Prefeito de Serrita interfere até na igreja para usar Missa do Vaqueiro como moeda política

A quatro meses de sua realização, a edição deste ano da Missa do Vaqueiro pode acontecer em meio à batalha judicial. Isto porque o prefeito de Serrita, Sebastião Benedito dos Santos, resolveu politizar o evento que já é tradição há 53 anos no Sertão pernambucano.

De acordo com Helena Câncio, esposa do fundador do evento, o Padre João Câncio, que criou a liturgia, a propriedade intelectual da história da missa, que se tornou uma referência religiosa e cultural do município, é da Fundação Padre João Câncio, excluída pelo prefeito do evento deste ano.

“A missa foi criada em 1970 pelo padre João Câncio, com quem fui casada. Mais adiante, em 1972, se juntou a esse projeto de celebração Luiz Gonzaga, Pedro Bandeira, e Janduhy Finizola, que adaptaram a obra ao que todos assistem atualmente”, explica Helena.

Quando João faleceu, em 1989, no mesmo ano, enquanto familiar, não nos envolvemos no evento. Passamos dez anos afastados. Depois, começamos a realizar trabalhos sociais voltados para os vaqueiros, os homens do campo, um verdadeiro trabalho de resgate do sentido institucional da Missa do Vaqueiro, que tinha virado um evento de shows artísticos bancados pelo Governo do Estado e executado pelo governo municipal”, revela Helena Câncio, complementando que para efetuar esse resgate, fundou, em 2001, a Fundação Padre João Câncio.

Segundo ela, desde então, a celebração da Missa do Vaqueiro vinha sob a responsabilidade da Fundação Padre João Câncio, mas agora, o prefeito decidiu que a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, representada pelo Pe. Erasmo, ficará à frente do projeto.

“Como o prefeito pode entregar o que não é dele? O município não tem a propriedade intelectual da Missa do Vaqueiro, que não é uma liturgia convencional, mas que foi adaptada para abordar as questões culturais do Sertão”, argumenta Helena Câncio. Ela complementa que desde sempre a Paróquia Nossa Senhora da Conceição, a primeira que o Padre João Câncio atuou em Serrita, esteve presente na celebração.

“No meu entendimento, o que o Padre Erasmo quer com esse convênio com a Prefeitura de Serrita é trabalhar o projeto de João Câncio e Luiz Gonzaga com o único fim que é o dinheiro”, desabafa.

Diante dos fatos apresentados, Helena Câncio afirma que além de denunciar o município na esfera judicial, vai denunciar o padre Erasmo ao Núcio Apostólico, que é representação do Vaticano no Brasil.

A origem desse imbróglio, segundo Helena conta, foi uma decisão recente do Estado de Pernambuco, que resolveu ceder ao município de Serrita em comodato o local onde é realizada a Missa do Vaqueiro, de propriedade do Governo.

“O Estado não pode transferir uma história que não é dele. O comodato fala somente do uso do solo, não do evento. Ou seja, da forma como está posta, vai se descaracterizando um evento que tem um sentido tão bonito e 53 anos de história e que elimina os mais de 20 anos de trabalhos prestados pela Fundação Padre João Câncio apenas para promoção política”, pontua.

Fonte: Blog do Magno Martins

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