17 anos após crime, Justiça condena pecuarista por morte de professora

Mauro Janene Costa foi condenado a 11 anos de prisão pelo assassinato de Estela Pacheco.

Fazendeiro ainda pode recorrer da decisão, em primeira instância, em liberdade

Caso Estela Pacheco
A professora de música Estela Pacheco, em uma foto de arquivo.

Depois de 17 anos e cinco meses de espera, a família de Maria Estela Correa Pacheco, morta em outubro de 2000 em Londrina (Paraná), finalmente viu um desfecho, ao menos em primeira instância, do assassinato da professora de música. No final da noite desta quinta-feira, o Tribunal do Júri de Ponta Grossa (PR) condendou o pecuarista Mauro Janene Costa, 52 anos, a 11 anos de prisão em regime inicial fechado pelo crime. A condenação, embora tardia, encerra um capítulo longo desse caso, que tornou-se um dos símbolos da lentidão da Justiça brasileira. Por estar em liberdade, o fazendeiro (que se declara inocente e, ao júri, descreveu o caso como um acidente), pode recorrer da decisão em liberdade.

julgamento de Mauro Janene Costa durou quase 15 horas. Sete mulheres compuseram o júri, que foi transferido para Ponta Grossa a pedido da defesa do réu, que alegava que, se realizado em Londrina, ele poderia ser influenciado pela comoção popular que o caso gerou. Janene Costa e Estela Pacheco tiveram um curto e conturbado relacionamento amoroso, mas não estavam mais juntos na época do crime. A professora, então com 35 anos, foi encontrada morta no pátio do edifício onde o pecuarista morava com a família, em Londrina, norte do Estado, horas após deixar um bar na cidade com o ex-namorado. Embora o fazendeiro tivesse alegado que ela caiu do 12º andar do prédio após se desequilibrar, a perícia da época concluiu que ela já estava morta antes da queda e ele foi acusado pelo assassinato.

O júri deveria ter ocorrido em 2011, mas a defesa do réu conseguiu adiar por sete ocasiões o julgamento. A família de Estela Pacheco criou um site e uma petição pública exigindo que o caso fosse julgado e a filha da vítima, Laila Pacheco Menechino, chegou a escrever uma carta ao Supremo Tribunal Federal “suplicando” que o processo não fosse mais protelado. Em 22 de março de 2018, após um dia de depoimentos e debates entre o Ministério Público do Estado, responsável pela acusação, e a defesa, coordenada pela advogada Gabriela Roberta Silva, as sete juradas concluíram que Mauro Janene Costa é o culpado pela morte da professora de música. A sentença foi lida no final da noite pelo juiz Luiz Carlos Fortes Bittencourt.

Mauro Janene Costa em uma imagem de arquivo.
Mauro Janene Costa em uma imagem de arquivo. REPRODUÇÃO

Devido à demora em realizar o júri, e pela transferência para outra cidade, algumas testemunhas do caso não puderam ser ouvidas pelos jurados. Foi o caso do médico legista responsável pelo laudo que atestou que a professora já estava morta, que mudou de país anos atrás. No julgamento, quem depôs foi o perito Leocádio Casanova, arrolado pela defesa do fazendeiro, que questionou os laudos da época e disse que a perícia oficial realizada na ocasião encontrou indícios, não provas, da morte de Estela antes da queda.

Duas testemunhas da acusação foram ouvidas: a irmã de Estela, Maria Eliza Correa Pacheco (ouvida como informante pela proximidade com a vítima), e uma amiga da professora, Ilda Santos, que descreveu o relacionamento entre a vítima e o fazendeiro como conturbado. “Minha irmã era uma pessoa cheia de luz. Ela nunca tiraria a própria vida”, afirmou Maria Eliza, segundo publicado pelo jornal Folha de Londrina. rechaçando a hipótese de suicídio.

Familiares de Estela Pacheco acompanharam o desfecho do caso do plenário do Fórum de Ponta Grossa, bastante emocionados. Em Londrina, amigos da vítima realizaram uma manifestação em frente ao Fórum.

O juiz Luiz Carlos Fortes Bittencourt lê a decisão do júri no Fórum de Ponta Grossa.
O juiz Luiz Carlos Fortes Bittencourt lê a decisão do júri no Fórum de Ponta Grossa. REPRODUÇÃO/RPC

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