As parteiras do samba

As parteiras do samba: conheça a história das “Tias”, anciãs negras que, com sua habilidade política e herança cultural, ajudaram a transformar o ritmo mais popular do país
Como mulheres negras, chamadas de tias, contribuíram para a popularização e legalização do samba no Brasil
O samba é um ritmo que surgiu a partir da confluência entre a cultura africana e interações construídas por escravizados em nosso país. Até o ritmo tomar forma, muitas memórias embasaram seus compositores e autores e muita água rolou por debaixo da ponte. Qualquer manifestação cultural necessita de um espaço físico e social para acontecer. É, nesse contexto, que assumem grande importância as mulheres negras conhecidas apenas como “Tias”. Eram elas grandes acervos humanos de cultura afro-brasileira. Geralmente baianas e mineiras, vindas em fuga para o Rio de Janeiro e São Paulo, as tias da praça 11, no Rio, eram quituteiras e cozinheiras e ostentavam uma grande família. Como mulheres sábias e populares, elas cediam o espaço para as rodas de samba e orientavam os músicos após a gira da umbanda. Muitas pessoas já ouviram falar de Tia Eulália, Tia Ciata e Tia Carmen da Xibuca.
As tias traziam a ancestralidade para o terreiro, ensinando aos membros de sua família, geralmente grande e com muitas mulheres, cantos de antigos escravizados, gingas de roda e outras tantas peças para a montagem de um bom samba.
Foram as tias também que ajudaram a popularizar o samba. Como o ritmo, a princípio, era criminalizado, as tias disponibilizavam seu quintal para os sambistas e convenciam policiais e agentes da lei da função lúdica do samba e da sua importância cultural e social para homens e mulheres negras. Sempre boas de cozinha, os caldos e quitutes abasteciam o estômago e mentes dos sambistas.
As primeiras escolas de samba surgiram exatamente nesses espaços. É o caso da Portela, Império Serrano e Salgueiro. O carnaval de rua instituiu obrigatoriamente a ala das baianas, que nada mais é que uma homenagem à força, fé e perseverança dessas tias que pariram o samba em seus braços e territórios. Espalhando seus filhos, netos e suas produções culturais pelo país e pelo mundo.
Texto – @joelpaviotti

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