Em 3 de agosto de 1492, com o aval dos reis católicos da Espanha, o explorador italiano Cristóvão Colombo partiu do porto de Palos de Moguer, no sul da Península Ibérica, rumo às Índias.
Ele e sua tripulação navegaram pelo Oceano Atlântico nas embarcações Santa Maria, Pinta e Niña por cerca de 70 dias até que, na noite de 11 e 12 de outubro, se depararam com uma ilha que acreditavam ser seu destino final.
“Eles chegaram a uma ilhota (…) chamada na língua dos índios de Guanahani”, diz o livro “As quatro viagens e o testamento”, de Cristovão Colombo, que compila as anotações dos diários do explorador.
Em seguida, essa ilha, habitada por indígenas taínos, foi chamada por Colombo de San Salvador.
Sabe-se que a localidade fazia parte do arquipélago das Antilhas. Atualmente, há um debate entre historiadores sobre se essa ilha seria San Salvador (Watling), nas Bahamas.
Mas San Salvador foi apenas o primeiro de uma série de nomes com os quais Colombo batizou terras, rios, cabos, penínsulas e portos no novo território.
E muitos deles estão documentados em seus diários de viagem.
Mas quais são eles?
Trabalho difícil
Pegar um mapa e traçar a rota que Colombo fez não é uma tarefa fácil.
Ainda mais complexo é tentar combinar as centenas de territórios e acidentes geográficos que Colombo batizou e que ainda mantêm seu nome de batismo.
Historiadores consultados pela BBC News Mundo, o serviço de notícias em espanhol da BBC, dizem se tratar de um trabalho que ninguém fez.
“Encontrar os nomes que ele deu não é muito complicado, mas saber se eles ainda estão em uso é mais difícil”, explica à BBC News Mundo o historiador luso-americano Manuel Rosa.
Confira abaixo, em ordem alfabética, a lista dos países no continente americano que foram batizados por Colombo há mais de 500 anos.
1. Antigua e Barbuda
Esta pequena nação é composta por Antigua e Barbuda, que são as duas maiores e mais importantes ilhas do arquipélago, além de ilhotas, incluindo a desabitada Redonda.
Antigua foi visitada por Cristóvão Colombo em 1493 , durante sua segunda viagem ao “Novo Mundo”.
Ele a batizou em homenagem à igreja de Santa María de la Antigua, em Sevilha, na Espanha, de acordo com o “Dicionário Conciso de Nomes de Lugares do Mundo”, da editora britânica Oxford.
Então, em 1632, Antígua foi colonizada pelos ingleses e o mesmo aconteceu com Barbuda, em 1678. Esta última tornou-se dependente de Antígua no século 18.
Nos dois séculos seguintes, as ilhas permaneceram sobre domínio britânico até que, em 1981, Antígua e Barbuda declararam sua independência.
2. Costa Rica
Cristóvão Colombo deu nome a esse país em 1502, durante sua quarta viagem.
“Possivelmente por causa da crença (errada) de que encontraria ouro lá, já que nativos usavam ornamentos desse metal precioso. O que ele não sabia era que o ouro era importado”, diz o livro da editora Oxford.
No entanto, a costa era rica em madeira, frutas e água.
O nome Costa Rica foi oficializado em 1539 e, no ano seguinte, embora ali não houvesse assentamentos espanhóis até 1561, começou a fazer parte do vice-reinado da Nova Espanha.
Em 1568, a região foi absorvida pelo novo reinado da Guatemala, até declarar independência em 1821 e ingressar no Império Mexicano.
Dois anos depois, foi um dos membros fundadores das Províncias Unidas da América Central.
A Costa Rica é uma república independente desde 1848. E, curiosamente, sua moeda é chamada de colón (colombo, em espanhol).
3. Cuba
O nome de Cuba é um caso muito especial entre todos os nomes atribuídos por Cristóvão Colombo.
E é talvez um dos que ele mais menciona em seus diários de viagem. Aparece cerca de 19 vezes durante a primeira viagem, de acordo com o livro “As quatro viagens e o testamento”.
“O que aconteceu com o nome Cuba é algo engraçado, porque ele a chama de Juana e os nativos a chamam de ‘Colba’ e, na próxima vez em que ele menciona o nome da ilha, ele passa a chamá-la de Cuba”, explica Rosa, autor de vários livros sobre a vida de Cristóvão Colombo.
Em 23 de outubro de 1942, Colombo escreveu: “Gostaria de partir hoje para a ilha de Cuba, que acredito ser Cipango, de acordo com os sinais dados por essas pessoas sobre sua grandeza e riqueza”.
Cipango é o nome pelo qual europeus e chineses chamavam o Japão. Portanto, é provável que Colombo tenha pensado que Cuba era o Japão, como ele mesmo expressa em seu diário.
Apenas em 5 de dezembro daquele ano, Colombo chama Cuba de Juana. A partir de então, faz essa correlação várias vezes no diário, como se as duas palavras fossem sinônimas.
Outro fato marcante é que “o único lugar que se chamava Cuba naquela época se localizava em Portugal”, acrescenta Rosa, destacando a suposta conexão entre o explorador e o reino de Portugal.
4. Dominica
O país caribenho foi visitado por Cristóvão Colombo em 3 de novembro de 1493, um domingo.
Por isso, o explorador o batizou em homenagem ao dia de Deus, no Latin Dies Dominica ou domingo.
Os nativos o chamavam de Waitukubuli, que significava “alto como seu corpo”, em referência à cordilheira que percorre a ilha de norte a sul, diz o livro da editora Oxford.
Dominica passou às mãos dos britânicos em 1783 e fez parte de várias federações coloniais durante os dois séculos seguintes.
Tornou-se um Estado Associado do Reino Unido com um governo autogerenciado em 1967, antes de se tornar uma república independente em 3 de novembro de 1978, coincidindo com o 485º aniversário da chegada de Colombo à ilha.
5. Jamaica
A Jamaica foi visitada por Colombo em 1494.
Embora o explorador não lhe tenha dado esse nome, sempre se referia à localidade dessa maneira.
Colombo menciona “Jamaica” seis vezes em sua quarta viagem.
O nome original dado pelos aborígines aruaques à ilha é Xaymaca ou Yamaya, que significa “terra de madeira e água”.
Mais tarde, em seu testamento, Colombo a chamou de Santiago : “Descobri muitas ilhas (…), entre as quais a Jamaica, que chamamos de Santiago”. Mas claramente esse nome não perdurou.
A ilha ficou sob posse espanhola até 1655, quando foi conquistada pelos britânicos.
A Jamaica é um estado independente desde 1962.
6. Hispaniola
Hispaniola é a ilha compartilhada pela República Dominicana e pelo Haiti.
E foi o primeiro assentamento espanhol no “Novo Mundo”.
Os nativos chamavam a ilha de Bohio, Baneque ou bareque antes de Colombo chegar em 1492 e batizá-la de Hispaniola.
Durante a presença espanhola, às vezes foi chamada de Santo Domingo (atual nome da capital da República Dominicana).
7. Santa Lúcia
Acredita-se que a ilha tenha sido visitada por Colombo pela primeira vez em 1502, possivelmente em 13 de dezembro, dia de Santa Lúcia.
Trocou de mãos entre franceses e ingleses várias vezes durante o século 17, mas mas foi cedida ao Reino Unido em 1814 e tornou-se uma das Ilhas de Barlavento em 1871.
Santa Lúcia ganhou independência em 1979.
Seu nome original era Iouanalao, que significa “o lugar onde a iguana foi encontrada”, de acordo com o livro da editora Oxford.
8. São Vicente e Granadinas
Colombo chegou à ilha de São Vicente em 22 de janeiro de 1498, no dia em homenagem a San Vicente de Zaragoza, um mártir que morreu torturado em 304.
O nome das Granadinas refere-se à cidade espanhola de Granada.
As ilhas de São Vicente e Granadinas passaram ao domínio britânico em 1763, embora os aborígines nativos tenham mantido o controle da ilha até 1796.
O nome original de São Vicente era Youlou ou Hairoun, que significa “Lar dos Abençoados”.
São Vicente e Granadinas conquistou sua independência em 1979.
9. Trinidad (e Tobago)
O arquipélago é composto por duas ilhas principais, Trinidad, que é a maior e a mais populosa, e Tobago, além de várias ilhas menores.
A República de Trinidad e Tobago era originalmente chamada de Leré pelos nativos caribenhos, o que significa “Terra dos beija-flores”.
Cristóvão Colombo chegou à ilha em 1498 e deu o nome de Trinidad por causa dos três picos que cercam o sul da baía onde desembarcou. Para ele, representavam a Santíssima Trindade, explica o livro da editora Oxford.
Nos diários de suas quatro viagens, Colombo descreve repetidamente a beleza que encontrava enquanto percorria a região.
“As águas são sempre muito claras e o fundo é visível … São ilhas muito verdes e férteis com ar muito doce, e pode haver muitas coisas que eu não sei …”.
“Acredito que exista o Paraíso Terrestre, aonde ninguém pode ir, exceto por vontade divina. E acredito que esta terra que Vossas Altezas mandaram descobrir agora é muito grande e há muitos outros no Austro de que nunca houve notícias”, escreveu o explorador.