Há 40 anos, o Brasil era pintado de vermelho e preto pela primeira vez. O 1º de junho de 1980 marcou a vitória do Flamengo sobre o Atlético-MG por 3 a 2, no Maracanã, e abriu a galeria de conquistas nacionais. Se hoje a torcida canta orgulhosa por ser “heptacampeã”, foi aquela geração que fez o clube mudar de patamar. Erguer o troféu não simbolizou apenas um ineditismo, mas uma guinada na história rubro-negra.
— Obviamente o que marca definitivamente aquela geração é o fato de ter vencido a Libertadores e o Mundial. E isso só é possível por ter sido campeã nacional, ganhando vaga na Libertadores. Mas havia outra questão: até então o Flamengo era um time extremamente popular, com torcida nacional, mas de conquistas muito restritas às fronteiras do Rio. Havia contestações até ao Zico, chamado em algumas regiões do Brasil de jogador de Maracanã, um absurdo completo. A conquista nacional ajuda a desmanchar alguns argumentos — conta Carlos Eduardo Mansur, colunista do GLOBO.
A base da equipe campeã brasileira em 1980 foi formada no final dos anos 1970, e conquistou o tricampeonato carioca em 1978 e duas vezes em 1979.
Nos anos 1980, o Flamengo conquistaria mais três Brasileiros (1982, 1983 e 1987), uma Libertadores e um Mundial (1981). Esses feitos imortalizaram nomes como Junior, Leandro e Zico, que vê o título de 1980 como a afirmação daquela geração. Para o Galinho, o início da “era de ouro” começou no Carioca de 1978, mas ser campeão nacional foi importante para a consolidação da equipe.
— O Campeonato Carioca do Rondinelli (autor do gol da final contra o Vasco), foi decisivo pois estávamos sendo contestados e a equipe poderia ser desfeita. O Brasileiro foi uma afirmação, teve uma importância muito grande. Em 1980, vieram reforços, teve a consolidação de Tita, de Andrade, de jogadores que vieram da segunda geração nossa. Fizemos um grande campeonato — comenta o Galinho.
Antes de 1980, a melhor campanha do Flamengo em Brasileiro foi em 1964, quando ficou com o vice-campeonato — foi derrotado para o Santos de Pelé na decisão, com goleada de 4 a 1 no placar agregado. Até então, sequer havia chegado entre os quatro primeiros colocados. De 1980 para cá, o rubro-negro soma 18 títulos fora do âmbito estadual e é o maior campeão do país ao lado do São Paulo.
— Foi a quebra do paradigma para o Flamengo, que vinha de sonhos quebrados. Em 1975, contra o Santa Cruz (eliminou o Flamengo nas quartas de final daquele Brasileiro), em 1979, contra o Palmeiras (também eliminou o Fla nas quartas)… — lembra o jornalista Paulo Vinícius Coelho, do Grupo Globo.
Outro ponto de virada na história rubro-negra foi conseguir afastar o rótulo de “equipe caseira”. Neste ponto, até mesmo o adversário favoreceu a virada de página.
O Atlético-MG era um dos grandes times do cenário nacional e era considerado o favorito para aquela final pelos jornais da época. O Galo tinha nomes como Reinaldo, Éder e Toninho Cerezo no elenco e teve uma das melhores campanhas da competição. Por ser considerada mais experiente, carregou o favoritismo durante os 180 minutos.
Rivalidade com o Galo
— Diziam que o nosso time era caseiro, de Maracanã, que quando saia para jogar fora não tinha resultado. O Atlético-MG era quase metade do time da seleção brasileira. O Flamengo tinha jogadores jovens, mas também tinha nomes rodados como Rondinelli, o Zico, o Raul Plasmann. Foi importantíssimo por vários aspectos. Mostrou que aquele grupo seria capaz de outras grandes conquistas — comenta o ex-volante Andrade.
Flamengo e Atlético-MG travariam uma grande rivalidade e se reencontrariam na Libertadores de 1981. Foram jogos tão equilibrados que um duelo de desempate precisou ser disputado. O rubro-negro venceu por W.O, no Serra Dourada, depois que o Galo teve cinco expulsos, em partida marcada por arbitragem polêmica de José Roberto Wright.