Alemanha reconhece terceiro sexo
O assunto foi até agora pouco divulgado mas a mudança da lei alemã que entrará em vigor no dia primeiro de novembro próximo, com o novo parágrafo 22 do Código Civil, é vista como revolucionária. Nas certidões de nascimento das crianças que nascerem sem uma definição clara se são do sexo feminino ou masculino, poderá ser escrito “sexo indeterminado” ou seja, que a criança teria um terceiro gênero. Segundo a lei, essas pessoas poderão mais tarde optar por uma identidade sexual ou permanecer “interssexuais”.
Para Lucie Veith, presidente da Associação das Pessoas Interssexuais, a obrigatoriedade de opção por um gênero com a qual muitos pais têm sido confrontados foi frequentemente motivo de infelicidade, mais tarde, das pessoas afetadas. Veith, que é “interssexual”, é identificada no seu passaporte como do sexo feminino. Mas antes de encontrar a sua identidade de gênero, revela, passou por muitos sofrimentos.
Muitos dos 120 mil interssexuais que vivem na Alemanha foram mutilados na infância por causa da pressa dos pais e das autoridades na definição do sexo da criança. Há casos trágicos de crianças que foram operadas para ser “meninas” mas na adolescência descobriram que a sua identidade era masculina. Outras eram oficialmente do sexo masculino mas descobriram uma identidade feminina e entravam em crise existencial no corpo de um menino. A associação registrou muitos casos de tratamentos psiquiátricos e tragédias que terminaram com o suicídio.
A partir de novembro, a lei vai permitir essas operações corretivas em interssexuais só depois dos 18 anos de idade.
Lucie Veith acredita que as próximas medidas vão contribuir para a redução do preconceito que existe contra interssexuais, que costumam ser chamados de “hermafroditas”.
– A sociedade deve aceitar os interssexuais. Nós não somos doentes mas sim pessoas inteiramente normais – diz Veith. (O Globo)