Libertação de Auschwitz: como o campo de extermínio se tornou o centro do Holocausto nazista

 

Tropas soviéticas libertaram Auschwitz em janeiro de 1945Tropas soviéticas libertaram Auschwitz em janeiro de 1945

Em 27 de janeiro de 1945, tropas soviéticas entraram cautelosamente em Auschwitz.

Primo Levi, um dos mais famosos sobreviventes, estava deitado em uma tenda médica com escarlatina quando os libertadores chegaram ao campo de extermínio nazista, na Polônia.

Soldados lançavam “olhares estranhamente desconcertados aos corpos espalhados, às cabanas surradas e aos poucos de nós ainda vivos”, escreveria mais tarde Levi, judeu italiano que relatou o período em que passou ali em É Isto Um Homem? (1947).

“Eles não nos cumprimentaram ou mesmo sorriram. Pareciam oprimidos não apenas pela compaixão, mas pelo… sentimento de culpa de que tal crime pudesse existir.”

“Nós vimos pessoas magras, torturadas, exaustas”, descreveu o soldado soviético Ivan Martynushkin sobre a libertação do campo de extermínio. “Podíamos ver por seus olhares que estavam felizes de serem salvos daquele inferno.”

Em menos de quatro anos, a Alemanha nazista matou ao menos 1,1 milhão de pessoas em Auschwitz. Quase 1 milhão eram judeus.

Aqueles deportados ao complexo foram mortos em câmaras de gás, trabalharam até a morte ou foram assassinados em experimentos médicos. A vasta maioria morreu no campo de extermínio Auschwitz-Birkenau.

Seis milhões de judeus foram mortos no Holocausto, a campanha nazista para erradicar a população judaica na Europa, e Auschwitz está no centro do genocídio.

O que foi o Holocausto?

Quando os nazistas chegaram ao poder em 1933, eles começaram a arrancar propriedades, direitos e liberdades do povo judeu. Depois da invasão alemã à Polônia em 1939, os nazistas começaram a deportar judeus da Alemanha e da Áustria para a Polônia, onde criaram guetos para separá-los do resto da população.

Em 1941, durante a invasão alemã na União Soviética, os nazistas começaram de fato a campanha de extermínio. Eles falavam da invasão como uma guerra racial entre os povos germânico e judeu, como a que ocorreu entre os povos eslavos e Roma.

Grupos de soldados alemães chamados de Einsatzgruppen foram destacados para massacrar civis em territórios conquistados no Leste Europeu. Até o fim de 1941, eles haviam matado 500 mil pessoas. Quatro anos depois, o total de assassinados chegou a 2 milhões de pessoas, sendo 1,3 milhão de judeus.

Dentro das linhas de combate, os comandantes nazistas testavam maneiras de matar em massa. Eles temiam que o fuzilamento de pessoas fosse muito estressante para seus soldados, e então passaram a desenvolver maneiras mais eficientes de assassinato.

Furgões experimentais de gás foram usados para matar pessoas com deficiência intelectual na Polônia no início de 1939. Fumaças venenosas eram lançadas em compartimentos fechados para matar quem estava dentro. No inverno de 1941, os nazistas construíram câmaras de gás em Auschwitz.

Em janeiro de 1942, líderes nazistas se encontraram para coordenar a matança em escala industrial. Ao fim da Conferência de Wansee, como ficou conhecida a reunião, eles acertaram qual seria a “solução final para a questão do povo judeu”: matar a população judaica inteira na Europa, cerca de 11 milhões de pessoas, a partir do extermínio e do trabalho forçado.

O que era Auschwitz?

Originalmente, Auschwitz era uma instalação militar no sul polonês. A Alemanha nazista invadiu e ocupou a Polônia em setembro de 1939 e, em maio de 1940, transformaram o local em uma prisão para presos políticos.

A instalação, que tem a infame mentira “O Trabalho Liberta” inscrita em alemão no portão de entrada, passou a ser conhecida como Auschwitz 1.

Com o avanço da guerra e do Holocausto, o regime nazista ampliou o lugar.

Os primeiros prisioneiros a serem mortos com gás foram soviéticos e poloneses em agosto de 1941.

Os assassinatos começaram em um novo campo, Auschwitz 2-Birkenau, no mês seguinte. Esse se tornou um local com enormes câmaras de gás onde centenas de milhares de pessoas foram mortas até novembro de 1944. Os corpos eram, então, queimados em um crematório.

A companhia química alemã IG Farben construiu e operou uma fábrica de borracha sintética em Auschwitz 3-Monowitz. Outras empresas privadas como Krupp e Siemens-Schuckert também operavam fábricas em regiões próximas, a fim de usar prisioneiros como trabalhadores escravizados.

Tanto Primo Levi quanto o prêmio Nobel da Paz Elie Wiesel sobreviveram ao campo de concentração de Monowitz.

Quando Auschwitz foi libertado, havia mais de 40 campos e subcampos.

Como Auschwitz funcionava?

Pessoas de todas as partes da Europa eram amontoadas em trens sem janelas, banheiros, assentos ou comida, e levadas para Auschwitz.

Ali, elas eram imediatamente divididas entre quem poderia trabalhar e quem deveria ser morto imediatamente.

O segundo grupo era obrigado a tirar a roupa e sentar sob chuveiros.

câmaras de gás em Auschwitz IGuardas usaram pelotas de Zyklon B para matar pessoas nas câmaras de gás
Fornos em AuschwitzNazistas cremavam vítimas em fornos

Guardas do chamado “Instituto de Higiene” então despejavam o poderoso gás Zyklon-B nas câmaras seladas e esperavam as pessoas morrerem. Isso durava 20 minutos. As paredes espessas não eram, no entanto, capazes de abafar os gritos daqueles que se sufocavam ali dentro.

Depois os chamados Sonderkommandos — outros prisioneiros, geralmente judeus forçados a trabalhar para os guardas — removiam próteses, óculos, cabelos e dentes artificiais antes de arrastar os cadáveres para os incineradores. As cinzas eram enterradas ou usadas como fertilizantes.

Pertences dos mortos e dos enviados para o trabalho eram levados para triagem em uma parte do campo conhecida como “Canadá” — assim chamada porque o país era visto como uma terra de abundância.

Quem eram as vítimas?

Os guardas da SS tentaram esconder seus crimes quando as tropas soviéticas se aproximaram e tentaram destruir seus extensos registros de prisioneiros — dificultando a quantificação total do número de vítimas.

Estudos acadêmicos concordam que, no total, cerca de 1,3 milhão de pessoas chegaram a Auschwitz —dentre as quais 1,1 milhão morreram lá.

Judeus de toda a Europa controlada pelos nazistas constituíam a grande maioria das vítimas. Quase um milhão de judeus foram assassinados em Auschwitz.

Um exemplo específico foi a população judaica da Hungria. Em apenas dois meses, entre maio e julho de 1944, a Hungria transportou 437.000 judeus para Auschwitz.

Judeus húngaros chegam a Auschwitz em junho de 1944Tantos judeus húngaros foram mortos em tão pouco tempo que os corpos das vítimas foram jogados em covas perto do campo e queimados

Dezenas de milhares de judeus húngaros eram enviados para Auschwitz todos os dias. Três quartos deles foram mortos na chegada.

Cerca de 75.000 civis poloneses, 15.000 prisioneiros de guerra soviéticos, 25.000 ciganos dos grupos Roma e Sinti, bem como homossexuais e prisioneiros políticos também foram mortos pelo Estado alemão no complexo de Auschwitz.

O que aconteceu quando Auschwitz foi libertado?

As autoridades alemãs ordenaram a suspensão dessa prática e a destruição das câmaras de gás e crematórios no final de 1944, quando as tropas soviéticas começaram a avançar para o oeste. O estoque de objetos de valor roubados no setor Canadá foi enviado para a Alemanha logo depois.

Determinados a apagar as evidências de seus crimes, os nazistas ordenaram que dezenas de milhares de prisioneiros restantes marchassem para o oeste, para outros campos de concentração, como Bergen-Belsen, Dachau e Sachsenhausen. Os que estavam doentes demais para andar foram deixados para trás; quem não conseguia acompanhar a marcha era morto.

As forças soviéticas encontraram apenas alguns milhares de sobreviventes quando entraram no campo em 27 de janeiro de 1945, junto com centenas de milhares de roupas e várias toneladas de cabelo humano. Mais tarde, os soldados lembraram que tiveram que convencer alguns sobreviventes de que os nazistas haviam realmente ido embora.

Elie Wiesel disse em um discurso para marcar o 50º aniversário da libertação que os crimes nazistas em Auschwitz “produziram uma mutação em escala cósmica, afetando os sonhos e esforços do ser humano”.

“Depois de Auschwitz, a condição humana não foi mais a mesma. Depois de Auschwitz, nada será igual.”

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