Por Ricardo Antunes
O levantamento é da respeitada ONG Todos pela Educação: nada menos do que 65% dos concluintes em formação inicial de professor fizeram o curso a distância (EaD) no ano passado e suas notas vêm caindo. Diz a pesquisa, baseada no Censo da Educação Superior e no Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (Enade), ambos do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), que a formação de novos professores a distância mais do que dobrou em uma década, crescendo 119% em comparação a 2012, enquanto as notas da maioria dos cursos de graduação na modalidade caíram.
Em 2022, pelo menos seis em cada dez concluintes dos cursos de licenciaturas se formaram pela EaD – índice muito acima de outras graduações. No mesmo período de 10 anos, a formação de professor em cursos presenciais caiu de 66% para 35%. Ao todo, o EaD concentra 165 mil concluintes em licenciatura, contra 90 mil dos cursos presenciais em 2022.
Quando se olha para todo o ensino superior no Brasil, a média das demais graduações por EaD é de 31%, informa a Todos pela Educação. A expansão a distância foi impulsionada pela rede privada, que sozinha acomoda 60,2% dos concluintes em formação inicial docente.
QUALIDADE EM QUEDA
O levantamento mostra ainda que a qualidade dos cursos de Licenciatura na modalidade EaD vem caindo ao longo dos últimos anos no país. Dos 15 cursos considerados, nove tiveram redução na nota bruta geral média do Enade, além de aumentar a diferença entre as médias de quem se formou a distância e de quem fez seu curso presencialmente.
Levantamento mostra queda na qualidade de cursos EaD
QUEM CAIU
São eles Artes Visuais, Ciências Biológicas, Educação Física, Física, Letras-português, Letras (português e inglês), Música, Pedagogia e Química. Também em 2021, em todos os cursos de formação docente analisados, as notas médias EaD eram menores do que na modalidade presencial.
ESTRATÉGIA ERRADA
“É claro que a Educação a Distância não é o único problema na formação inicial de professores, mas é inadmissível que o Brasil tenha na EaD a principal estratégia de formação inicial docente. E isso se torna ainda mais grave na medida em que esse crescimento está atrelado à baixa qualidade “, assinala a presidente-executiva da Todos pela Educação, Priscila Cruz.
DESVALORIZAÇÃO
Segundo ela, permitir a proliferação de cursos que não preparam os estudantes para o início do exercício da docência é promover uma enorme desvalorização do ofício de professor. “É papel do Ministério da Educação reformular profundamente os processos regulatórios desses cursos a distância. Os futuros professores e a sociedade como um todo não podem ser vítimas desse descaso, que se intensifica ano após ano”, critica ela. Priscila Cruz defende medidas eficazes para frear essa expansão.
Professores formados em cursos à distância são maioria