Glossário literário-corporativo
Conto – Tem dois sentidos básicos. Como substantivo, arcaico, quer dizer uma soma de mil vezes a unidade monetária, isto é, “mil reais” ou, modernamente, “mil dólares”. Como verbo, é aquilo que se diz quando um diretor financeiro é apanhado desviando dinheiro: “Se eu não levar algum, conto”. Raramente falha: o segundo conto costuma render ao contista um belo múltiplo do primeiro. Mas a palavra está em desuso. Deve-se preferir grand para a primeira acepção e tell para a segunda.
Fábula – Muito dinheiro. Aquilo que o mercado financeiro ganha e perde, por exemplo, a cada suspiro do Federal Reserve. Arcaico. Prefira-se lotsa money.
Ficção – Método aprimorado em Wall Street para a confecção de balanços financeiros de grandes corporações e adotado com talento pela equipe econômica brasileira. Palavra em desuso. Prefira-se lotsa lies.
Lirismo – Obsessão doentia pelo acúmulo de fortuna em lira, a moeda italiana. Do ponto de vista estritamente monetário, não faz sentido.
Novela – Programa televisivo de alto retorno publicitário, ideal para abrigar anúncios de empresas que desejem atingir a classe C. A classe D também vê muita novela, mas seu poder de compra é aquele que se sabe. Significa ainda, em acepção figurada, algo que se arrasta interminavelmente, como os processos contra políticos e empresários por crimes de corrupção e contra a economia popular. A palavra vai caindo em desuso entre nós: o executivo moderno deve preferir soap opera.
Pé quebrado – O mesmo que broken foot. Problema que costuma acometer executivos de férias em Aspen.
Prosa – Diz-se do jovem executivo que acabou de juntar seu primeiro milhão de dólares: “Ele está prosa”. Anda fora de moda. Melhor substituir por proud.
Rima – Sigla de Relatório de Impacto Ambiental, invenção de ecologistas desocupados para, em nome da preservação de matinhos, dificultar a aprovação de grandes projetos de desenvolvimento e a consequente concretização de lucros. O péssimo conceito de que goza junto às classes empreendedoras é traduzido na máxima “seria um Rima, não seria uma solução”. Palavra ultrapassada. Modernamente, usa-se EIS, Environmental Impact Statement.
Romance – Coisa perigosa no ambiente corporativo, especialmente se um dos parceiros for subordinado ao outro. Se dá certo, provoca mal-entendidos com funcionários excluídos da bocada e uma mistura inadmissível de questões pessoais e profissionais, com impacto nos lucros. Se não dá certo, provoca processos de assédio sexual, com impacto na imagem da empresa e, portanto, nos lucros. Palavra em desuso. Melhor usar affair.
Verso – Local do cheque que se usa para endossá-lo. Prefira-se back.
Fonte: Veja