As pessoas se apropriam do nome e legado do médium para enganar os incrédulos e reafirmar suas teorias catastróficas
“Guardai-vos dos falsos profetas
que vêm ter convosco cobertos
de peles de ovelha e por dentro
são lobos rapaces. Conhecê-los-ei
pelos seus frutos.”
Mateus, cap. VII. vv. 15 a 20
Nos últimos dias temos visto uma quantidade enorme de pessoas, espíritas ou não, compartilhando uma possível profecia atribuída a Chico Xavier, um dos médiuns mais respeitados do mundo.
Coitado! Depois de morto virou o profeta do apocalipse segundo o espiritismo (ou segundo alguns “espíritas”), o que em si já é um tremendo absurdo.
Evidente que, não à toa, envolvem o bondoso Chico em mais essa fake news. Como trata-se de uma figura respeitada em todo o mundo, as pessoas se apropriam do seu nome e legado para enganar os incrédulos e para reafirmar suas teorias catastróficas.
Primeiramente é importante destacar que espírita nenhum acredita em profecia e muito menos em limite de data para nossa evolução. Nós não somos uma “experiência” de Deus, tampouco, suas marionetes.
Indagados sobre isso, os espíritos responderam à Kardec:
“Devem, além disso, considerar-se suspeitas, logo à primeira vista, as predições com época determinada, assim como todas as indicações precisas, relativas a interesses materiais.”
Mas se essa ideia não faz nenhum sentido doutrinariamente falando, de onde mesmo ela surgiu?
Utilizando-se como base a entrevista que Chico concedeu para o Programa Pinga Fogo, em 1971, os entusiastas do fim do mundo resolveram dar margem as suas sandices após a publicação do livro “Não será em 2012”, culminando com o documentário “Data Limite segundo Chico Xavier”.
Essa “Data Limite” sugere que “Cristos Planetários”, reunidos na órbita da Terra, concederam a nós, humanidade terrena, uma espécie de “moratória” de 50 anos que venceria no próximo dia 20 de julho de 2019 com a eclosão (ou não) da 3ª Grande Guerra Mundial. Em resumo, é como se nós, os terráqueos, não fossemos suficientemente maduros (e às vezes acho que não somos mesmo, mas falamos disso em outro texto) e nossos vizinhos, de outros planetas mais evoluídos, tivessem estabelecido um prazo para que “entrássemos na linha”.
Isso é totalmente incompatível com os ensinamentos dos espíritos e com os postulados de Kardec.
Nós espíritas acreditamos que a Terra está passando por um processo de transição planetária, de um mundo de provas e expiações, para um mundo de regeneração.
Mas isso é tão gradual, seguindo o ritmo da evolução do nosso Universo, que quando percebermos, já estaremos em condições evolutivas melhores.
Nos mundos de regeneração, o mal não predomina na maioria dos seus habitantes, e ao passar do tempo, o bem irá predominando sobre as intenções da imperfeição espiritual e moral.
“O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capítulo 3, item 17, traz o seguinte ensinamento do Espírito Santo Agostinho:
“Os mundos regeneradores servem de transição entre os mundos de expiação e os felizes. A alma que se arrepende, neles encontra a paz e o descanso, acabando por se purificar.”
Para o Espiritismo, a evolução envolve aspectos distintos e plurais, com infinitas trajetórias possíveis. Não é um processo linear, não há um caminho certo. A evolução não é apenas individual, mas do grupo de pessoas, encarnadas e desencarnadas, ao qual se está ligado. Evoluir implica em mudar a mentalidade e a massa crítica do grupo social.
A evolução não se encerra, não há um fim, não há um lugar a ser alcançado, pré-determinado, aonde todos, necessariamente, teremos que chegar.
Segundo os ensinamentos dos espíritos, evoluir significa modificarmos alguns comportamentos, por meio das sucessivas experiências (e vidas), ultrapassando limites pessoais, desenvolvendo potencialidades e ampliando a nossa capacidade de fazermos para os outros aquilo que gostaríamos que os outros nos fizessem. Jesus é o nosso modelo e guia.
Certamente, os que divulgaram essa “data limite”, quando perceberem se tratar de mais uma teoria sem embasamento nenhum e sem nenhuma lógica espírita, dirão que, graças as suas “vibrações de amor”, a espiritualidade desistiu de por um fim ao planeta Terra. Conhecemos bem essa gente.
Essa profecia é mais uma agressão à memória de Chico Xavier e um desrespeito ao espiritismo, doutrina pautada pelo bom senso e pela fé raciocinada.
Estudemos Kardec, para vivermos Jesus!