Senador quer ser investigado por doações que nega ter recebido
O senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP) vai agendar encontros esta semana no Ministério da Justiça e na Procuradoria-Geral da República para pedir rigorosa investigação sobre o envolvimento de seu nome em uma lista apreendida pela Operação Lava Jato na empreiteira Odebrecht, apontando doações a 316 parlamentares e políticos de 24 diferentes partidos.
Com o ministro Eugênio Aragão, da Justiça, Randolfe vai pedir um aprofundamento das apurações da Polícia Federal sobre as denúncias envolvendo os políticos com mandato no Congresso. Com o procurador-geral Rodrigo Janot, o senador vai abrir os seus sigilos bancários, telefônicos e fiscais para permitir uma ampla investigação sobre os fatos.
“Quero que se esclareça como é que um arremedo de meu nome foi parar nessa lista”, diz Randolfe, citando a menção nos documentos da Odebrecht a “um certo ‘Randolfo’, supostamente beneficiado com um doação de R$ 450 mil nas eleições de 2012”.
O senador da Rede irá reafirmar uma questão para ele fundamental: “Todas as doações recebidas, declaradas e registradas para a última campanha que fiz, para o Senado em 2010, totalizaram exatos R$ 189.650, oriundos de pessoas físicas e pequenas empresas”.
Mais importante, reforça Randolfe: “Sequer disputei eleições em 2012 e em 2014 – anos a que se refere a lista da Odebrecht – e todas as minhas votações e proposições legislativas aqui no Senado se destinam à promoção do interesse público, nunca do privado. Nunca recebi, a título pessoal ou em campanha, nenhum valor da Odebrecht ou de qualquer outra empreiteira. Não conheço, não tenho e nunca tive contato com qualquer pessoa da referida empresa, seja de qualquer nível, e nunca agi no Parlamento para atender interesses privados de quem quer que seja”.
Contra empreiteiras
Randolfe Rodrigues sugere uma rápida pesquisa no portal do Senado para conferir sua postura distante dos interesses das grandes construtoras do País: “Fui contra a doação empresarial para campanhas políticas. Combati a Lei Geral da Copa, me opondo às isenções fiscais oferecidas às empreiteiras. Fui contra a terceirização e a flexibilização das leis trabalhistas e sempre defendi uma legislação ambiental rígida, exatamente o que mais atrapalha os projetos e interesses das grandes construtoras. Só trabalho pelos interesses de um único representado: o povo do Amapá e do Brasil”.
O portal do Senado registra que o senador votou contra a Lei Geral da Copa (Lei nº 12.663/2012) e combateu a MP 627 que concedia isenções fiscais para empreiteiras e outros segmentos empresariais: “Fomos contra, assim como fazemos em todas as matérias correlatas, quando as isenções não vêm com contrapartidas sociais ou ambientais que justifiquem a sua concessão”, complementa Randolfe. O voto contrário do senador impediu a aprovação acelerada, na Comissão Especial de Desenvolvimento Nacional, do PLS 654/2015, que permitia o chamado ‘Fast Track ambiental’, atropelando cautelas de preservação do meio ambiente que são combatidas, hoje e sempre, por todas as grandes empreiteiras – a Odebrecht, inclusive.
O recurso de Randolfe obrigou a avaliação do tema pelo plenário do Senado, impedindo a remessa do projeto ao plenário da Câmara, comandado pelo notório deputado Eduardo Cunha. Por fim, o senador votou contra as doações de empresas em campanhas eleitorais, no PLS 5735/2013, que se transformou no embrião da lei de minirreforma eleitor (Lei nº 13.165/2015).
Outra empreiteira, além da Odebrecht, tem motivos para desgostar de Randolfe Rodrigues. A OAS, que teve seu presidente, Léo Pinheiro, já condenado na Lava Jato a 16 anos de prisão por, entre outras denúncias, pagar propinas a políticos.
Um relatório de 50 páginas, com a transcrição de mensagens via celular entre Pinheiro e seus executivos, mostra claramente a ingerência da OAS sobre a pauta do Congresso. Na reportagem de capa da edição de 10 de fevereiro passado da revista IstoÉ, sob o título “Renan e o empreiteiro”, os repórteres Marcelo Rocha e Débora Bergamasco relatam que Pinheiro e seu principal lobista em Brasília, Alexandre Grangeiro, teriam um encontro às 11h da manhã de domingo, 15 de setembro de 2013, na residência oficial do presidente do Senado, Renan Calheiros, com o dono da casa. Tema da conversa, segundo a revista: “A reunião serviu para que os três combinassem o arquivamento de uma proposta que a empreiteira não gostaria que prosperasse na Casa”.
Interesses contrariados
Trecho da reportagem de capa da IstoÉ: “Para identificar o que tanto interessava à OAS àquela altura, a Lava Jato cruzou as datas das mensagens trocadas pelo celular com os temas em discussão no Senado durante aqueles dias. Bingo! Os investigadores descobriram que tramitava na Casa um assunto essencial para empreiteira: o projeto que acabava com as doações eleitorais de empresas. De iniciativa do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), a proposta fez parte de uma minirreforma política em apreciação na Casa como resposta às manifestações populares que ocorreram em junho daquele ano. O tema não interessava a empresários e muito menos aos políticos. Por isso, a importância para a OAS do seu engavetamento. Naquele momento, a Lava Jato não era uma realidade.”
O senador Randolfe Rodrigues destaca o fato de que, com apenas dois anos de vida — completados em 17 de março passado —, a Lava Jato tenha se tornado a maior operação de combate à corrupção da história do Brasil. “Os interesses contrariados e os personagens antes intocáveis que são alvos da investigação mostram que o Brasil era um, antes da Lava Jato, e será outro, bem melhor, depois dela. Por isso, é importante manter a vigília e cuidar para que pessoas mal intencionadas não impeçam ou desfaçam o histórico trabalho de faxina executada sem vacilação pela força-tarefa sob o comando do juiz Sérgio Moro”, completa Randolfe Rodrigues.