1928 – Estreia na URSS o clássico “O Encouraçado Potemkin”

Longa tornou-se referência cinematográfica e tece seu caráter de propaganda em uma linha tênue, confluindo verdades históricas e ficções
O filme do russo Serguei Eisenstein, “Encouraçado Potemkin” é exibido pela primeira vez em 21 de dezembro de 1928 no Teatro Bolshoi, em Moscou. Encomendado a Eisenstein pelo Comitê de Comemoração da Revolução de 1905, o filme conta a história de um motim dos marinheiros do principal encouraçado da frota russa, que ocorreu em 27 de junho de 1905. O “Encouraçado Potemkin”, símbolo dos primeiros eventos artísticos revolucionários, é recepcionado triunfalmente por toda a UniãoSoviética.

O filme é um clássico excitante do cinema russo que permanece atual e interessante apesar de ter sido discutido e destrinchado por décadas. Exibido há mais de 80 anos, além de influenciar incontáveis filmes e cineastas, vem sendo celebrado como um dos melhores filmes já rodados. O primeiro instinto é vê-lo com olhos puramente acadêmicos, porém, uma vez que se começa a assisti-lo, o espectador imerge em sua trama. A película é plena de significado e de história, mas também é uma obra de arte que entretém e cativa.

 

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Longa tornou-se referência cinematográfica e tece seu caráter de propaganda em uma linha tênue, confluindo verdades históricas e ficções

O filme é dividido em cinco seções: “Homens e vermes”, que expõe as horríveis condições de vida dos marinheiros a bordo do navio; “Drama no porto”, durante a qual o líder dos marinheiros amotinados, Vakulynchuk, é morto; “Um homem morto clama por justiça”, em que o corpo de Vakulynchuk é mostrado para que o povo de Odessa possa vê-lo; “A Escadaria de Odessa”, a mais famosa sequência do filme e uma das mais decantadas da história do cinema, que mostra camponeses sendo abatidos pelo exército; e “O Encontro com um Esquadrão”, que mostra uma tropa, enviada ao Potemkin para assumir seu controle, juntando-se aos marinheiros rebeldes.

Do ponto de vista estrutural, o roteiro de Eisenstein, Nina Agadzhanova, Nikolai Aseyev a Sergei Tretyakov é bastante consistente embora o diálogo, mínimo por ser um filme mudo, seja um pouco pesado, segundo os críticos. Mas o filme mostra sua força quando se expressa simplesmente pelas imagens.

Do ponto de vista puramente artístico, a sequência da Escadaria de Odessa é a mais impressionante das cinco, com imagens surpreendentes, vibrantes e inesquecíveis. Da tomada do homem sem pernas saltando escada abaixo à mãe angustiada levando o filho morto nos braços, perpassando a muito imitada e parodiada tomada do carrinho de bebê despencando pela escadaria: essa sequência é memorável do começo ao fim.

Embora possuísse um olho clínico para a composição de tomadas, Eisenstein demonstrava considerável economia em termos de edição. Não há uma única cena desaproveitada em todo o filme. Cada tomada é importante em termos de levar a trama adiante. De resto, seu sucesso como filme de propaganda é inegável dado que aos olhos do espectador todas as cenas são verdades históricas. O motim do Potemkin de fato aconteceu, o massacre da escadaria de Odessa, não.

A política informa cada um dos quadros do filme, mas está incorporada tão naturalmente na narrativa, ou melhor, a narrativa está tão naturalmente incorporada à política, que não o torna pesado ou panfletário.

O sucesso de Eisenstein, nesse aspecto, decorre de suas teorias de montagem. Seu arranjo de imagens, às vezes tão disparatados, aprofunda a compreensão da história, conferindo-a, um ritmo adequado, uma mensagem política mais nítida. O sucesso popular do filme deve-se a que as cenas são tão reais que o espectador não tem tempo para pensar, simplesmente vê-se por elas absorvido.

O “Encouraçado Potemkin” é tão bem produzido que extasia plateias até hoje e é colocado no patamar de filme obrigatório por todos os amantes da sétima arte.

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