Hilária Batista de Almeida, conhecida como Tia Ciata

Nasceu em 1854 na Bahia, em Santo Amaro da Purificação. Mudou-se para o Rio de Janeiro aos 22, fugindo provavelmente da perseguição policial, em especial contra as mães de santo, no êxodo hoje reconhecido como Diáspora Baiana. No Rio, casou-se, teve 14 filhos, e foi morar na Praça Onze, ponto central da cultura africana na cidade. A região era então conhecida como “Pequena África”, e foi também lá que Hilária se tornou uma mãe de santo. Assim nascia Tia Ciata, dona da casa onde o samba viria a nascer.
Quando veio para o Rio, Ciata trouxe com ela a comida de sua terra natal – que lhe permitia se sustentar como quituteira, vendendo iguarias típicas – e também o samba de roda do recôncavo baiano. Se casou com João Batista da Silva, e era no seu quintal que aconteciam os melhores pagodes, na época apenas uma festa com música e comida boa. Cuidando para que os quitutes estivessem sempre fartos e saborosos, Tia Ciata entoava os refrães com o talento da grande partideira que era. Frequentavam os pagodes nomes do surgimento do samba, como Sinhô, Pixinguinha, João da Baiana, Hilário Jovino Ferreira e, é claro, Donga – autor de “Pelo Telefone”, oficialmente o primeiro samba registrado, que teria sido composto no quintal de Tia Ciata.
A cultura negra, o candomblé e consequentemente o samba eram, no entanto, perseguidos pela polícia, mas os pagodes na casa de Ciata eram diferentes: seu status de curandeira a colocava protegida até mesmo entre os policiais – e não é exagero afirmar que, não fosse pelo respeito construído pelas “tias baianas”, especialmente por Tia Ciata, o samba poderia ter sido soterrado pelo perpétuo racismo da perseguição policial e da criminalização da cultura negra.
Além da proteção santa para as próprias festas, não fosse pela “importação” do samba de roda baiano, o samba carioca – que se tornou o samba “oficial”, especialmente após sua legalização, já nos anos 1930 — possivelmente não existiria. Pesquisadores dedicados garantem que, apesar dos poucos registros, a participação de Ciata na concepção do gênero ia além dessa “influência” – ela teria efetivamente ajudado a compor e definir o estilo, até mesmo no caso de Donga e do primeiro samba. Seja como for, o fato é que Hilária Batista de Almeida é um dos pilares mais fundamentais da afirmação cultural brasileira mais importantes em todos os tempos – e contar a história do Brasil, sua cultura e sua população majoritariamente negra é também contar sua história.
Por: Vítor Paiva

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