Guiné-Bissau declara independência de Portugal

Após separar-se dos portugueses, país não conseguiu consolidar sua democracia; país esteve sobre controle de Portugal por 385 anos
Há 40 anos, em 24 de setembro de 1973, a Guiné-Bissau declarava independência de Portugal, tornando-se a primeira colônia lusa no continente africano a separar-se oficialmente da metrópole – esta só a reconheceu em 10 de setembro de 1974. É atualmente um dos oito países a adotarem o português como língua oficial e, décadas depois da fase pós-colonial, ainda não conseguiu se estabilizar democraticamente.Na primeira fase das expedições exploratórias portuguesas, os rios da Guiné e as ilhas de Cabo Verde estavam entre as regiões da África a serem reclamadas. O navegador Álvaro Fernandes chegou à Guiné em 1446 (outras fontes atribuem o feito a Nuno Tristão), mas poucas feitorias de comércio foram estabelecidas antes do ano 1600.

A ocupação do território pela coroa portuguesa só se deu a partir da União Ibérica, quando o rei espanhol Filipe assumiu os dois países. Na região foi fundada a vila de Cacheu (1588) sujeita administrativamente ao arquipélago de Cabo Verde. No mesmo contexto, foi estabelecida, em 1630, a Capitania-Geral da então Guiné Portuguesa para a administração do território.

A Guiné Portuguesa teve por diversas oportunidades na fase colonial uma união política e administrativa com o arquipélago de Cabo Verde. O mesmo foi cogitado na fase pós-independência, mas nunca chegou a se concretizar.

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Posto de controle do PAIGC pouco após a guerra pela independência

Durante séculos a região constituiu-se em um ponto estratégico para o comércio de escravos. Somente no final do século XVII edificou-se a fortaleza de Bissau, como prevenção contra os franceses, que começavam a afirmar a sua presença no oeste do continente.

Em 1885, o Congresso de Berlim, definiu as fronteiras coloniais da África, e a posse da Guiné Portuguesa é confirmada a Lisboa. Entretanto, as tentativas de ocupação e colonização portuguesas sofreram forte resistência das populações locais durante décadas.

A luta contra o colonialismo e pela independência começou a ser mais organizada em 1956, a partir da fundação do PAIGC (Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde), liderado por Amílcar Cabral, por um grupo de exilados na vizinha Guiné francesa, ou Guiné Conacri.

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Reprodução – selo alemão de Amílcar Cabral

Após dez anos de negociação, o movimento decidiu recorrer à luta armada de guerrilha. Foi sucessivamente obtendo vitórias até dominar a maioria do território em 1973. No entanto, Amílcar não chegou a ver seu sonho realizado, tendo sido morto em Conacri – seu assassinato nunca foi oficialmente esclarecido; alguns integrantes atribuem a agentes da inteligência portuguesa, outros a membros por integrantes do próprio PAIGC, que acreditavam que o líder tinha sucumbido às elites colonialistas. Seu irmão, Luís Almeida Cabral, assumiu o controle do grupo e participou da proclamação da independência.

O colapso português na Guiné teve fortes reflexos na metrópole e foi um dos fatores que provocou a Revolução dos Cravos, além da descolonização das demais dependências na África – Angola, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Cabo Verde – e Timor Leste (sendo este invadido pela Indonésia pouco depois), na Ásia, todos em 1975.

Na Guiné-Bissau, Luís Cabral e o PAIGC assumiram o poder em um governo de partido único, de orientação comunista e que apoiava a fusão com Cabo Verde. Mas o tempo mostraria que a democracia demoraria para chegar à jovem nação africana.

Em 1980, ocorre o primeiro de uma série de golpes de Estado no país na fase pós-independência: Luís Cabral é destituído por João Bernardo “Nino” Vieira, cujo autoritarismo dissolveu as alas mais à esquerda do partido e o rompimento com os cabo-verdeanos.

A “transição democrática” se iniciou em 1991, com o PAIGC deixando o status de partido único e o país adotando o multipartidarismo. As primeiras eleições plurais foram em 1994, com o PAIGC obtendo ampla maioria e Vieira sendo eleito presidente da República.

Em 1998, tem início uma guerra civil em que o general Anuname Mané depõe Vieira. Após negociações, Mané cede o pode, novas eleições são realizadas e o PRS (Partido da Renovação Social), de Kumba Yala, é o vencedor, Em 2000, Mané tenta novo golpe e é morto por tropas oficiais. Um terceiro golpe ocorre em 2003. Yala é destituído e nova eleição recoloca Vieira no poder. No entanto, ele é assassinado em 2009, em um ataque contra o palácio presidencial por militares em represália a um comandante morto. Nova tentativa de tomada de poder pelos militares fracassa em 2010. Mas, em 12 de abril de 2012 um autodenominado “Comando Militar” tomou o poder em Bissau. Destituiu o presidente interino, Raimundo Pereira, e o primeiro-ministro, Carlos Gomes Júnior.

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