Canal mal traçou seu caminho no último trecho da transposição em PE

Na etapa final da transposição no Eixo Leste, a infraestrutura está em implantação distanciando o sonho da água potável

Por: André Clemente

José Paulo da Silva luta diariamente para levar para casa a água pouca e disputada que é retirada do poço a três quilômetros de casa

Depois de percorrer todo o traçado pernambucano do Eixo Leste da transposição, chegar a Sertânia não é tão animador. A implantação está na infraestrutura, não há canais prontos, nem sequer os quebrados de Custódia ou muito menos os reservatórios cheios de Floresta. A metros de onde será o canal, encontramos José Paulo da Silva, 55 anos, pronto para a “guerra”, como ele define. A luta quase que diária é por água, que disputa com outras pessoas do que “junta” no poço localizado a três quilômetros de casa. O terceiro dia da série “E a água chega quando?” traz a história de José Paulo, que está no fim da rota no estado, aguardando a obra cruzar 2016 e chegar por lá.

– E não tem carro-pipa, cisterna, nada? – trago exemplos dos “colegas” moradores do percurso do canal.
– Meu carro-pipa é esse aqui – diz apontando para o seu burro – “meu jumentinho… ‘Rudrigo’ o nome dele. Quem carrega água é ele” – completa.
Seu José é carpinteiro, mas se orgulha de trabalhar na construção civil, onde tira “uns mil e poucos reais” por mês fazendo pré-moldado”. Trabalha na própria obra da transposição, só que na etapa final do Eixo Leste, em Monteiro, já na Paraíba. Sai diariamente às 5h e volta para casa às 18h. Como a mulher não trabalha, as despesas da casa são todas dele. Tem três filhos, dos quais dois ainda vivem em casa.

“Essa água a gente pega num poço aqui na frente”, comenta apontando para o nada. “que vem da barragem lá de trás”, outra vez em direção a nada. “Só que é meio mundo de gente pegando água lá, todo mundo cansado no fim do dia fazendo isso. Encho tambor, balde, baldinho e trago tudo”, comenta. “Dá 250 litros desse tambor, 40 litros desses baldes… “, vai somando. “Dá uns 300 litros…”, arredonda.

– E dura quanto tempo, seu José?
– É rapido demais… a mulher coloca logo um bocado nessas plantas da casa, lava roupa, prato. O problema é que tem dia que eu não consigo encher os potes. Uns homens que criam boi e bode chegam com máquinas e é cada “lapada” que eles tiram do poço é logo de 100 litros… aí seca logo. Tira água e não sobra pra ninguém pegar. Nunca consegui encher um tanque de três mil litros que tenho em casa.

A sorte, segundo ele, é ter um primo que tem um poço em terra própria, que abre pra ele pegar quando precisa. “Muito mais longe, mas é água”.

– Mas o senhor trabalha na obra, então sabe que a água vai chegar aqui na porta. Garante?
– Se depender de mim… – assegura com um entusiasmo. “Vai ser bom demais… dá pra plantar uma fruta, uma verdura, um monte de coisa. Até capim a gente planta pra dar aos bichos. Só falta a água chegar”.

A obra da transposição tem calendário linear de entrega. Estando em Floresta, Custódia ou Sertânia, sendo no início, no meio ou no fim da obra, a previsão é entregar os 477 quilômetros de estrutura de integração do Rio São Franscisco com água até dezembro de 2016. Em seguida, a água vai ser entregue aos estados para administrar os abastecimentos por meio de adutoras e as devidas conexões por meio e sistemas de abastecimento e tratamento.
É… é ruim assim. Não tem (água) na torneira, não tem bomba, quando tem bomba, não tem água pra subir pra caixa d’água… e o dinheiro pouco não dá pra fazer nada.
– Vamos torcer, então
– Eu aviso quando (a água) chegar aqui. – promete.

Linha do tempo

2007
Início da obra com previsão de concluir em 2010

2014
Setembro
Obra chega a 63% e entra em operação assistida, com primeiros testes de captação de água no Eixo Leste, com acionamento da primeira estação de bombeamento

2015
Junho
obra chega a 75% de conclusão

2015
Agosto
Obra chega a 78% e inicia testes do Eixo Norte, com acionamento da primeira estação de bombeamento

2015
Dezembro
Obra chega a 82% de conclusão e inicia operação da segunda estação de bombeamento do Eixo Leste

2016
Janeiro (previsão) entrega da operação da segunda estação de bombeamento do Eixo Norte

2016
Março (previsão) entrega da operação da terceira estação de bombeamento do Eixo Leste, com solicitação ao Ibama para utilização da água

2016/início de 2017
Previsão oficial de conclusão da obra 

Fonte: Diário de Pernambuco

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *