Deputado usa lança confete durante a votação do processo de impeachment na Câmara

Márcio Didier

Quem ficou horrorizado com a performance dos deputados federais durante a votação da admissibilidade do impeachment da presidente Dilma Rousseff não prestou atenção ao que a Casa Baixa fez desde a vitória de Eduardo Cunha, no dia 1º de fevereiro de 2015.

Aqueles pronunciamentos que flertavam com o patético, e por vezes lembravam o “Xou da Xuxa”, tamanho o número de beijinhos e lembranças enviadas a familiares, refletem pura e simplesmente o nível cada vez mais baixo dos legislativos brasileiros.

Pautas conversadoras deixaram o esquecimento a que eram relegadas, com tramitação travada há anos, para tornarem-se o centro do debate. Sob a batuta de Eduardo Cunha, a Câmara retomou, por exemplo, o debate sobre a redução da maioridade penal, que dormia nos arquivos da Casa há 22 anos.

A matéria foi aprovada em dois turnos graças aos deputados da chamada bancada BBB – Boi (parlamentares ruralistas), Bala (ligados à segurança pública) e Bíblia (formada por evangélicos), que não só apoiam sem qualquer constrangimento a pauta encaminhada por Cunha, como contribuem para acelerar a votação.

Mas não foi só isso que a Câmara debateu. Sempre como uma espécie de cortina de fumaça erguida pelo presidente da Casa para desviar a atenção das acusações a que era investigado, Eduardo Cunha colocou em debate a revisão do Estatuto do Desarmamento; chancelou o Estatuto da Família; avançou com uma lei que dificulta o aborto de mulheres vítimas de violência sexual; e trouxe para o debate a proposta que modifica a forma como são feitas as demarcações de terras indígenas no país.

Tudo isso na cara da sociedade. Tudo isso com a cumplicidade cômoda de uma sociedade indiferente aos debates, que agora, questiona o nível da nossa principal Casa de representação popular.

O alerta foi dado nesse domingo (17) da forma mais objetiva possível, ao vivo em TV aberta. Apesar disso, o deputado mais aplaudido no plenário e nas ruas pelo País foi Jair Bolsonaro, exatamente o que exaltou a figura do primeiro militar considerado torturador pela Justiça brasileira, em 2008, o general Brilhante Ustra.

Sinal de que a indignação seletiva sempre e cada vez mais fala mais alto na sociedade.