Insegurança na UFPE: Estudantes contabilizam pelo menos outros quatro casos de assédio no CFCH

Os casos anteriores ao desta terça (28), ocorreram no 11º andar do CFCH e datam desde o ano passado

Insegurança na UFPE: Estudantes contabilizam pelo menos outros quatro casos de assédio no CFCH
Insegurança na UFPE: Estudantes contabilizam pelo menos outros quatro casos de assédio no CFCH – Foto: Reprodução / Instagram
Três mulheres foram vítimas de importunação sexual no Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFCH) na última terça-feira (28).

O homem teria importunado duas alunas gravado uma mãe enquanto amamentava.

Segundo organizações estudantis da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), o caso não é isolado. Além desses, eles contabilizam outros quatro casos de assédio no CFCH.

Entidades vêm se mobilizando nos últimos meses para denunciar a insegurança no campus. No dia 14 de março, os Diretórios Acadêmicos do CFCH publicaram nota conjunta acerca dos casos de assédio ocorridos até aquela data. A UFPE afirma não ter recebido o registro das ocorrências citadas pelos canais de denúncias oficias.

Estudantes contabilizam outros quatro casos de assédio no CFCH
Diretório Acadêmico de História da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) publicou, no dia 1º de março, no Instagram, uma denúncia dos casos de assédio sexual ocorridos no prédio do CFCH. São quatro casos conhecidos desde o segundo semestre do ano passado.

O mais recente destes veio a público em 1º de março. Uma aluna do curso da graduação em História contou que, ao usar o banheiro do 11º andar do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, foi observada por um homem. O indivíduo estava em uma das cabines do sanitário feminino e, por uma brecha na parede dos boxes, visualizava a mulher. Ao perceber a presença dele, a estudante saiu às pressas do local.

Procurada pela Folha de Pernambuco, a instituição de ensino informou que não recebeu nenhum registro de ocorrência deste caso de assédio no CFCH. No entanto, afirmou, à época, que o Gabinete do Reitor recebeu a chefia do Departamento de História, juntamente com representantes do Diretório Acadêmico de História, para mostrar-se à disposição para atuar no combate ao assédio.

A UFPE diz que trabalha o combate ao assédio sexual de maneira intersetorial e que disponibiliza canais de denúncias para ocorrências nos campus. O estudante pode registrar ocorrências pelo Whatsapp (81) 2126-8061. Por este número é possível enviar mensagens de texto ou fazer uma ligação.

A instituição reitera que informar um professor, coordenador, Diretório Acadêmico ou publicar nas redes sociais não exclui a necessidade de denunciar nos canais oficiais. Pois, a universidade atua mediante o registro de ocorrências.

Uma sensação de insegurança
O relato da aluna, que preferiu não se identificar, soma-se a outros três conhecidos. O Diretório Acadêmico de História Francisco Julião contabiliza também casos de assédio no CFCH nos dias 10 de agosto, 21 de setembro e 15 de outubro de 2022.

No caso mais recente até então, a aluna estava tendo aula à noite no 11º andar. No caso dela, a porta do banheiro estava fechada e a luz apagada. Quando ela entrou, começou a conferir se havia mais alguém. Foi quando ela notou a presença de um homem dentro de uma das cabines, aparentemente sem calças, diz Dawyd Thiago, integrante da organização estudantil.

Dawyd conta que todos os casos dos quais o Diretório Acadêmico tem conhecimento ocorreram no 11º andar do CFCH. Esse é o andar no qual se localiza o Departamento de História e onde algumas das aulas do curso de graduação ocorrem.

Ele conta que o prédio como um todo é pouco movimentado em comparação com outros centros do campus Recife, em especial no turno da noite. O CFCH também não possui sistema de câmeras de monitoramento. Segundo Dawyd Thiago, isso gera uma sensação de insegurança em estudantes, professores e funcionários.

O estudante cita também a falta de controle na entrada do prédio como um dos fatores para a sensação de insegurança. “Não há controle na entrada do prédio, pois qualquer pessoa entra, mesmo que não seja estudante ou trabalhador”, conta o rapaz. “Na recepção, situada no térreo, geralmente ficam um ou dois funcionários, mas eles não estão preparados para lidar com casos de assédio”, completa.

Segundo Dawyd, a reitoria foi notificada sobre os três casos ocorridos em 2022 e inclusive reuniu-se com a gestão anterior do Diretório Acadêmico. Contudo, para o estudante “nada de muito importante foi colocado em prática”.

A Universidade Federal de Pernambuco diz que ainda em 2022 foi criado um Grupo de Trabalho sobre Assédio para dialogar com diversos atores a fim de construir políticas institucionais norteadoras de projetos e ações no campus.

Mudanças de hábitos por conta da insegurança
Os casos recentes de assédio fez alunas do CFCH mudarem hábitos e criarem estratégias para garantir sua segurança individual. Suênia Damásio, estudante da graduação em História, conta que passou a andar em grupo quando frequenta os andares mais altos do prédio.

“Eu particularmente não me sinto segura e acredito que outras mulheres não se sintam seguras em circular pelo CFCH. O prédio é um breu a noite, falta iluminação aos arredores, e constantemente vazio. Alterei minha rotina, por conta da insegurança, principalmente no tocante a ir ao banheiro sozinha nos andares mais altos e no horário da noite.”, conta a estudante. “Buscamos andar em grupo”, completa.

Suênia pensa que medidas para assegurar a segurança das estudantes devem ser construídas com especialistas e debatidas com toda comunidade do centro, além de levar em conta a efetividade das mesmas. “‘Vamos colocar câmeras!’. Mas quem vai vê-las? Se algo suspeito for notado, qual será o protocolo?”, questiona ela.

A graduanda diz ainda que as medidas de segurança devem ser pensadas para a completude do campus. “Uma série de medidas precisam ser tomadas para garantir a integridade dos estudantes. Não só pensando no CFCH, mas na universidade como um todo.”

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