1903 – Irmãos Wright dizem ter realizado o primeiro voo

Os irmãos construíram máquinas de impressão e em 1892 abriram uma loja de venda e conserto de bicicletas
Em 17 de dezembro de 1903, perto de Kitty Hawk, na Carolina do Norte (EUA), os irmãos Orville e Wilbur Wright realizaram o primeiro voo bem-sucedido da história num avião autopropelido (com propulsão própria) e mais pesado que o ar. Orville pilotou o biplano movido à gasolina, que permaneceu no ar por 12 segundos e cobriu 36 metros em seu voo inaugural.

Orville e Wilbur cresceram em Dayton, estado de Ohio, e desenvolveram interesse na aviação após tomarem conhecimento dos voos em planadores do engenheiro alemão Otto Lilienthal nos anos 1890. Diferentemente de seus irmãos mais velhos, Orville e Wilbur não frequentaram o colégio, porém, possuíam uma extraordinária capacidade técnica e uma sofisticada visão para resolver problemas de desenho mecânico.

Os irmãos construíram máquinas de impressão e em 1892 abriram uma loja de venda e conserto de bicicletas. Não demorou muito para passarem a construir suas próprias bicicletas. Esta experiência, combinada com os lucros obtidos nos vários negócios, permitiu-lhes avançar no sonho de construir o primeiro aeroplano do mundo.

Após pesquisar exaustivamente esforços feitos por outros engenheiros para construir um avião mais pesado que o ar e controlado pelo piloto, os irmãos Wright escreveram ao instituto que controlava o tempo nos EUA a fim de que indicasse um lugar apropriado para executar testes com planadores.

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Teste do planador Wright em 1901

Mudanças de ares

Os dois se instalaram em Kitty Hawk, um lugarejo isolado na Carolina do Norte com ventos constantes e dunas de areia, onde poderiam levantar voo e aterrissar suavemente.

O primeiro planador, testado em 1900, teve fraca performance, contudo, um novo modelo, testado em 1901, teve melhor desempenho. Naquele mesmo ano construíram um túnel de vento onde puderam testar perto de 200 asas e estruturas de diferentes formas e modelos.

As sistemáticas experiências dos irmãos valeram a pena: os Wright fizeram centenas de vôos bem sucedidos no seu planador de 1902 nas colinas de Kill Devils, perto de Kitty Hawk. O planador biplano apresentava um sistema de direção baseado num leme móvel, que resolveu o problema do voo controlado. Estavam então preparados para voos autopropelidos.

Em Dayton eles projetaram um motor de combustão interna com potência de 12 cavalos, assistidos pelo especialista em máquinas mecânicas Charles Taylor e construíram um novo avião para nele alojá-lo. Transportaram o avião em partes para Kitty Hawk no outono de 1903, o montaram, fizeram alguns testes e em 14 de dezembro, Orville iniciou a primeira tentativa de vôo autopropelido.

Primeiro voo

O motor parou durante a decolagem, com isso danificando a estrutura do aparelho. Foram necessários três dias para repará-lo. Então, às 10h35 da manhã de 17 de dezembro, diante de cinco testemunhas, o avião desceu velozmente por um monotrilho lançando-se para cima, permanecendo no ar por 12 segundos e percorrendo 36 metros. A era da moderna aviação estava nascendo. Três testes mais foram feitos naquele dia, alternando-se Wilbur e Orville na pilotagem. Wilbur realizou o ultimo voo, cobrindo 250 metros em 59 segundos.

Ao longo dos anos seguintes, os irmãos Wright continuaram desenvolvendo seus aeroplanos, porém, resolveram adotar uma total discrição a respeito de seus avanços, a fim de preservar as patentes e contratos de suas máquinas voadoras. Por volta de 1905, seu avião já conseguia realizar manobras mais complexas e permanecia no ar por mais de 39 minutos. Em 1908, viajaram para a França e ali executaram seus primeiros voos públicos, despertando assombro no público presente. Wilbur Wright morreu de febre tifoide em 1912; Orville viveu até 1948.

Santos Dumont

Agora, a controvérsia. Os feitos de Alberto Santos Dumont, com seu 14-bis em 23 de outubro e 12 de novembro de 1906, não deixaram qualquer dúvida quanto à possibilidade de um equipamento mais pesado que o ar voar por meios próprios. As experiências de Santos Dumont foram feitas às claras, na presença de autoridades, especialistas, comissão julgadora, entusiastas e público em geral.

Depois da conquista do 14-bis, é fácil surgirem outras histórias de alguém que já voava, que havia feito a mesma coisa. A questão é que, até 23 de outubro de 1906, não havia aparecido ninguém com um equipamento convincente mais pesado que o ar e efetivamente capaz de voar por seus próprios meios. Só existiam relatos, comunicados inexatos, telegramas, reportagens ufanistas, testemunhas que mal saberiam discernir um vôo sustentado.

Os norte-americanos Orville e Wilbur Wright eram alguns, entre tantos à época, que afirmavam ter voado pela primeira vez em 17 de dezembro de 1903, relatando em seus diários um total de quatro voos em sua aeronave Flyer.

Provas? Além das anotações no diário pessoal, havia a relação de cinco testemunhas, sendo três delas habitantes de Kitty Hawk, dois salva-vidas e um telegrama enviado ao pai, Milton Wright. As fotos só foram publicadas em 1908, quase dois anos após a façanha de Santos Dumont, sem que se pudesse comprovar sua autenticidade.

O certo é que o aparelho dos Wright não decolava autonomamente, tinha insuficiente motorização e não voava sem condições adequadas de vento. Até o ano de 1910, todos os aparelhos dos irmãos Wright necessitavam de uma imensa catapulta, com vento intenso e uma pista em declive, enquanto o 14-Bis voou em 1906 sem a ajuda de qualquer artifício externo. Em 1907, Santos Dumont cria o Demoiselle, monoplano que pesava 100 quilos e perfazia 90 quilômetro/h. O Demoiselle é considerado o modelo padrão para quase todos os aviões construídos depois.

Esta polêmica reina até hoje na história da aviação mundial. Nunca haverá um consenso sobre quem voou primeiro. Porém, um detalhe: o inventor brasileiro Santos Dumont teve suas experiências empíricas catalogadas e registradas, comprovando a ciência e a seriedade dos seus estudos. Atitude científica que não foi tomada pelos norte-americanos, os irmãos Wright, deixando um rastro de dúvida, transparecendo que o mais importante era registrar a patente, e ter seus nomes na história.

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