Suspeito de agredir médica, PM do Batalhão de Choque presta depoimento sobre o caso

A médica (de calça jeans e blusa preta) é carregada por um homem durante agressões
A médica (de calça jeans e blusa preta) é carregada por um homem durante agressões Foto: Reprodução
Carolina Heringer

O sargento da Polícia Militar Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro, de 43 anos, foi identificado pela 20ª DP (Vila Isabel) como um dos suspeitos de terem agredido a médica Ticyana D’Azambuja, no Grajaú, Zona Norte do Rio, no último sábado. Dono de um veículo que foi danificado pela anestesista, o PM foi ouvido nesta terça-feira no Batalhão de Polícia de Choque, no Estácio, onde é lotado. A unidade e a corregedoria da Polícia Militar abriram procedimentos administrativos para apurar a conduta de Salgueiro e dos policiais militares que foram acionados para a ocorrência.

Uma cópia do depoimento de Salgueiro foi encaminhada para a corregedoria. O órgão vai realizar uma apuração preliminar que pode resultar na abertura de um Inquérito Policial Militar (IPM) contra os PMs. O depoimento de Salgueiro também estava marcado para a tarde desta terça-feira, na 20ª DP, responsável pelas investigações do caso. O EXTRA, no entanto, não conseguiu confirmar se o policial compareceu.

A médica relata ter sido agredida por frequentadores de uma festa que ocorria em uma casa no bairro do Grajaú no último sábado, entre eles o PM Luiz Eduardo dos Santos Salgueiro. Ticyana afirma ter decidido ir até a residência para tentar acabar com a comemoração. Ela afirma ter tocado no interfone e conversado com quem lhe atendeu, mas seu pedido não foi atendido. A médica, então, quebrou o espelho retrovisor e trincou o para-brisa do carro de policial militar, que estava estacionado em cima da calçada. Segundo ela, depois disso, alguns homens saíram da casa, entre eles o PM, e as agressões tiveram início.

Ticyana relata que teve o joelho esquerdo quebrado e as mãos pisoteadas. Fotos que circulam em redes sociais e foram obtidas pelo EXTRA mostram parte das agressões sofridas pela profissional de saúde.

“Foi errado. Foi impensado. Foi estúpido. Mas sou humana e fiz uma besteira contra um bem material de outra pessoa. Não foi um ato contra nenhum outro ser humano, isso eu sou incapaz de fazer. 5 marmanjos (me lembro de uns 5) saíram, e obviamente, bêbados e drogados, típicos ‘cidadãos de bem’, não estavam para conversa. Apavorada, vi o potencial da besteira que fiz e saí correndo. Me agarraram em frente ao Hospital Italiano. Me enforcaram até desmaiar. Me jogaram no chão e me chutaram. Quando retornei à consciência, gritava por Socorro! Isso aconteceu no dia 30 de Maio por volta de 17h, em plena luz do dia”, relatou a médica numa postagem em rede social que já conta com quase 5 mil comentários e mais de 150 mil curtidas.

Ticyana lamentou a falta de apoio das pessoas que presenciaram a agressão. Só três pessoas a apoiaram. Um deles, um vizinho saiu em sua defesa e levou um soco na boca. Um dos agressores teria mandado trazer um carro e ameaçado dar um “sumiço” na vítima que, nesse momento, chegou a ter certeza que fosse morrer. Ela disse que foi arrastada até a altura de uma unidade do Corpo de Bombeiros, aos quais implorou ajuda e que garantissem sua integridade física até a chegada da polícia, mas eles não teria sido atendida. Uma viatura da PM apareceu em seguida e depois mais duas.

Apesar da chegada dos PMs, o caso não foi encaminhado para a delegacia. O procedimento aberto pela corregedoria tem como objetivo apurar a conduta dos policiais que estiveram no local. Em nota enviada nesta segunda-feira, a Polícia Militar afirmou que de acordo com informações do boletim de ocorrência da PM elaborado pela equipe no local, as partes entraram em comum acordo e não foi realizado o registro na delegacia.

“Estou muito chorosa, triste, e sem fé na Humanidade. A impunidade vai reinar mais uma vez nesse caso. Mas o que mais me doeu, foi ter clamado por ajuda, e dezenas, talvez uma centena de pessoas viram o que aconteceu e 3, somente 3 se dignificaram a socorrer uma pessoa em perigo. Sempre fui atuante na comunidade do Grajaú, e quando precisei de socorro, fui abandonada aos chutes e gritos de “Mata mesmo!”. O que me dói mais não é o grito dos maus, é o silêncio dos bons. Se as festas acabarem na casa da marechal jofre, lembrem-se que custou meu trabalho de médica e meu joelho”, escreveu na rede social.

Além de investigar as agressões sofridas por Ticyana, a delegacia de Vila Isabel também investiga a realização das festas na casa, que eram frequentes mesmo no período de isolamento social. Nessa segunda-feira, o responsável pela festa do último sábado prestou depoimento.

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