‘Pelo amor de Deus não me mate”, diz vizinha de jovem morto

Em protesto contra a morte de Geraldo Antônio Freitas Neto, os moradores do Eng. Velho de Brotas fecham a Av. Vasco da Gama

Louise Lobato e Luana Amaral

“Ele tomou um susto com os tiros e saiu correndo. Desceu ribanceira abaixo para não ser atingido, e foi parar em um terreiro de candomblé. Lá, a polícia entrou e mandou todo mundo que estava dentro do terreiro sair. O menino pediu ‘pelo amor de Deus não me mate’, mas mataram”, relata uma vizinha de Geraldo Antônio Freitas Neto, 19 anos, durante ação da Polícia Militar no bairro de Engenho Velho de Brotas, na sexta-feira (18).

O ato causou indignação aos moradores do bairro, que fecharam o tráfego de veículos na avenida Vasco da Gama nesta segunda-feira (21), em protesto contra a morte do rapaz. “Eles não respeitaram nem as crianças que estavam na rua”, reclama a vizinha de Geraldo, que preferiu não se identificar.

Geraldo Antônio Neto (direita) aparece ao lado de pai em foto; jovem foi morto na sexta-feira (18)
(Foto: Reprodução/TV Bahia)

O protesto, que começou por volta das 17h no sentido Dique do Tororó, congestionou o trânsito na região da Vasco da Gama. Durante a manifestação, o grupo obstruiu a via com dois contêineres de lixo, e atearam fogo neles. As chamas foram controladas pelo Corpo de Bombeiros por volta das 19h, mas os manifestantes permanecem na via impedindo o trânsito até às 19h30.

Viaturas da 26ª Companhia Independente da Polícia Militar (CIPM/Brotas) e das Rondas Especiais (Rondesp) estiveram no local acompanhando o protesto. Segundo testemunhas, sprays de pimenta foram usados pela PM no grupo na tentativa de dispersar os manifestantes.

Um deles chegou a ser preso por suposto desacatado. A intenção do protesto, segundo os moradores do bairro, era de que ele acontecesse sem confrontos enquanto pedia a investigação da morte de Geraldo.

Moradores do Eng. Velho de Brotas fecharam a Av. Vasco da Gama em protesto contra a morte de Geraldo
(Foto: Arisson Marinho/CORREIO)

“Queremos fazer uma manifestação pacífica porque mataram um menino inocente, que nunca se envolveu com o tráfico de drogas”, comentou uma moradora do Engenho Velho da Federação, amiga da família de Geraldo, que preferiu se identificar.

“A Rondesp sempre entra aqui dando tiros, várias casas são perfuradas, e eles fazem direto este tipo de abordagem. Aqui é favela, mas não tem só vagabundo. A gente merece respeito”, disse.

Geraldo tinha 19 dias e estaria a caminho da praia com amigos quando foi baleado
(Foto: Reprodução/TV Bahia)

PM diz que investiga caso; inquérito pode sair em até 40 dias

De acordo com a Polícia Militar, equipes do Esquadrão de Motociclistas Águia passavam pelo bairro e foram acionadas por um morador que informou ter visto cerca de dez homens armados. Os policiais estiveram no local e, ao se aproximar para fazer a abordagem, foram recebidos a tiros.

Os policiais revidaram e dois homens foram atingidos. A PM afirma ainda que no local foram apreendidos um revólver 38, 40 trouxinhas de maconha e quatro pinos de cocaína. Em nota divulgada nesta segunda-feira (21), a instituição revelou que instaurou um inquérito para investigar o caso.

Leia abaixo, na íntegra, a nota enviada pela Polícia Militar:

“Informamos que o Comando do Esquadrão de Motociclistas Águia instaurou um Inquérito Policial Militar (IPM) para apurar a ocorrência da última sexta-feira (18), no Engenho Velho de Brotas, em que policiais foram recebidos a tiros e, ao revidarem, duas pessoas foram atingidas e um homem foi conduzido ao DHPP e em seguida liberado pela delegada por não haver provas contra ele de envolvimento com o crime.

A Polícia Militar ressalta que o IPM é um procedimento padrão em ocorrências policiais que resultem em auto de resistência. O IPM reúne ainda as oitivas dos policiais militares participantes e de testemunhas. O prazo inicial de apuração é de 40 dias, podendo ser prorrogável por mais 20 dias”. (Correio)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *