Comboio da ONU entra em cidade sitiada onde moradores passam fome na Síria
Um comboio de ajuda humanitária da ONU começa a entrar na cidade sitiada de Madaya, na Síria, com comida suficiente para alimentar 40 mil pessoas por um mês, assim como remédios e cobertores.
Moradores estão presos na cidade há seis meses por um bloqueio do governo e não recebem nenhum tipo de ajuda desde outubro.
Relatos de ativistas da oposição dizem que a população estaria comendo terra e até mesmo “cães e gatos” para sobreviver.
A ONU diz ter recebido relatos confiáveis de que pessoas teriam morrido de fome. Desde o dia 1º de dezembro, seriam pelo menos 28 mortos.
Um correspondente do serviço árabe da BBC afirma que os três primeiros veículos já entraram em Madaya, enquanto o resto do comboio aguarda permissão.
No total, mais de 60 caminhões operados pela ONU, pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha, pelo Crescente Vermelho sírio e pelo Programa Alimentar Mundial deixaram Damasco em direção a Madaya no início desta segunda-feira.
Eles levaram itens básicos de alimentação – incluindo arroz, óleo vegetal, farinha, açúcar e sal –, assim como água, fórmula infantil, cobertores, remédios e material cirúrgico.
Os caminhões também entregarão itens de ajuda a dois vilarejos sitiados por forças rebeldes na província de Idlib, ao norte do país, após um acordo entre as partes em conflito.
A situação em Foah e em Kefraya também estaria muito crítica, com cerca de 20 mil pessoas presas no local desde março.
‘Guerra de palavras’
Horas antes da chegada do comboio, a emissora de TV do grupo libanês Hezbollah, Al-Manar, mostrou pessoas, incluindo mulheres e crianças, esperando os veículos em uma das entradas de Madaya.
Brice de la Vigne, que faz parte da ONG Médicos Sem Fronteiras em Madaya, disse que mais de 250 pessoas na cidade sofrem de “desnutrição aguda”.
Ele disse ainda que pelo menos 10 delas precisam ser evacuadas imediatamente do local ou podem morrer.
No entanto, o Hezbollah negou que tenha havido mortes na cidade e acusou líderes rebeldes de impedirem que as pessoas deixem a cidade.
O correspondente da BBC no Líbano, Jim Muir, diz que uma vez que as agências humanitárias tiverem acesso a Madaya pela primeira vez desde outubro a real situação da cidade será conhecida.
A ONU afirma que todos os lados envolvidos no conflito no país vêm lançando mão de táticas de guerra e isolando cidades, o que viola leis internacionais de direitos humanos.
O Programa Alimentar Mundial, agência da ONU para o combate à fome, e a Cruz Vermelha descreveram como “extremamente alarmantes” a situação em que se encontram determinadas localidades.
Madaya, que fica cerca de 25 km à nordeste de Damasco e a 11 km da fronteira com o Líbano, está sitiada desde julho por forças do governo e por combatentes do grupo militante islâmico libanês Hezbollah.
Imagens das crianças esqueléticas de Madaya soaram alarmes em muitas capitais e criaram mais motivação para ajuda, mas também provocaram uma guerra de palavras, segundo a correspondente internacional da BBC Lyse Doucet.
Simpatizantes do governo sírio e do Hezbollah acusaram as forças rebeldes em Madaya de roubar comida para si (e deixar a população faminta). Alguns até zombaram dos relatos sobre pessoas morrendo de fome. A oposição, por outro lado, acusou as forças aliadas ao presidente sírio Bashar al-Assad de mais crimes de guerra.
“Hoje, Madaya é a face do sofrimento. Dois anos atrás era a cidade de Yarmouk”, diz Doucet. “Momentos como esse mobilizam a simpatia das pessoas, mas no último ano, foram concedidos apenas 10% dos pedidos da ONU para levar ajuda a pessoas em locais sitiados e de difícil acesso.”
A ONU estima que, das 4,5 milhões de pessoas vivendo em áreas “de difícil acesso” na Síria, cerca de 400 mil estejam sitiadas.