Nota de Repúdio da Quadrilha Junina Buscapé as ofensas verbais publicadas em redes sociais

Redação

A Direção da Quadrilha Buscapé do bairro Quidé, em Juazeiro, solicitou espaço para divulgar uma nota de repúdio rebatendo acusações racistas que foram divulgadas em redes sociais contra o grupo. Mesmo o jornal não divulgando, cedeu o espaço para que fatos indesejosos como este não sejam disseminados por pessoas insanas.

De acordo o representante do grupo, “houve mais um caso de racismo e discriminação contra as religiões afro-brasileiras em Juazeiro -Bahia. No último sábado, a quadrilha buscapé do bairro Quidé foi campeã do concurso de quadrilhas promovido pela prefeitura da cidade, lá no Paulo VI. O resultado foi recebido com insatisfação por algumas pessoas preconceituosas que estavam presentes e que proferiram discursos e palavras pejorativas contra o grupo. Acharam pouco, foram para as redes sociais disseminar o discurso de ódio”.

Veja a Nota de Repúdio

Não é de hoje, que frases preconceituosas e expressões pejorativas são direcionadas às práticas culturais afro-brasileiras, especialmente, às expressões de religiosidade. A Junina Buscapé levou para os arraiais em 2019, um tema caro aos afro-religiosos e aos moradores do Bairro do Quidé, na cidade de Juazeiro da Bahia. A história do bairro do Quidé está atrelada aos terreiros de Candomblé da região. Ainda hoje é a comunidade que possui o maior número de terreiros de candomblé e umbanda da região do Vale do São Francisco, contabilizando estatisticamente o maior número de denúncias de intolerância religiosa nos últimos anos.

Casos de agressões físicas, humilhações públicas e nas redes sociais, apedrejamento de casas, objetos ritualísticos destruídos, entre outras formas de perseguição e discriminação fazem parte do cotidiano dos moradores do bairro e dos adeptos das religiões afro-brasileiras. No início do século passado, o Estado e a Igreja Católica eram os principais responsáveis pela perseguição e desqualificação da cultura afro-brasileira. Nos últimos anos, novos protagonistas assumem a liderança de tal violência: as religiões neopentecostais e seus seguidores que se espalham numerosamente nas periferias das cidades difundindo discursos de ódio, no intuito de converter aqueles que pensam diferente deles e por isso taxados de “infieis”, aproximando-se de uma nova “guerra santa”. A Junina Buscapé levou para os arraiais justamente um assunto que vivencia no seu cotidiano e está presente no dia a dia de milhares de afro-religiosos no Brasil: a intolerância religiosa.

De forma lúdica, por meio da dança, da música e do teatro, a comunidade não se cala e trata do conflito entre a igreja católica e o candomblé, justamente porque acredita no alcance do potencial da arte. A quadrilha junina é também um canal de politização, de formação, informação e combate ao preconceito religioso e ao racismo. Ao racismo sim, porque as palavras e expressões pejorativas que foram proferidas no ato da divulgação do resultado do concurso da prefeitura de juazeiro, ontem, 06/07/19, foi um ato de racismo religioso.

O tema do candomblé está atrelado à cultura africana no Brasil, por isso assunto de preto, descendente de africano escravizado e pobre de periferia. Uma trilogia cara à sociedade brasileira que vive há anos querendo sustentar o mito da democracia racial. Acreditamos na eficácia do poder transformador da cultura. Não queremos estimular a violência, às agressões físicas e verbais nas redes sociais com o assunto. Pelo contrário, fomos para os arraiais protestar por uma sociedade mais justa e igualitária, onde todos tenham os mesmos direitos e oportunidades de ser livres para seguir a religião que quiser, para não ter religião e/ou para acreditar em mais de uma religião. Não importa a forma que escolhemos para nos comunicar com o sagrado.

Para nós da Junina Buscapé o que importa é um mundo com mais amor, pacífico, com mais solidariedade e respeito. Acreditamos que amanhã será um novo dia, quem sabe mais colorido, acolhedor e repleto de boas ações e intenções.

Mário Ribeiro Prof da UPE e Dr em Cultura Popular e Membro Diretor da Quadrilha Junina Buscape/Bairro Quidé,  Juazeiro – Ba.

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