O baterista de Roberto Carlos

Conheci Dedé, nome artístico de Anderson Marquez, nos anos 1960. Ele desempenhava múltiplas funções: secretário, motorista, segurança, bilheteiro nos guichês de circo e cinema, fiscal, diretor de palco e de instrumentos, além de montar os shows. E, claro, era também baterista.
Certa vez, Roberto foi a Muriaé para uma apresentação no cinema local, que tinha capacidade para aproximadamente 950 pessoas, com 700 na plateia inferior e mais 250 na galeria, conhecida como “puleiro”.
Inicialmente, havia a exibição de um filme, seguida pelo show. Dedé ficava na bilheteria, vendia de 10 a 20 ingressos, colocava a placa “volto já” e dirigia-se à entrada principal. Lá, recolhia os bilhetes, fechava a entrada com uma cordinha e retornava à bilheteria, repetindo esse processo até atingir o público desejado, entre 200 e 300 pagantes.
Durante a passagem de som, notou-se que o amplificador da guitarra de Roberto era de 220 volts, enquanto a voltagem na cidade era de 110 volts. Perguntaram, então, se alguém possuía um transformador ou conversor para emprestar. Começaram a me chamar: “Tay, Tay”, meu apelido. Fui até minha casa com o motorista, em um Fusca bege de câmbio seco, e pedi à minha mãe o conversor que ela usava em nossa geladeira Westinghouse de 220 volts. No entanto, minha mãe recusou, afirmando: “A geladeira está cheia. Leve o seu aparelho de guitarra”. Na época, eu utilizava um amplificador Giannini de 50 watts, considerado “supermoderno”. O amplificador de Roberto era um IPAME de 15/20 watts, com as letras “RSBC” inscritas. Sua guitarra Giannini era vermelha, com o nome de Erasmo gravado em decalque d’água. Durante a passagem de som, ele tocou alguns acordes da introdução de “É Proibido Fumar” e, estando ao meu lado, disse-me: “Ainda vou ter um desses”. Essa lembrança ainda me emociona.
Após o show, meu amplificador mal coube no porta-malas do Fusca. Depois de toda a situação, a pedido, indiquei um restaurante na Rio-Bahia, onde aguardamos o amanhecer. Fui para casa, e eles seguiram para uma cidade próxima, onde fariam uma nova apresentação.
Vassouras, RJ – Brasil

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