Morre o comendador Enzo Ferrari, ícone dos carros de luxo

Empresa italiana que leva seu nome está identificada com velocidade, luxo e riqueza

Morre, em 14 de agosto de 1988, aos 90 anos, em Maranello, o comendador Enzo Anselmo Ferrari, fundador da fábrica de mesmo nome que se tornou símbolo máximo dos carros de luxo, além da mítica Scuderia Ferrari, a equipe de automobilismo mais famosa e tradicional da história do esporte a motor.

Nascido em Modena em 1898, de uma família cujo pai foi fabricante de peças para ferrovias, tornou-se apaixonado por automobilismo quando viu sua primeira corrida no Circuito de Bologna, aos dez anos. Com pouca educação formal mas autodidata em mecânica, trabalhou no conserto de carros até ser convocado para a I Guerra Mundial. Durante o conflito, perdeu o pai e o irmão em razão de uma epidemia de gripe, que quase o vitimou também. Ao voltar para a casa, doente e dispensado do serviço militar, descobriu que a família tinha ido à falência.

Foi aceito como mecânico em 1919 pela pequena CMN (Construzione Meccaniche Internazionali), onde chegou até a atuar como piloto, sem obter muito sucesso. A partir do ano seguinte, começou a correr pela Alfa Romeo, vencendo a prova da Coppa Acerbo, em Pescara.

A primeira versão da Ferrari nasceu em 1929, inicialmente como uma equipe de corridas de aluguel equipada pela Alfa Romeo, e não como construtora. A parceria durou até 1938, quando a Alfa decidiu absorver todas as subsidiárias em uma só equipe, o que Ferrari não aceitou. O rompimento proibia, por razões contratuais, que Enzo disputasse qualquer competição por quatro anos 1943 – no entanto, produziu um carro de competição com o nome de Auto Avio, o modelo Tipo 815, em 1940 (o primeiro projetado por Enzo), usado para algumas corridas. Mas eram tempos de guerra e tanto Ferrari quanto Alfa foram utilizadas pelo governo fascista de Benito Mussolini para os esforços contra os Aliados.

A fábrica e a equipe eram originalmente baseadas em Modena, mas em razão dos bombardeios na II Guerra Mundial, foram transferidas em 1943 para Maranello, cidade nos arredores, onde permanecem até hoje. A equipe possui uma pista de testes no mesmo local, o Circuito de Fiorano construído em 1972. Isso não impediu que a fábrica fosse destruída por bombardeios em 1944 e reconstruída em 1946, incluindo um setor para a produção de carros de rua.

Enzo fundou a Ferrari essencialmente para se dedicar ao automobilismo, não pensava em produzir carros de rua. No entanto, a marca acabou virando ícone maior dos carros de luxo, simbolizando velocidade, luxo, riqueza e ostentação. Em 1969, a Fiat começou a comprar ativos da companhia e hoje é sua acionista majoritária, assim como da Alfa Romeo e da Maserati.

O esporte a motor passa a ter um Campeonato Mundial de Automobilismo em 1950, que hoje é conhecido como Campeonato Mundial de Fórmula 1 da FIA (Federação Internacional de Automobilismo). A Ferrari passa a participar já na segunda das sete provas daquele ano, em Mônaco. Desde então, iniciou uma tradição e uma marca tão fortes quanto a própria categoria. Certa vez, o presidente da FIA, Max Mosley, chegou a dizer que “se a Ferrari não disputasse mais o campeonato, não haveria mais F-1”.

No entanto, uma tragédia familiar viria a mudar completamente seu estilo de vida. Seu filho Alfredino Ferrari morreu em 1956, aos 26 anos, por distrofia muscular progressiva.  A morte de “Dino” deixou Enzo muito amargo e recluso, fazendo com que ele nunca mais pisasse em um autódromo em dias de corrida e passasse a usar óculos escuros. Nem mesmo a consagração da Ferrari nos autódromos e nas ruas mudou seu comportamento.

Em 1987, para comemorar os 40 anos da fábrica, é lançado o mítico modelo F40, último projetado por Enzo, que morre no ano seguinte. No Mundial de F-1, a Ferrari fazia uma péssima temporada, sendo totalmente dominada pela McLaren da dupla Alain Prost/Ayrton Senna, que venceram até então todas as corridas. Sua morte ocorreu antes do GP da Bélgica, mas na corrida seguinte, na Itália, a equipe conseguiu uma dobradinha com Gerhard Berger e Michele Alboreto, levando o autódromo de Monza ao choro e delírio. Como homenagem a Enzo, no mesmo ano, o autódromo italiano de Imola, onde era disputado o Grande Prêmio de San Marino, passou a se chamar Autódromo Enzo i Dino Ferrari.

Curiosidades

Após 21 anos de fracassos e jejum de títulos no Mundial de Pilotos na F1, a equipe volta a vencer com o alemão Michael Schumacher em 2000, que repetiu o feito por mais quatro anos seguidos, retomando a hegemonia da equipe sobre os ingleses.

O logotipo da empresa é um escudo de fundo amarelo com a bandeira da Itália e um cavalo negro, o “cavallino rampante”, utilizado no avião de caça de Francesco Baracca durante a I Guerra Mundial, simbolizando o “cavalheirismo esportivo, e ousadia”. Ele foi autorizado pela família do aviador a utilizá-la, ainda durante seus anos de piloto.

Outro forte fator de identificação da Ferrari é sua cor vermelha. Ela passou a ser utilizada nos anos 1920 por todas as montadoras e equipes da Itália, como uma imposição da entidade que regia o automobilismo mundial. Cada país tinha uma cor nacional (os alemães prateado, os franceses azul, os britânicos verde com listra amarela). Mesmo após a desobrigação, os modelos de competição da Ferrari nunca mais mudaram de cor.

A Ferrari é não só a equipe mais vitoriosa da maior categoria do automobilismo mundial como também a única que participou de todas as temporadas (desde 1950) e que consegue ter uma trajetória sem ter a sede baseada na Inglaterra (a austríaca Red Bull, por exemplo, se localiza em Milton Keynes; a Renault, quando ativa, em sua segunda fase como equipe, estava em Enstone, ao comprar as instalações da italiana Benetton).

Entre os principais títulos no automobilismo, a Ferraria acumula 15 títulos mundiais de pilotos e 16 de construtores (com 221 vitórias), além de 19 vitórias nas 24 Horas de Le Mans – durante anos, a equipe foi muito forte no Mundial de Protótipos.

Fonte: Ópera

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