Susana Vieira e Adisabeba, personagem da atriz em “A regra do jogo”, se confundem. No Projac, onde esta entrevista foi feita, a atriz vai andando e falando com todo mundo que aparece pelo caminho, do mesmo jeito que a Rainha da Macaca. “São 46 anos de TV Globo”, como gosta de frisar. E, mesmo após dez horas de trabalho (no dia desta reportagem, ela entrou às 8h nos estúdios da emissora), a loura seguia de bom humor, mexendo com Deus e o mundo. Durante as fotos, o fotógrafo do EXTRA elogiou a forma como ela jogou o cabelo para fazer determinada pose. “Quer? Paguei seis mil reais, mas te revendo por apenas quatro e meio”, brincou Susana, arrancando risos de quem via a cena.
Os cliques foram interrompidos por alguns segundos com a chegada do autor Ricardo Linhares, de 53 anos, que fez questão de cumprimentá-la. “Você está ótimo! Um garoto! Entrou na mesma máquina do tempo que eu, não foi?!”, brincou ela, tirando um riso do novelista.
Em cima de uma sandália de salto agulha número 15, aos 73 anos, a dona do morro da novela das nove dá uma aula de como se manter jovem, independentemente da idade.
— A vida acaba com quantos anos? — pergunta a artista, que, após um breve silêncio, faz questão de responder: — Enquanto existir vida, você está viva! Eu tenho jovialidade. Vou morrer assim. Tem gente triste com 20 anos, que não sabe se exprimir, que tranca sua sexualidade e não tem coragem para amar. Ser jovial é estar disponível para a vida.
Susana é segura, não tem medo de expor o que pensa. Do auge de sua maturidade, conta que ainda é bastante assediada pelo público masculino.
— Recebo muitos elogios dos homens até hoje. Eles me acham sexy, glamourosa e sedutora. Passo isso porque sou uma mulher que não deixou de amar, de me entregar para os prazeres sexuais — destaca ela, que complementa: — Tenho essa sensualidade porque não escondi o meu corpo, o meu cabelão. Se uma mulher da minha idade não pode usar cabelo comprido, dane-se! Amor, vai numa loja e compra esse cabelo. Fica bonita para você. O tempo urge!
A espontaneidade da atriz é admirada por uns e criticada por outros. Mas a opinião alheia está longe de tirar o sono da estrela.
— Eu não roubo, não cheiro e tampouco fumo. Venho para o trabalho e volto para casa. Às vezes, paro no posto de gasolina e como uma empadinha. Vou num baile funk também e, eventualmente, beijo um cara na boca. O que tem isso? Meu imposto de renda está todo certinho, com muito ódio. Tenho seis empregados com carteira assinada, pago tudo direitinho. Não faço nada de errado. Respeito a sociedade, a minha família e a empresa em que trabalho. Não sou louca, nem desenfreada. Se fosse, não estaria nesse lugar em que estou há tantos anos — afirma.
Há quase cinco décadas se dedicando à televisão, Susana coleciona personagens. Com a experiência de quem viveu muitas vidas que não eram a sua, tirou um aprendizado: não acredita no amor das novelas.
— A TV nunca exibe o verdadeiro casamento, o conviver de duas pessoas, com a dificuldade e crueza que é. Começa tudo lindo e depois vem tudo de ruim para os mocinhos. No fim, eles terminam juntos e felizes. Mentira! Isso me irrita. No fim, eu vou para a Grécia, ele vai para o interior da Paraíba e os dois tentarão a vida com outras pessoas — argumenta a atriz, que segue o raciocínio: — Nas novelas antigas, a mocinha era pobre e ficava grávida do homem rico. Hoje em dia, qual é a pobre que vai arrumar um homem rico? Eles estão todos fora do Brasil ou estão casados com suas mulheres e têm suas amantes. Ah, ou são gays! (risos). Amor, estou falando a verdade. Imagina eu pensar que ainda tem um príncipe rico para mim… Eu também não preciso. Nunca me casei com homem que me sustentasse. Sempre fui eu quem comprou o pão. Nunca tive um homem que pagasse uma baguete para mim. Tenho a cabeça erguida.
Artista consagrada, mulher independente, essas são facetas da atriz que já são de domínio público. O outro lado ela desempenha com o DJ Rodrigo Vieira, de 51 anos, seu único filho, fruto do casamento com o diretor Régis Cardoso. Mais uma coincidência entre Susana e Adisabeba, a mãe apaixonada e controladora de Merlô (Juliano Cazarré). Até hoje, a atriz reza quando o filho pega um avião e trata de perguntar se ele providenciou um casaco para viajar. Isso se ela não se antecipa e compra um novo para dar de presente e garantir o agasalho na mala.
— Cara, uma mãe que ama o seu filho não fica sem pensar nele um único dia. É naturalíssimo. Isso pode ser com 5, 10, 20 ou 50 anos. Sou mãezona mesmo. Mas eu não era muito de mimar. Fui mais severa. Só que a cama do Rodrigo, eu fiz até o dia em que ele saiu de casa, com 20 anos. Achava que era uma forma de carinho.
O DJ não concorda quando a mãe diz que foi rigorosa com ele. Rodrigo acredita, inclusive, que teve bastante liberdade em sua criação.
— Com 13 anos, ela deixou eu ter uma Mobilete (risos). Era uma mãe disciplinadora, com os limites de controle normais de uma mulher com um filho único. Ela é muito forte, me criou sozinha. É uma gigante. Até hoje, quando tenho algum problema, quero o colo da minha mãe — revela o herdeiro de Susana, que compara a atriz com sua atual personagem: — Ela não é tão superprotetora como Adisabeba se mostra com Merlô, mas não fica tão atrás assim. Gosta que eu ligue para avisar quando chego aos lugares. E, se me vê segurando uma cerveja em foto no Instagram, chama a minha atenção. É uma figuraça.
Rodrigo deu dois netos para Susana. Rafael, de 20 anos, e Bruno, de 18. A atriz é encantada pelos meninos, mas quebra o protocolo das avós tradicionais. Afinal, trata-se de uma estrela de novela, musa de escola de samba, meme de internet, que vai ao baile funk e não tem medo de beijar na boca em público.
— Meus netos foram criados longe de mim. Os dois nasceram nos Estados Unidos. Não tivemos essa relação muito brasileira, da mãe que tem o filho e dá para a avó cuidar. Se bem que eu poderia morar aqui ou na Rússia. Não permitiria que isso acontecesse. Cuidei daquele que eu tive. E acho que é assim que tem que ser. Quando você cria um neto, acho que há uma ligação tão louca, que, se aquele neto sair de perto, você morre — pondera a atriz, que vive sendo zoada por Bruno e Rafael quando fala uma palavra em inglês de forma errada: — Fico danada. Mas me divirto muito com eles, que sempre me apresentam coisas novas. Adoro rap por causa dos dois.
Susie, como é chamada pelos netos, é venerada pelos garotos, que se orgulham da trajetória da avó.
— Eles são loucos por ela, apaixonadíssimos. Lá nos EUA, mostram foto da minha mãe para os amigos e falam que ela é uma estrela da TV no Brasil — diz o pai dos rapazes.
Com os colegas de trabalho, Susana não abandona seu lado maternal. Thaíssa Carvalho, a funkeira Andressa Turbinada de “A regra do jogo”, guarda na memória com carinho um momento que dividiu com a veterana. Na época de “Mulheres apaixonadas” (2003), Susana interpretava uma diretora de um colégio, onde a jovem fazia figuração.
— Antes de gravar uma cena, ela veio até mim, quis saber o meu nome e o que eu fazia. Respondi que estudava interpretação e ela perguntou se eu era atriz mesmo (risos). Então disse: “Vou falar contigo em cena e você me responde, porque não vão me cortar e sua fala vai entrar”. Foi a minha primeira frase na televisão — revela a morena.
A atriz Vanessa Giácomo considera Susana mais do que uma colega de trabalho. A intérprete de Tóia conta que a amiga está sempre animada no set de gravação e nunca se queixa das longas horas de gravação.
— Susana é uma das atrizes mais generosas que eu conheço, além de uma grande amiga. Ela me liga sempre, quer saber como estou, me manda mensagens. É carinhosa. Ela tem uma inteligência cênica incrível. É prazeroso trabalhar com ela. Nunca vi reclamar das horas trabalhadas, mesmo cansada. Trabalha feliz. A gente brinca que ela é o sol dessa novela. Amo essa mulher — conta Giácomo.
Giovanna Lancellotti, a Luana da novela das nove, observa atentamente a colega quando as duas contracenam no hostel da Macaca. Para a intérprete da garçonete, é uma alegria o encontro.
— Susana é uma luz, está sempre de bom humor, disposta a fazer o melhor em cena… Quando entra no set, elenco e equipe ficam em festa com aquela energia dela. É uma diva — diz Lancellotti.
Sim, uma diva. Mas sem papas na língua e sem medo de criar mal-estar quando vê necessidade. É neste contexto que a atriz cita Ana Paula, participante do “Big Brother Brasil 16”. Fã do programa, Susana afirma que é a favor da mineira, porque acredita mais nas pessoas que se irritam e brigam do que nas boazinhas. Até o bordão “Olha eeeelaaa” da jornalista passou a fazer parte do repertório da atriz, que, tem certeza de que, assim como Ana Paula, arrumaria confusão se fosse para dentro da casa.
— Você coloca várias pessoas que não se conhecem dividindo o mesmo banheiro, pelo amor de Deus… Eu seria a primeira a brigar. E, claro, todos iriam se estressar comigo. Levaria horas para tentar ir ao banheiro e ficaria louca se visse xixi pingado no chão — diverte-se Susana, que acompanha o reality show desde a primeira temporada.
Faltando poucos capítulos para o fim de “A regra do jogo”, a intérprete da Adisabeba já tem destino certo. Ela fará um cruzeiro para o Caribe, acompanhada por duas amigas, assim que a novela acabar.
— Vamos passar sete dias dentro de um navio rindo. Vou tomar muito sol, comer bastante, ver aquele pessoal que não me conhece, aquelas senhoras mais gordas que me acham lindíssima. Quando entro no navio, geralmente, sou a mais linda. A maioria é aquele pessoal da Flórida, abastado de gordura e dinheiro. Não tem tristeza lá. Sou sempre uma princesa para eles — diz Susana, já às gargalhadas.
A artista, no entanto, não descarta voltar logo ao vídeo. Ela entende que, como funcionária, precisa seguir os planos da empresa.
— Adoro quando as atrizes dizem que foram convidadas ou contam que negaram um papel. Acho isso de uma petulância… As pessoas me acham arrogante. Arrogância, para mim, é falar que “não vou fazer essa personagem para descansar a imagem”. Como diz Fernanda Montenegro, meu ofício é esse. Eles não me convidam, eles me escalam. É assim que vejo. Prefiro ser contratada do que dona de empresa — afirma.
Satisfeita com a vida que construiu, Susana tem orgulho da carreira e do filho, assim como dos netos. É uma mulher que gosta de si. Solteira desde o início de 2015, quando chegou ao fim o relacionamento com o ator Sandro Pedroso, de 31, ela não assumiu até hoje um novo amor. Dá a entender, no entanto, sem entrar em detalhes, que não está sozinha. No último carnaval, foi vista aos beijos com o empresário do Paraná Gui Jacob, de 35 anos.
— Mudaram muito as terminologias dessas coisas de relacionamento. Antigamente, uma coisa que era namoro virou ficar. O ficar pode ser um ano, dois ou três. Tudo isso me confunde a cabeça. Nunca sei se estou ficando, se estou namorando, se estou casada ou vivendo com alguém. Estou aberta para qualquer tipo de relação e já experimentei todos eles. Mas nunca saberei te dizer se estou ficando ou namorando — desconversa rapidamente.
Já sobre o fim de Adisabeba, a atriz faz uma divertida revelação:
— Eles tinham que ter dado o personagem do Carmo Dalla Vecchia para mim e não para aquela personagem triste (Domingas, vivida por Maeve Jinkings). Ele é um homão. Fiquei P da vida. Quando ele entrou, eu pedi para Amora (Mautner, diretora geral): “Poxa, mé dá o Carmo Dalla Vecchia. Tu vai dar para aquela triste? Me dá que você vai ver que eu resolvo todos os problemas do César”. Queria ele (risos)!