No dicionário de nomes próprios, Débora significa abelha laboriosa. Simbolicamente, portanto, carrega a representação da sabedoria e as qualidades de uma mulher batalhadora. Débora Nascimento parece vestir o significado de sua alcunha. Mas foi ainda sem a vivência madura e com ares de menina que ela alçou seu primeiro voo para bem longe da colmeia. Emancipada aos 15 anos, a atriz, hoje com 30, deixou a casa dos pais rumo ao exterior para trabalhar como modelo e, assim, deu asas para seus sonhos se tornarem realidade.
— Sair de casa com essa idade foi o que me amadureceu, o que me levou para a vida. Mas nunca fiz a sofrida, a necessitada de ajuda, a tonta. Eu sempre quis aprender muito, sou curiosa desde sempre — recorda ela.
A intérprete da Filomena de “Êta mundo bom”, no entanto, passou longe de ser presa fácil para armadilhas durante a fase juvenil. Na ficção, a ingenuidade levou sua personagem sonhadora a frustrações. Na vida real, Débora não deixou de ter seus anseios (veja quadro na página 22), e relembra tática para lidar com possíveis trapaceiros:
— Quando eu ouvia propostas meio malucas, fingia que não estava entendendo e saía andando. Acho que hoje em dia há pessoas de má índole assim como antigamente. Às vezes, me pego fazendo amizade ou contando coisas para alguém que depois vejo que não é bacana. Penso “ai, caramba, jura? Fui ingênua,”. Mas é melhor viver assim do que ficar sempre desconfiada.
É de olhos fechados que os amigos confiam em Débora. Seu par na novela das seis, o colega Sergio Guizé é prova disso.
— Em “Alto astral”, contracenamos pouco, mas ficamos bem próximos. Em “Êta mundo bom!”, fazemos um personagem a partir do outro, discutimos sobre as transformações dos dois, que são bem difíceis, e ainda bem que é ela ali: uma amiga para quem posso perguntar coisas do Candinho. Sei que responderá com sinceridade. Não é todo mundo que tem esse talento de querer somar. Débora é muito dedicada, não se encosta na beleza e estuda muito — frisa Guizé, seu amor na nova fase da personagem.
A mudança de Filó na novela não se restringe ao figurino chique e ao cabelo curto. Desde que se separou de Ernesto (Eriberto Leão), a mocinha romântica tem se mostrado mais decidida e dona de si.
Para sua primeira protagonista na TV, a atriz se debruça sobre as pilhas de capítulos de “Êta mundo bom” e conta com a compreensão do marido, José Loreto. Durante a entrevista com o ator para para esta reportagem, por telefone, foi possível ouvir os latidos de Brisinha e Brisona, cadelas do casal, enquanto ele passeava com as duas para Débora conseguir estudar:
— Se ela estivesse com outro ritmo, agora a gente estaria fazendo isso juntos. Mas sei que esse é o trabalho para o qual ela tem que passar mais tempo se doando. Então, tento ajudar. Em outros casos, é diferente. Por sermos da mesma área, no dia a dia, eu tento disfarçadamente tirar o foco dos assuntos profissionais, diminuir a pressão, e sugiro um cinema, por exemplo.
Os momentos a dois são muito cultivados. Foi assim, aliás, que eles decidiram celebrar uma cerimônia de casamento, sem convidados, em maio de 2015, em Dubai.
— Eu senti exatamente o que imaginei que sentiria no momento em que casasse. Foi da maneira que eu imaginei, única e mágica. A ponto de eu perceber a terra pulsar nos meus pés — suspira Débora.
O encontro de almas deixa pouco espaço a crises de ciúme exageradas, mesmo com comentários de fãs mais ousadas sobre o sex appeal do jurado do “Amor & sexo”.
— Ele é bonito e desperta o interesse das mulheres porque tem postura, cara de macho, é muito masculino. Nós, mulheres, vemos pouco isso. Mas o que algumas fãs falam nesse sentido não vai mudar nada para a gente. Ele tem acesso total as minhas coisas e vice-versa. Nosso ciúme é saudável — defende a atriz.
E, é claro, a visão que muitos homens têm sobre ela também perpassa os atributos de musa. Mas, se à primeira vista, a morena de 1,78m chama atenção pela exuberância, outros argumentos dão conta de que se estagnar atrás da boa aparência não é de seu feitio.
— A beleza não é a principal qualidade da Dé. Ela não é deslumbrada, pelo contrário. O fato de ser muito bonita não passa, de repente, essa imagem de o quão sensível e delicada ela pode ser. Sensível e forte são palavras que a descrevem muito bem. Sem contar que é muito verdadeira, a amiga que diz a real mesmo. Se achar que a gente está viajando, fala na lata. Às vezes, eu a chamo de amiga sargenta — entrega a atriz Monica Iozzi.
O aprendizado no trabalho também passa pela questão da aparência. A escolha de refutar qualquer vestígio de acomodação parece o melhor caminho.
— O que acontece com a atriz bonita? Ela precisa provar três vezes mais que é capaz. Quando a pessoa a vê, só enxerga sua beleza — argumenta a filha de um delegado e de uma esteticista, dizendo que prefere se mostrar para o público como uma mulher real: — Eu tenho defeitos, sou mulher com TPM (Tensão Pré-Menstrual), brigo com marido, tudo isso. Não sou uma deusa num pedestal. Nunca serei. Sem falar que dá a maior preguiça de interpretar mais um personagem, né?
O único papel fictício é a Filó, protagonista que Walcyr Carrasco deixou garantida para a artista desde 2014, ano em que surgiu o convite isento de testes:
— Em “Alto astral”, vi que ela estava pronta para encabeçar uma novela. Além disso, Débora tem o tipo físico ideal da morena brasileira, muito comum no interior de São Paulo. As duas coisas juntas ajudaram muito. Eu a considero perfeita como Filomena.
Nos bastidores da trama das seis, outras atrizes da novela, como Priscila Fantin, Marianna Armellini e Maria Carol Rebello passaram usar a hashtag #SomosTodasFilomena em suas redes sociais, com a intenção de associar a personagem ao movimento de identificação feminina.
— Filomena compreende que o mundo não é perfeito, mas não perde a esperança de ser feliz. A hashtag mostra que somos todas mulheres enfrentando a vida com romantismo, sem perder a força — assegura a protagonista.
Em seus posts na internet, além de fotos do seu trabalho, Débora explora artes, citações e sátiras. No Instagram, ela compartilhou uma foto com a legenda: “Minha cara de preocupação porque não tenho tanquinho na barriga ou bunda que sustenta copo”. A mensagem foi transmitida no contexto dos desfiles de carnaval. A artista explica:
— Foi um desabafo de mulher brasileira. Eventualmente, de uma mulher brasileira artista. Perguntavam se eu ia desfilar. Se eu dizia que não, já achavam que era porque eu não estava bancando o meu corpo. Nós não somos obrigadas a nada. Se eu quisesse desfilar, ia sair do jeito que eu sou: com a bunda molengueta, com celulite aparecendo. Se tenho a possibilidade de ser um exemplo natural, prefiro. O nosso país é bem machista, não só os homens, mas as próprias mulheres. É bizarro o que passamos com as cobranças.
Se na web a atriz se sente à vontade para expor seu ponto de vista, em casa não é diferente. Se o assunto é amor e sexo, tema do programa do qual participa Loreto, não existe tabu, ela garante:
— A gente traz duas vivências diferentes, de duas relações distintas com a vida. No começo, estranhávamos, mas, hoje em dia, levamos o melhor disso e crescemos juntos. Se eu tenho travas, conversamos. Se é com ele, fazemos o mesmo. O papo é reto. Até porque queremos ser pais, então tudo tem que ser bem conversado.
O ator acredita já estar preparado para ser papai. Nesta seara, a vida profissional da paulistana dita o planejamento do casal.
— Ela quer trabalhar, não adianta. Eu tenho uma ansiedade a mais, é verdade. Por enquanto, continuo curtindo meus sobrinhos, os filhos dos amigos… Entendo que, com a gravidez, eu consigo fazer tudo, mas ela teria que interromper a carreira — diz Loreto.
Os pés no chão não impedem a abelha-rainha de vibrar com suas certezas subjetivas:
— Sonho me manter feliz. Não me preocupo em ter uma casa na praia, em ganhar o Oscar… É uma questão particular. Já deu dessa hipocrisia. O que eu busco é sentir.
Atriz fala sobre situações difíceis que enfrentou e revela sonhos
Sonho que virou pesadelo “Eu queria ser magra, magérrima. Mas acabei sofrendo muito por isso. Por volta dos 15, 16 anos, fiquei doente. Tive anorexia, foi horrível. Eu me destruí para alcançar algo.”
Sonho de infância “Quando criança, desejei ser juíza, fotógrafa, jornalista… Eu queria ser tudo. Virei atriz e agora posso realizar isso com várias personagens.”
Sonho profissional “Interpretar uma monstra, uma mulher que pode até ser linda e polida, mas é horrorosa por dentro.”
Sonho romântico “Casar com José em Dubai foi a celebração do amor de todas as formas.”