Interior do Rio tem delegacias que fazem menos de cinco registros por dia

A 7ª DP, em Santa Teresa, região central da capital fluminense, registrou 1.289 casos nos nove primeiros meses deste ano.
A 7ª DP, em Santa Teresa, região central da capital fluminense, registrou 1.289 casos nos nove primeiros meses deste ano. Foto: Pedro Teixeira
Rafael Nascimento de Souza

De janeiro a setembro deste ano, 45 delegacias distritais do Rio (um terço das 137 unidades) fizeram apenas cinco registros de ocorrência por dia ou menos. Segundo o Instituto de Segurança Pública (ISP), 15 tiveram dois registros ou menos; cinco, menos de um registro por dia. Entre as que registraram cinco casos ou menos, estão áreas da capital e da Baixada, como a 11ª DP (Rocinha), com 1.231 registros nos nove primeiros meses do ano, 61ª DP (Xerém), com 1.232, e 7ª DP (Santa Teresa), com 1.289. No entanto, a maioria das que menos registraram ocorrências está no interior.

Num estado em que a Polícia Civil amarga problemas estruturais e de falta de pessoal, especialistas afirmam ser necessário repensar se não é hora de fundir algumas delegacias, principalmente as do interior, e otimizar o efetivo, muitas vezes usado em serviços burocráticos em detrimento das investigações.

Atualmente, são 14 mil agentes a menos do que a lei determina: nove mil em 137 delegacias e em 24 unidades periciais (média de 42 por unidade). Muitos reclamam das condições precárias de trabalho, como mostrou relatório feito pelo sindicato da categoria no início do ano.

Delegacias com menor número de ocorrências
Delegacias com menor número de ocorrências Foto: Editoria de Arte

Para Ubiratan Ângelo, especialista em segurança pública, muitas distritais do interior deveriam ser fundidas.

— Um policial que fez três ou quatro registros em uma determinada distrital, poderia estar ajudando outro colega que está registrando 50 ou 60 ocorrências por dia em uma delegacia perto — salientou ele, ressaltando que o estado, atualmente em regime de recuperação fiscal, faria economia com a fusão.

O antropólogo Luiz Eduardo Soares é mais comedido sobre a unificação de DPs.

— Uma delegacia que não recebe muitos casos, como no interior, não é, necessariamente, inoperante. No caso da Rocinha ou de outras em área de tráfico, é diferente. O traficante impede determinados crimes e a maioria das ocorrências envolvem brigas de vizinhos. Agora, ameaças e crimes contra o patrimônio as pessoas não vão registrar, pois ficam com medo — observou.

Em nota, a Secretaria de Polícia Civil disse que ‘‘considera fundamental estar presente em todas as regiões e municípios do Rio de Janeiro, buscando capilaridade que aproxime a instituição dos cidadãos’’. Segundo a instituição, ‘‘não há interesse no fechamento de nenhuma delegacia no estado. Todas as unidades têm importância para a estratégia investigativa e contribuíram para aumento de 43,78% no índice de elucidação de autorias e 7.546 prisões e capturas de janeiro a setembro de 2019, impactando na redução dos índices de criminalidade’’.

Sindicato é contra

Presidente do Sindicato dos Delegados do Estado do Rio (Sindelpol), a delegada Isabelle Conti, disse que, embora uma delegacia registre poucos crimes, a sua necessidade dentro do bairro ou do município é importante para o andamento das investigações.

— Independentemente de a distrital fazer um ou 100 registros por dia na capital, Baixada ou interior, a sua existência se faz necessária porque a Polícia Civil trabalha com informação e pessoas. Fundir uma delegacia a outra dificultaria e muito as investigações — salientou.

Sobre gastos, Conti diz que ‘‘a questão dos recursos deve ser reavaliada para serem distribuídos segundo a necessidade de cada delegacia’’.

Em agosto, o governador Wilson Witzel chegou a dizer que, para economizar, pretendia construir distritos policiais integrariam DPs e batalhões da PM. O custo de cada um ficaria em R$ 30 milhões, e a ideia era criar 40.

— Ao invés de reformarmos batalhões e delegacias, que são estruturas antigas, a minha proposta é criarmos os distritos policiais — disse o governador, na época: — Vamos pensar em uma nova proposta para o trabalho e para a investigação. Os boletins de ocorrência na rua, na Ilha (do Governador), hoje já permitem um avanço considerável para que a Polícia Militar fique mais tempo na rua.

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