Se racionamento de energia for necessário, atividade econômica pode ficar comprometida

Se o apagão se concretizar, analistas avaliam que o PIB encolheria ainda mais este ano e potencializaria as chances da atividade econômica ficar próxima de zero em 2015

Estado de Minas

Antonio Temóteo

O risco de racionamento de energia elétrica é cada vez maior com o prolongamento da estiagem. Se o apagão se concretizar, analistas avaliam que o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil encolheria ainda mais este ano e potencializaria as chances da atividade econômica ficar próxima de zero em 2015. Em meio a enxurrada de notícias negativas, o governo já teve acesso a dados que indicam que o período de seca a partir de maio pode ser mais forte do que no ano passado, fator que aumentaria a demanda.

Caso isso ocorra, o Palácio do Planalto teria de obrigar os brasileiros a diminuir o consumo de energia, algo com potencial explosivo para a candidatura à reeleição da presidente, Dilma Rousseff, que sempre defendeu menores tarifas e a qualidade do sistema brasileiro. Para tentar acalmar o mercado, o Operador Nacional do Sistema (ONS) apresentou uma nova previsão para a situação dos reservatórios no fim deste mês.

A estimativa do ONS é de que as represas no Sudeste cheguem a 36,8% da capacidade de armazenamento ao invés de 36,5%. E no Sul, a 42,8% ante uma previsão anterior de 39,9%. O órgão ainda indicou maior geração térmica para operação da próxima semana, que deve passar 16 Gigawatts médios para 17,6GW. Mesmo em viagem pelo país, Dilma tem acompanhado diariamente a situação do setor elétrico. A ordem é negar qualquer risco de racionamento, mas reservadamente ela discute com os auxiliares a possibilidade de criar uma campanha para incentivar a racionalização dos recursos.

Entre as medidas que o governo deve adotar no curto prazo para tentar diminuir o problema é pressionar os industriais a diminuir o consumo e obrigar as empresas do sistema Eletrobras a desligar as turbinas de geração durante a noite. Essa última medida pode ser um tiro no pé, uma vez que isso aumenta o risco de que os equipamentos sofram uma pane. Procurado, o Ministério de Minas e Energia negou que haja um risco de racionamento no país e também afirmou que desconhece qualquer debate sobre o incentivo a racionalização de energia.

AÇÕES

Na opinião do coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Nivalde de Castro, o governo deveria estimular os brasileiros a consumir menos energia elétrica, de maneira voluntária, com a possibilidade oferecer descontos na conta de luz. Para ele, essa medida não traria grandes impactos à economia e seria uma maneira de combater o desperdício. “O Executivo já tem demorado para colocar isso em prática. Se nada ocorrer e o racionamento vir, a economia brasileira será prejudicada, sobretudo em 2015”, completou.

O diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura Adriano Pires criticou o fato de o Executivo transformar as discussões sobre o setor elétrico em agenda eleitoral. Ele destacou que o governo Dilma não toma providências para conter os problemas de abastecimento porque teme um impacto na campanha à reeleição presidencial. Pires ressaltou que o Palácio do Planalto tem demonstrado preocupações apenas com o impacto fiscal para custear as termelétricas, aos invés de se atentar ao risco de falta de energia.

Na avaliação dele, essa inércia comprometerá o PIB brasileiro em 2014 e acabará com qualquer expectativa de crescimento econômico no próximo ano. “O ideal seria ir para televisão e pedir para que os consumidores e as empresas diminuam o uso da energia. O governo é irresponsável ao ignorar os riscos de apagão e fazer vista grossa para a possibilidade de racionamento. Criaram uma bomba-relógio que pode explodir a qualquer momento”, finalizou.

Para o economista-sênior do Espirito Santo Investment Bank, Flávio Serrano, caso um racionamento se concretize, as previsões de que a economia cresça pelo menos 1,5% em 2014 devem despencar. Ele avalia que o potencial de danos ao PIB dependem do tempo que durar a obrigatoriedade na redução do consumo. “Isso obviamente levaria o nível de atividade próximo ou até mesmo inferior a zero em 2015”, disse.

Enquanto isso…
…MPF cobra transparência

Com o objetivo de que as concessões de energia elétrica sejam mais transparentes, o Ministério Público Federal (MPF) enviou uma recomendação ao Ministério de Minas e Energia (MME) e à Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) pedindo uma ampla divulgação de estudos relacionados aos critérios de qualidade para prorrogação ou não dos contratos com as concessionárias. Assinado pelo procurador da República no Distrito Federal, Paulo José Rocha Júnior, o texto sugere, ainda, que a renovação seja realizada somente após “dados técnicos adequados”, em atendimento ao princípio da motivação previsto em lei. A recomendação lembrou o apagão ocorrido no Distrito Federal em 4 de outubro de 2012, quando houve danos ao sistema de transmissão elétrica operado pela Companhia Energética de Brasília (CEB), além de interrupção de cargas.

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