PSDB não vai explorar o “mensalão” na campanha de 2014, garante Sérgio Guerra
A promessa do parlamentar já era previsível porque os tucanos de Minas também têm um “mensalão” nas costas, que deixaria mal na fita o ex-governador Eduardo Azeredo, hoje deputado federal, e não convinha explorar o do PT na próxima campanha eleitoral.
Veja, abaixo, alguns trechos da entrevista:
Carta – Em 2014, assistiremos a uma eleição novamente virulenta, em que os debates programáticos devem perder espaço para ataques entre PT e PSDB relacionados a casos de corrupção?
Sérgio Guerra – O surgimento de candidaturas como a do governador Eduardo Campos e outras são boas para o País e para a democracia porque obriga o debate eleitoral a fugir de uma polarização que sempre foi alimentada pelo PT como a luta do “bem” contra o “mal”. Sendo assim, acredito numa eleição com mais conteúdo no debate. E nesse cenário, nosso candidato Aécio Neves tem tudo para se consolidar e pôr um fim nessas campanhas que produziram uma reserva de mercado de votos para o PT. Será uma eleição múltipla e, portanto, muito difícil para a presidente Dilma Rousseff, que enfrentará Aécio no Sudeste e Eduardo no Nordeste. As consequências do escândalo do mensalão já se deram agora, com o Supremo fazendo cumprir a lei. Não temos que eleitoralizar um assunto que foi e ainda está sendo tratado no âmbito jurídico, que é o seu fórum adequado. O debate da eleição tem que ocorrer em torno das questões importantes para o Brasil. Sem incorrer no jogo petista que sempre buscou fazer da disputa uma falsa divisão do País apresentando ao eleitorado o candidato deles como o mandatário de todas virtudes contra os demais como a tradução do mal.
Carta – Nos últimos 19 anos, PT e PSDB foram os únicos partidos a ocupar o poder. Como o senhor avalia essa polarização? Ela faz bem ou mal ao País?
Sérgio Guerra – PSDB e PT fizeram muito ao Brasil. O País é outro depois dos dois governos do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o PT teve o bom senso de manter algumas políticas, nos campos econômico e social, que produziram uma continuidade das gestões do PSDB que deram certo. Mas no campo político e eleitoral, essa polarização PSDB-PT engessa de certa forma o bom debate e não é bom para o Brasil. Mas foi o PT quem alimentou perversamente essa polarização. Lutou com todas as armas para evitar que outras forças políticas participassem do embate eleitoral e, assim, o retirasse do cenário de, mais uma vez repito, do ‘bem contra o mal’. Essa eleição terá um caminho diferente. Tenho esperança de que a disputa de 2014, diante da multiplicidades de candidaturas que se apresentam, romperá com a polarização. E só o Brasil ganhará com isso.
Carta – O senhor acha possível que um dia tucanos e petistas consigam dialogar com mais naturalidade, respeitando um ao outro?
Sérgio Guerra – Os partidos no Brasil precisam se renovar. Não apenas em seus quadros, mas no seu conteúdo programático e na forma como o defende. Seguramente, em isso ocorrendo, os partidos estarão mais maduros para o debate, sobretudo nos momentos de disputa eleitoral. O PT se transformou numa legenda populista, obstinada pelo poder. E isso dificulta um diálogo construtivo em favor do Brasil. A democracia petista é aquela que lhe convém. Quando se sente ameaçado, o PT é capaz de criminalizar a campanha, de gerar falsos dossiês que levam a discussão política para um sangrento embate onde quem perde é o País. É preciso respeitar os partidos, aliados ou não. E não se valer do poder da caneta que franqueia cargos sem critérios técnicos e libera convenientemente emendas de recursos do orçamento da União produzindo um verdadeiro mensalão indireto. Por esse caminho, o diálogo entre os partidos ficará restrito ao campo que o povo está claramente sinalizando nas ruas que não aceita mais.