa da condição financeira difícil de boa parte da população.
Gabriel também se viu assim, entre sentimentos misturados, durante a pandemia, quando especulavam o fim do Campeonato Italiano caso a Covid-19 não fosse controlada por lá. Seu time é o primeiro da zona de rebaixamento e se livraria da queda caso a competição fosse encerrada e apenas duas equipes fossem para a Série B, como vinha sendo cogitado.
A partir de segunda-feira, tentará manter o Lecce na elite italiana como manda o figuro: na bola.
— Essa incerteza foi bem complicada. Se o campeonato fosse interrompido e não voltasse, cairiam só dois times. Isso gerou mais incertezas ainda. Não sabíamos onde estaríamos, se seguiríamos ou não na Primeira Divisão, o que nos deixou ansiosos. Agora vamos buscar nosso objetivo dentro de campo, que é a coisa justa a ser feita — comemorou.